por Anderson Rodrigo Oliveira

Em âmbito geral, consciência significa o pensar com, compreender com. Dentro da teoria moral, consciência é uma função que permite ao ser humano distinguir entre o que é bom e o que é mal. Nesse sentido, a consciência é, a todo momento, provocada por interações maiores que ela. A partir das ciências naturais, da neurociência, entre outras, fala-se de uma consciência a nível cerebral. Desse modo, as patologias cerebrais influenciam nas interações que a consciência realiza: seja consigo mesmo, com a sociedade, com a igreja etc. Para os neurocientistas, a consciência depende, então, do estado do cérebro, o que nos leva a questionar o que é a consciência de Deus, de pecado, de transcendência etc.

A compreensão das coisas depende do cérebro de cada um. Então, como falar de uma consciência moral crítica? Como podemos controlar a consciência? Parece-nos que relativizamos a visão que temos sobre cultura, sobre sociedade, sobre religião etc.

Vivemos num mundo que apresenta poderes totalitários. A consciência depende do que recebemos dos que detém os poderes totalitários, no caso da elite, que domina os meios, seja a tecnologia, a mídia, a comunicação... Isso influencia também nas nossas atitudes morais e da consciência temos delas. Hoje tudo parece estar em vista de um mercado de consumo, de mercadorias. Um clássico exemplo é a beleza. Coloca-se a beleza como algo a ser alcançado por todos.

Quando falamos de consciência moral, necessariamente pensamos no como agir. Isso, claro, deve estar à luz de um contexto, sob uma responsabilidade social, uma justiça e uma utopia da alteridade (valorização do outro). Como uma consciência moral ética pode apontar para uma prática coerente com a consciência moral? Há que se trabalhar para a construção de uma consciência moral ética sem receber ideologias enlatadas, prontas.

Uma consciência crítica desalienada constrói, analisa, critica a realidade. Através da analise, ela critica e denuncia, construindo uma nova realidade. a modernidade se identifica com o surgimento da consciência. Haja vista o tempo do iluminismo, do Renascimento, e suas críticas da realidade.

A consciência nasce num mundo de criatividade, saindo do repetitivo, dos modismos, do corriqueiro. Ao cair nos modismos, não se notam parâmetros de limites. Tudo se transforma com rapidez e velocidade assustadoras. A consciência moral não aceito o legalismo, segundo os valores de hoje. A consciência tem outros valores para bem, justiça, verdade, responsabilidade etc.

A consciência crítica é a capacidade de apreciar as atitudes não só do outro, mas as próprias. É a capacidade de julgar as decisões tomadas, de ter a consciência de si mesmo, de seus projetos e sonhos, pensados com responsabilidade. Consciência é tudo que existe no contexto de cada sujeito, que nos leva a vivenciar o amor, a liberdade, pois não deve aprisionar. Assim a consciência moral tem que se opor à alienação, à ingenuidade, ao aprisionamento dos que têm poderes.

A consciência funciona a partir do enfoque mental. Tem dificuldades em entender e compreender o que está do lado de fora da objetividade. O objetivo assume a condição da coisa-em-si. Na objetividade as coisas existem independentemente de nós mesmos. O momento do objeto é fixista, trabalha as relações consigo mesmo, com o outro, com a natureza, com a sociedade. O sujeito se compreende como distante do objeto, devendo conformar-se com a realidade. A imoralidade nasce com a conformidade da realidade, com a norma, a regra.

O ser humano, inserido em uma família, em uma comunidade, sociedade, em um contexto, desenvolve uma consciência que se desdobra num círculo de idéias, que tem teorias e práticas. Para alguns, fica-se mais nas teorias, para outros, mais nas práticas. Assim, a consciência é interpretação, é solução (ou ajuda a encontrá-la), é compreensão do que acontece no mundo. A nova realidade deve apontar a consciência a uma nova vida. Repetir respostas de perguntas antigas para perguntas novas já não mais é correspondido. Por isso, para se pensar novas respostas é importante levantar suspeitas. E o papel de um filósofo, de um moralista, não no sentido pejorativo da palavra, mas daquele que estuda a moralidade, é inquietar, é levantar dúvidas, levantar suspeitas para gerar novos pensamentos. Para tanto, precisa-se ter um grau de criticidade muito grande e ser conscientes de que o saber não é algo pronto, de que não se tem um conhecimento acabado. Ele está sempre em construção.

A própria capacidade pessoal de cada um, nossas praticidades para as coisas (para o fazer, o agir, o pensar) também têm que ser colocadas em suspenso. Assim, a consciência pode sair de seu lugar confortável para adquirir novos horizontes, novos limites, mais amplitude.

Viver sempre com o mesmo nos acomoda, nos aquieta, nos conforta. Isso nos impede a buscar ou mesmo a ter medo do que é novo. A mudança, para muitos, torna-se algo doloroso. Há que se confrontar as opiniões, colocar a consciência em debate com outras consciências, para que se possam rever as posturas e chegar a uma conclusão nova ou pelo menos mais clara ou mais racional que a que se tinha. Por isso, abrir-se para os questionamentos ajuda a entender e interpretar a realidade em que estamos. Não se pode deixar que a consciência acomode-se, principalmente, no poder. Temos uma grande tendência, quando no poder, de evitar as interpelações, os atritos e os conflitos para não se perder o status quo. O efeito que se gera de tais posturas é o que chamamos de autoritarismo e intolerância ao outro, impedindo que este questione, proponha, ajude a inovar.

Quem não abre sua consciência, fecha-se ainda mais em seu autoritarismo. Não se criam os diálogos, a intransigência é dominante e a consciência não encontra espaços para crescer sabiamente. São as mudanças que promovem diálogos, enriquecimento da sabedoria. Dessa forma, uma consciência fechada transmite conforto, tranqüilidade, acomodação, mas também despreza e desvaloriza a validade e a autenticidade do outro. Aqui abrem-se grandes sentimentos para racismos, pré-conceitos, xenofobias entre outros.

Entretanto, nem toda divergência permite uma mudança. A busca de um meio termo é importante nesses casos, pois o laxismo (deixar-se fazer do modo que mais convir, sem se preocupar tanto com a ordem e o dever, mas fazer como se quer, quando se quer e para quem se quer) também acarreta em comodismo. Nesse sentido, tem-se uma falsa sensação de liberdade de escolha. Portanto, a consciência não se forma fora da divergência.