sábado, 28 de novembro de 2009

Método da Filosofia

· O MÉTODO E OS PROBLEMAS

Método - do grego methodos significa caminho para chegar a um fim.

Todo método, seja na filosofia ou em qualquer outro campo, tem por finalidade formular ou tentar afirmações, previsões e explicações, e, no caso específico da filosofia, descobrir meios de chegar a uma reflexão mais precisa e eficaz sobre o eu, o outro e o mundo da natureza.

Entretanto, os métodos úteis para solucionar um certo conjunto de problemas podem ser totalmente ineficazes para solucionar outros conjuntos.

Lembremo-nos, porém, de que ainda há problemas para os quais não se conseguiu nenhum método capaz de proporcionar uma solução (1).

· DIALÉTICA

Sócrates inaugura o método quando institui a maiêutica, ou seja, a arte de perguntar.

Platão aperfeiçoa a maiêutica de Sócrates e a transforma no que ele chama dialética.

A dialética platônica conserva a idéia de que o método filosófico é uma contraposição, não de opiniões distintas, mas de uma opinião e a crítica da mesma. Conserva pois, a idéia de que é preciso partir de uma hipótese primeira e depois ir melhorando, à força das críticas que se lhe fizerem.

Em Hegel, abrange três momentos: 1º) o positivo, da unidade; 2º) o negativo, da divisão; 3º) o da nova unidade. Este processo renova-se constantemente. Exemplo: posição - botão; divisão - flor; nova unidade - fruto (2).

· A LÓGICA E A DISPUTA

Aristóteles atenta para este movimento da razão intuitiva que passa, por meio da contraposição de opiniões, de uma afirmação à seguinte e desta à seguinte.

Esforça-se para encontrar a lei em virtude da qual, de uma afirmação passamos à seguinte.

As leis do silogismo, suas formas, suas figuras, são, pois, o desenvolvimento que Aristóteles faz da dialética.

Esta concepção da lógica como método da filosofia é herdada de Aristóteles pelos filósofos da Idade Média, os quais a aplicam com um rigor extraordinário.

O método que seguem os filósofos da Idade Média não é somente, como em Aristóteles, a dedução, a intuição racional, mas também a contraposição de opiniões divergentes. Por isso, a disputa (2).

· DÚVIDA HIPERBÓLICA

Paradoxalmente, é o caminho da dúvida que leva Descartes ao método que nos conduz ao conhecimento de todas as coisas.

Descartes parte da seguinte idéia: aquilo que nos enganou, mesmo uma só vez, nunca mais merece a nossa confiança, tornando-se duvidoso. Aquilo que é duvidoso deve ser considerado como falso, pois a realidade só comporta dois valores: o verdadeiro ou falso.

Duvida de tudo. A dúvida, no caso, será sistemática e geral, mas não cética, pois o projeto de Descartes não visa a fechar-se dentro da dúvida, mas antes utilizá-la como instrumento para superar a própria dúvida (1).

· A FENOMENOLOGIA COMO MÉTODO

O método fenomenológico, que encontra a sua primeira formulação em Edmund Husserl, tem por intuito primeiro elaborar uma descrição rigorosa da realidade.

A essa realidade Husserl chama fenômeno, aquilo que se oferece à minha observação intelectual, isto é, à observação pura.

Para poder chegar a essa observação pura é necessário deixar de lado todas as idéias preconcebidas, todos os preconceitos, tudo aquilo que ouvimos dizer, tudo aquilo que lemos a respeito (1).

O MÉTODO

Método - do grego methodos significa caminho para se chegar a um fim. Todo método, seja em Filosofia ou em qualquer outro campo, tem por finalidade formular e tentar afirmações, explicações e previsões, com o intuito de descobrir a verdade, contrapondo-se ao erro. Na ciência, utilizamos o método positivo; em filosofia, o método especulativo. Qual o alcance dessa diferença metodológica?

A intuição mística é, muitas vezes, cogitada na especulação filosófica. Não podemos desprezá-la de todo pois o sentimento com relação ao Ser Supremo pode perfeitamente conter parte da verdade. A dificuldade em aceitá-la como método filosófico está no fato de que essa faculdade extra-racional e extra-empírica oferece pouca ou nenhuma garantia de rigor e precisão que o referido método filosófico exige.

A dialética hegeliana, o transcendentalismo de Kant e a fenomenologia descritiva de Husserl constituem os três mais importantes métodos para superar o método filosófico clássico, baseado no empirismo e no racionalismo. Partem de um conhecimento a priori, puro. Eles, porém, não explicam com clareza como chegam a essa pureza do conhecimento. Por isso, os críticos alimentam sérias dúvidas quanto ao êxito desses ensaios, preferindo a opinião de que não passam de formas disfarçadas do método empírico e do método racionalista.

A axiomática hilbertiana possibilitou nova dimensão à técnica reflexiva da filosofia. Segundo as próprias palavras de Hilbert, tudo que pode ser motivo do pensamento científico recai, desde que se integre na estrutura de uma teoria, sob o domínio da axiomática e, portanto, da matemática. É que toda a teoria, segundo ele, é edificada sobre os indemonstráveis (axiomas). Por isso, a suspeita com relação à garantia do conhecimento a priori.

A criação do sistema especulativo, entretanto, é uma atividade puramente estética que não se submete a preceitos racionais. Nada disso porém deverá impedir-nos de reter, apenas os axiomas arbitrariamente escolhidos dos que se mostram mais fecundos no curso do pensamento e do raciocínio abstrato. Desta forma, são a experiência e razão (não o empirismo ou o racionalismo) que devem constituir o critério para o julgamento crítico do valor de nossas proposições.

A especulação filosófica, como vimos, exige o exercício do bom senso. Urge estarmos sempre alerta para não cairmos na mitificação do conhecimento.

QUESTÕES

1) Qual o significado de método?

2) Qual o conceito de dialética?

3) Como Platão aperfeiçoa a maiêutica socrática?

4) No que consiste o método da disputa?

5) Como você explica a dúvida hiperbólica?

6) O que é fenomenologia como método?

TEMAS PARA DEBATE

1) A intuição mística é aceitável como método da filosofia?

2) A tese do conhecimento a priori, defendida por Kant, Husserl e Hegel supera o método baseado no empirismo e no racionalismo?

3) Experiência e razão (não o empirismo ou o racionalismo) devem constituir o critério para o julgamento crítico do valor de nossas proposições. Comente.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

(1) GILES, T. R. O que é Filosofar?

(2) GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia.

Fonte: http://www.ceismael.com.br/download/apostila/apostife.htm#O%20M%C3%89TODO%20DA%20FILOSOFIA

Imagem em: filosofandoehistoriando.blogspot.com/2009_08_..

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Dia Mundial da Filosofia no Loucuras Filosóficas do Alexandrelli - JustTV - 19 11 09

No décimo quarto programa no dia 19 de Novembro de 2009, Paulo Ghiraldelli Jr e Alexandrelli debatem a importância da filosofia e em que ela consiste. Você realmente sabe o que é filosofia? Por que ainda filosofamos? Confira:
Assista TV pela internet, http://www.justtv.com.br. Fabio Alexandrelli apresenta o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., O Filósofo da Cidade de São Paulo e ambos discutem sobre diversos temas filosóficos. Seus neurônios nunca mais farão sinapses da mesma cor. Na Just TV: http://www.justtv.com.br (direto online no seu PC) . Programa transmitido ao vivo todas as quintas às 19h. Programa exibido dia 19/11/09 Powered By http://www.Goorila.com.br
Acesse e participe da Rede Social do Filósofo Professor Paulo Ghiraldelli Jr.
Rede: http://ghiraldelli.ning.com
Portal: http://filosofia.pro.br
Blog: http://ghiraldelli.pro.br
Twitter: http://twitter.com/ghiraldelli

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CONCEITO DE FILOSOFIA

CONCEITO E DEFINIÇÃO

Conceito - do latim conceptu - representação de um objeto pelo pensamento, por meio de suas características gerais.

Definição - do latim definitione. Definir, segundo a lógica formal, é dizer o que a coisa é, com base no gênero próximo e na diferença específica. É enunciar os atributos essenciais específicos de um objeto ou o sentido de um conceito, seu conteúdo e limite, de modo que o torna inconfundível com o outro (1).

O conceito de Filosofia deve ser enunciado de acordo com a época histórica: Antigüidade - os filósofos; Idade Média - os sistemas doutrinários; Idade Moderna e Contemporânea - os problemas.

O PROBLEMA DO CONCEITO DE FILOSOFIA

Colocar o problema do conceito de filosofia é procurar determinar em que termos a filosofia poderá ter assegurada sua autonomia.

O verdadeiro conceito da filosofia deve atender conformemente a quatro problemas específicos:

1º) o da atitude filosófica;

2º) o do objeto da filosofia;

3º) o do método da filosofia;

4º) o do fim da filosofia.

O pensamento grego foi quem melhor se encaminhou para esta visão completa da filosofia (2).

DEFINIÇÃO DE FILOSOFIA

Filosofia - do grego philos e sophia significa “amor à sabedoria”. Filósofo é, portanto, o amante da sabedoria.

Com o decorrer do tempo, entretanto, a palavra filosofia foi perdendo esse seu significado etimológico.

Na própria Grécia Antiga o termo filosofia passou a designar não apenas o amor ou a procura da sabedoria, mas um tipo especial de sabedoria. Aquela que nasce do uso metódico da razão, da investigação racional em busca do conhecimento(3).

A FILOSOFIA ANTIGA

Platão distingue a doxa, opinião, ou seja, o saber que temos sem tê-lo procurado, e a episteme, a ciência, que é o saber que temos porque o procuramos.

Então, a filosofia já não significa “amor à sabedoria”, nem tampouco significa o saber em geral, qualquer saber; senão que significa esse saber especial que temos, que adquirimos depois de tê-lo procurado e de tê-lo procurado metodicamente.

Na filosofia, distinguem-se, ainda, diferentes partes. Na época de Aristóteles, a divisão era: lógica, física, metafísica e ética (4).

A FILOSOFIA NA IDADE MÉDIA

Durante a Idade Média o saber humano dividiu-se em dois grandes setores: teologia e filosofia.

A teologia é o conhecimento acerca de Deus.

A filosofia são os conhecimentos humanos acerca das coisas e da Natureza e até mesmo de Deus por via racional.

Nesta situação a palavra “filosofia” continua designando todo o conhecimento, menos o de Deus. E assim adentrou muito o século XVII (4).

A FILOSOFIA NA ATUALIDADE

A partir do século XVII, o campo imenso da filosofia começa a partir-se. Saem do seio da filosofia as ciências particulares: as matemáticas, física, química etc.

Assim, atualmente, a filosofia é uma ciência que estuda as leis mais gerais do ser, do pensamento, do conhecimento e da ação. É uma concepção científica do mundo como um todo, da qual se pode deduzir certa forma de conduta (5).

CONCEITO DE FILOSOFIA

O conceito de Filosofia deve ser elaborado de acordo com as características filosóficas de um determinado período de tempo, no curso de sua história. Na Antigüidade, os filósofos; na Idade Média, a Escolástica; na Atualidade, os problemas.

Os filósofos gregos da Antigüidade fornecem-nos uma visão completa da Filosofia. A atitude desinteressada na busca do conhecimento objetivava à última redução do real, sem compromissos particulares e limitados. Utilizavam o método demonstrativo não apenas aplicando a um plano lógico, mas metafísico. A finalidade era favorecer a reta razão, a perfeição interior e a autoconsciência do homem.

Na Idade Média não existia uma Filosofia mas correntes de opiniões, doutrinas e teorias, denominadas de Escolástica. Santo Tomás de Aquino e Santo Agostinho são seus principais representantes. Buscava-se conciliar fé com razão. O método utilizado é o da disputa: baseando-se no silogismo aristotélico, partiam de uma intuição primária e, através da controvérsia, caminhavam até às últimas conseqüências do tema proposto. A finalidade era o desenvolvimento do raciocínio lógico.

Na Idade Moderna, as ciências se desprendem do tronco comum da Filosofia. Restam à Filosofia as reflexões sobre a Ontologia ou Teoria do Ser, a Gnoseologia ou Teoria do Conhecimento e a Axiologia ou Teoria dos Valores. O método utilizado é o da intuição: intelectual, emotiva e volitiva. Discutem-se problemas relacionados ao ser, ao pensamento e à conexão entre ambos. A finalidade é a transformação da sociedade pela autoconsciência do indivíduo.

A atitude, o método, o objeto e a finalidade da Filosofia mudam-se no decorrer de sua história. Hoje, já não comporta as cogitações metafísicas e transcendentais, divorciadas da realidade e da vida social. Há que se pensar em transformar a sociedade, oferecendo-lhe subsídios para uma vivência plena e participativa dos indivíduos que a compõem.

Desta forma, o conceito atual de Filosofia fundamenta-se no estudo da essência e do valor de todas as coisas: cosmos, vida, sociedade, natureza. É uma reflexão critica sobre o “eu”, o “nós” e a “natureza”, com a finalidade de tornar mais humana a vida social.

QUESTÕES

1) Qual o significado de conceito?

2) Qual o significado de definição?

3) Qual o conceito de filosofia?

4) Qual o conceito de filosofia na Idade Média?

5) Qual o conceito de filosofia na atualidade?

TEMAS PARA DEBATE

1)A partir da Idade Moderna, a extensão do conhecimento filosófico tendeu a reduzir-se ou a ampliar-se?

2) O método da disputa usado na Idade Média tem utilidade para a Filosofia Moderna?

3) A filosofia é uma reflexão crítica sobre o “eu”, o “nós” e a “natureza”. Comente.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

(1) BAZARIAN, J. Introdução à Sociologia.

(2) MENDONÇA, E. P. de. O Problema do Conceito de Filosofia.

(3) COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia.

(4) GARCIA MORENTE, M. Fundamentos de Filosofia.

(5) BAZARIAN, J. O Problema da Verdade.

Por Sérgio Biagi Gregório

Fonte:http://www.ceismael.com.br/

domingo, 22 de novembro de 2009

VOCABULÁRIO FILOSÓFICO

“A Posteriori” - Aquilo que é estabelecido e afirmado em virtude da experiência.

“A Priori” - Independente da experiência sensível

Absoluto - O que não comporta nenhuma limitação, restrição ou dependência. O contrário de relativo.

Abstração - Operação pela qual o espírito separa mentalmente coisas de fato inseparáveis.

Abstrato - O que resulta de uma abstração. O contrário de concreto.

Acidente - O que pode ser modificado ou suprimido sem que a coisa em que existe mude de natureza ou desapareça.

Análise - Operação pela qual o espírito vai do composto ao simples, do todo para suas partes componentes.

Analogia - Argumentação pela semelhança, segundo a qual, do fato de um atributo convir a um sujeito, se deduz a sua conveniência com um sujeito semelhante.

Antropocentrismo - Doutrina que coloca o homem no centro do universo e medida de todas as coisas.

Antropomorfismo - Doutrina que representa todos os seres tomando por modelo a natureza humana.

Argumento - É a expressão verbal de um raciocínio.

Automatismo - Movimento que escapa à direção dos centros superiores. Atividade psíquica inconsciente.

Axiologia - Teoria dos valores em geral, especialmente dos valores morais (do grego “axios”: valioso, desejável, estimado)

Axioma - Verdade que não se precisa demonstrar, por ser evidente por si mesma.

Belo - No sentido objetivo, é o esplendor do ser. No sentido subjetivo, é aquilo cuja contemplação causa prazer.

Bem - Aquilo que possui um valor moral positivo, constituindo o objeto ou o fim da ação humana.

Ceticismo - Concepção filosófica segundo a qual o conhecimento certo e definitivo sobre algo pode ser buscado, mas não atingido.

Ciência - Objetivamente, é um conjunto de verdades certas, logicamente encadeadas entre si, de modo a fornecer um sistema coerente. Subjetivamente, é um conhecimento certo das coisas por suas causas ou por seus princípios.

Conceito - Representação intelectual de um objeto. O mesmo que idéia ou noção.

Concreto - Aquilo que é efetivamente real ou determinado.

Conhecimento - Apropriação intelectual de determinado campo empírico ou ideal de dados, tendo em vista dominá-los e utilizá-los.

Conotação - Significado segundo, figurado, às vezes subjetivo, dependente de experiência pessoal de um signo.

Consciência - Em moral, é a faculdade que o homem tem de julgar o valor moral dos seus atos.

Contradição - Ato de afirmar e de negar, ao mesmo tempo, uma mesma coisa.

Cosmo - Designa o mundo enquanto ele é ordenado e se opõe ao caos: mundo considerado como um todo organizado, como uma ordem hierarquizada e harmoniosa.

Cosmogonia - Teoria sobre a origem do universo geralmente fundada em lendas ou em mitos e ligada a uma metafísica.

Cosmologia - Parte da filosofia que tem por objeto o estudo do mundo exterior, isto é, da essência da matéria e da vida.

Crítica - Atitude que consiste em separar o que é verdadeiro do que é falso, o que é legítimo do que é ilegítimo, o que é certo do que é verossímil.

Dedução - Raciocínio que nos permite tirar de uma ou várias proposições uma conclusão que delas decorre logicamente.

Definição - Do latim definitione. Definir, segundo a lógica formal, é dizer o que a coisa é, com base no gênero próximo e na diferença específica.

Denotação - Significado primeiro e imediato de um signo (palavra, imagem etc.). Ver conotação.

Dever - Necessidade de realizar uma ação por respeito à lei civil ou moral.

Devir - Transformação incessante e permanente pela qual as coisas se constróem e se dissolvem noutras coisas através do tempo.

Dialética - Arte de discutir; tensão entre os opostos.

Dogma - Em filosofia, doutrina ou opinião filosófica transmitida de modo impositivo e sem contestação por uma escola ou corrente filosófica. Em religião, doutrina religiosa fundada numa verdade revelada e que exige o acatamento e a aceitação dos fiéis. No catolicismo, o dogma possui duas fontes: as Escrituras e a autoridade da Igreja.

Dogmatismo - Doutrina dos que pretendem basear seus postulados apenas na autoridade, sem admitir crítica nem discussão.

Doutrina - Conjunto de princípios, de idéias, que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico ou científico.

Doxa - Em grego significa opinião, juízo, ponto de vista, crença filosófica e também a fama, a glória humana.

Dúvida - Estado da mente em que não há assentimento firme sobre um juízo, por que se teme ser falso.

Dúvida Hiperbólica - Método de conhecimento que tem por objetivo descobrir a verdade (Descartes).

Empirismo - Caráter comum dos sistemas filosóficos que consideram a experiência como único critério de verdade.

Epifenômeno - Concepção que faz da consciência um fenômeno acessório e secundário, um simples reflexo, sem influência sobre os fatos de pensamento e conduta.

Epistemologia - (episteme, “ciência”): estudo do conhecimento científico do ponto de vista crítico, isto é, do seu valor; crítica da ciência; teoria do conhecimento.

Erro - É o conhecimento que não reflete fielmente a realidade e por isso mesmo não corresponde à realidade.

Escatologia - Doutrina que diz respeito aos fins últimos da humanidade, da natureza ou do indivíduo depois da morte.

Escolástica - Escola filosófica da Idade Média, cujo principal representante é Santo Tomás de Aquino. No sentido pejorativo, que decorre da escolástica decadente, o termo escolástico se refere a todo pensamento formal, verbal, estagnado nos quadros tradicionais.

Esotérico - Todo o ensinamento ministrado a círculo restrito e fechado de ouvintes. Saber secreto. Em oposição, exotérico é o saber público, aberto a todos.

Essência - Aquilo que a coisa é ou que faz dela aquilo que ela é.

Eternidade - Caráter do ser subtraído à mudança e ao tempo. Posse indivisível, perfeita e simultânea de uma vida sem fim.

Ética - Parte da Filosofia que se ocupa com o valor do comportamento humano. Investiga o sentido que o homem imprime à sua conduta para ser verdadeiramente feliz.

Evidente - Aquilo que se impõe a nós de modo direto e imediato.

Existência - O fato de a coisa estar aí, sem necessidade, de modo contingente (existencialismo).

Existencialismo - Conjunto de doutrinas que se opõem ao racionalismo e ao idealismo e que admitem que o objeto próprio da filosofia é a realidade existencial, isto é, existência concreta e vivida, e que o único meio que possuímos para entrar em contato com ela consiste no sentimento ou emoção

Facticidade - Caráter do que existe como puro fato.

Fato social - São todas as formas de associações e as maneiras de agir, sentir e pensar, padronizadas e socialmente sancionadas.

Fenômeno - Aquilo que se oferece à observação intelectual, isto é, à observação pura

Fenomenologia - No sentido geral, é o estudo descritivo de um conjunto de fenômenos tais como se manifestam no tempo ou no espaço, em oposição às leis abstratas e fixas desses.

Fideísmo - Doutrina segundo a qual as verdades fundamentais da ordem especulativa ou da ordem prática não devem ser justificadas pela razão, mas simplesmente aceitas como objeto de pura crença.

Filosofia - Sistema de conhecimentos naturais, metodicamente adquiridos e ordenados que tende a explicar todas as coisas por seus primeiros princípios e suas razões fundamentais.

Fim - Via de regra, na terminologia filosófica, este vocábulo não designa o mero termo, ou seja, o último de uma série, mas sim “aquilo pelo qual (id, propter quod) alguma coisa existe ou se faz (fit).

Gnose - Conhecimento esotérico e perfeito das coisas divinas pela qual se pretende explicar o sentido profundo de todas as religiões.

Gnoseologia - Teoria do conhecimento que tem por objetivo buscar a origem, a natureza, o valor e os limites da faculdade de conhecer.

Hermenêutica - Parte da crítica histórica que consiste em decifrar, traduzir e interpretar os textos antigos.

Heterodoxia - Crença contrária aos princípios aceitos na época.

Heurístico - Aquilo que se refere à descoberta e serve de idéia diretriz numa pesquisa. Um método é heurístico quando leva o aluno a descobrir aquilo que se pretende que ele aprenda.

Ideal - O que se concebe como um tipo perfeito.

Idealismo - Caráter geral dos sistemas filosóficos que negam a objetividade do conhecimento e reduzem o ser ao pensamento.

Idéia - Representação intelectual de um objeto.

Imagem - Representação sensível de um objeto.

Imaginação - Faculdade de representar ou de combinar imagens.

Imanente - O que está contido na natureza de um ser.

Inato - Tudo aquilo que existe num ser desde seu surgimento e que pertence à sua natureza. opõe-se a adquirido, aprendido.

Indeterminismo - Doutrina segundo a qual o homem é dotado de livre-arbítrio.

Indução - Raciocínio ou forma de conhecimento pelo qual passamos do particular ao universal, do especial ao geral, do conhecimento dos fatos ao conhecimento das leis.

Instinto - Atividade automática, existente sobretudo no animal, caracterizada por um conjunto de reações bem determinadas hereditárias, específicas, idênticas na espécie. Não confundir com intuição.

Intuição - Forma de conhecimento que permite à mente captar algo de modo direto e imediato.

Inútil - Significa o que não tem um fim noutro, ou seja, não tem fim algum, ou tem um fim em si mesmo.

Juízo - Faculdade ou ato de julgar, de afirmar relações de conveniência ou desconveniências entre duas idéias.

Justiça - No sentido restrito, é a constante e perpétua vontade de conceder o direito a si próprio e aos outros, segundo a igualdade; no sentido moral, significa o respeito que há em cada um de dar a cada um o que é seu.

Lei - Relação necessária entre dois acontecimentos. Lei científica: aquela que estabelece entre os fatos relações mensuráveis, universais e necessárias, autorizando a previsão.

Lei Moral - Compreende o conjunto de normas éticas resultantes da situação do homem na realidade e que, anteriormente a toda estipulação ou convenção, obrigam fundamentalmente a todos os homens.

Lei Natural - Em sentido filosófico, é uma ordenação para determinada atividade insita nas coisas naturais. Recebe o nome de lei, porque por meio desta disposição foi dada aos seres da natureza uma necessidade para operar, necessidade diversa, segundo a natureza da coisa: é diferente no domínio inorgânico, no orgânico e no humano-espiritual. Neste último domínio, lei natural eqüivale a lei moral natural; sua necessidade consiste no dever da obrigação.

Liberalismo - Doutrina que preconiza a liberdade política ou a liberdade de consciência.

Liberdade - Capacidade de poder agir por si mesmo, com autodeterminação, independentemente de toda a coerção exterior.

Livre-Arbítrio quer dizer juízo livre. É a capacidade de escolha pela vontade humana entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos.

Lógica - Ciência das leis ideais do pensamento e a arte de aplicá-los corretamente na pesquisa e na demonstração da verdade.

Logos - Significa discurso, palavra (verbo), palavra dotada de sentido.

Maiêutica - Método socrático de interrogação, como a parteira dá à luz os corpos, procura “dar à luz” os espíritos para levar seus interlocutores a descobrirem a verdade que eles trazem em si sem o saber. Por extensão, método pedagógico que permite ao mestre apenas dirigir a pesquisa do aluno, este devendo encontrar a verdade por sua própria reflexão.

Marxismo - Teoria econômica, social, política e filosófica elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels, utilizada ao mesmo tempo como método de análise dos fenômenos sociais e como princípios de uma prática revolucionária.

Materialismo - Doutrina segundo a qual toda a realidade, inclusive a espiritual, se reduz à matéria e suas modificações.

Materialismo Dialético - O materialismo dialético é a união do materialismo clássico com a dialética de Hegel, e representa o núcleo filosófico do marxismo.

Metafísica - Parte da filosofia que procura os princípios e as causas primeiras e que estuda o ser enquanto ser.

Método - do grego methodos significa caminho para chegar a um fim.

Misticismo - Crença numa ordem de realidades sobrenaturais e na possibilidade de uma união íntima e direta com Deus.

Mito - Relato fabuloso contando uma história que serve ao mesmo tempo de origem e justificação de um grupo social.

Monismo - Teoria segundo a qual a realidade é formada de uma única substância, pois só existe um princípio fundamental, seja a matéria, seja o espírito.

Monoideísmo - Estado patológico, caracterizado pela tendência de uma pessoa retornar sempre em seu pensamento e em sua palavra a um só tema, uma idéia fixa, que é propriamente a monomania.

Moral - Conjunto de costumes e juízos morais de um indivíduo ou de uma sociedade; teoria que visa orientar a ação humana submetida ao dever e com vistas ao bem; conjunto de normas livre e conscientemente aceitas que visam organizar as relações dos indivíduos na sociedade.

Moralismo - Apego excessivo à letra das regras morais em detrimento de seu espírito. Atitude prática que consente em cultivar apenas a perfeição moral sem se preocupar com o bem a ser realizado.

Mundividência - É a compreensão global da essência, origem, valor, sentido e finalidade do mundo e da vida humana. O mesmo que cosmovisão (concepção de universo).

Necessidade - Necessário é o que não se pode ser de outra maneira ou aquilo cuja contraditória é impossível.

Niilismo - É a doutrina que admite que o nada, além de ser, ou de haver, é capaz de ser pensado.

Númeno - De acordo com Kant, guarda relação com o verbo pensar, mas de fato, aparece mais equivalente a pensado, como oposto a percebido pelos sentidos.

Objetivo - O que existe fora do espírito e independente do conhecimento do sujeito. O contrário de subjetivo.

Objeto - Aquilo sobre que incide o conhecimento ou recai a ação. Oposto ao sujeito que é o que exerce a ação ou o conhecimento.

Ontologia - Parte da Filosofia que se ocupa do ser enquanto ser, ou seja, do ser concebido na sua totalidade e na sua universalidade.

Opinião - Juízo que adotamos sem termos a certeza de sua verdade.

Ortodoxia - Posição a favor das crenças vigentes.

Palingenesia - (Do grego palin, outra vez, e genesis, nascimento). Literalmente, é o novo nascimento ou regeneração; na Teologia religiosa, é o renascimento das idéias de uma doutrina esquecida, ou a nova vida dos indivíduos.

Panteísmo - (Do grego pan, tudo, e Theos, Deus = tudo é Deus). Doutrina que afirma que o cosmo nada mais é que a manifestação do próprio Deus.

Paradoxo - (Do grego para e doxa, opinião). Estado de coisas (ou declaração que se faça sobre elas), que aparentemente implica alguma contradição, pois uma análise mais profunda faz desvanecê-la.

Percepção - É a apreensão sensorial global de um complexo de dados sensíveis.

Personalidade - Caráter do ser que tem consciência de ser portador de si mesmo, que tem consciência de sua individualidade e de seu papel.

Política - Do grego politikós (polis) que significa tudo o que diz respeito à cidade.

Pragmatismo - Sistema filosófico de William James, que subordina a verdade à utilidade e reconhece a primazia da ação sobre o pensamento.

Práxis - Os gregos chamavam práxis à ação de levar a cabo alguma coisa; também serve para designar a ação moral; significa ainda o conjunto de ações que o homem pode realizar e, neste sentido, a práxis se contrapõe à teoria. No marxismo significa união dialética da teoria e da prática.

Princípio - É aquilo, donde, de algum modo, uma coisa procede quanto ao ser, ao acontecer ou ao conhecer.

Problema - Nem toda a questão se denomina problema, mas tão-só aquele que, por causa da dificuldade que lhe é intrínseca, não logra ser resolvida sem especial esforço.

Raciocínio - É aquela atividade mental, mercê da qual, da afirmação de uma ou mais proposições passamos a afirmar uma outra, em virtude da intelecção de sua conexão necessária.

Racional - Pelo termo “racional” (do latim ratio: razão, designamos em geral o modo especificamente humano do conhecimento conceptual-discursivo.

Racionalismo - Doutrina filosófica moderna (séc. XVII) que admite a razão como única fonte de conhecimento válido; a superestima do poder da razão. Principais representantes: Descartes, Leibniz. Doutrina oposta ao empirismo.

Realidade - Na hodierna terminologia filosófica, o termo “real” designa, via de regra, o ente, o que existe em oposição tanto ao que é apenas aparente quanto ao que é puramente possível.

Reflexão - Em sentido lato e pouco rigoroso, reflexão significa meditação comparativa e examinadora contraposta à percepção simples ou aos juízos primeiros e espontâneos sobre um objeto. No sentido ontológico, mais preciso e profundo, significa, ao mesmo tempo, uma volta do espírito à sua essência mais íntima. Esta volta (reflexio = re-flexão) é o sentido próprio do vocábulo.

Sensação - Significa, na linguagem corrente, qualquer vivência imediata.

Ser - designa aquela perfeição, pela qual alguma coisa é um ente.

Síntese - Significa etimologicamente “composição”. Em linguagem filosófica, síntese designa a união de vários conteúdos cognoscitivos num produto global de conhecimento, união que constitui uma das mais importantes funções da consciência.

Sistema - É a multiplicidade de conhecimentos articulados segundo uma idéia de totalidade.

Socialismo - Nome genérico das doutrinas que pretendem substituir o capitalismo por um sistema planificado que conduza a resultados mais eqüitativos e mais favoráveis ao pleno desenvolvimento do ser humano. Designação das correntes e movimentos políticos da classe operária que visam a propriedade coletiva dos meios de produção. O socialismo utópico (Saint Simon, Fourier, Proudhon etc.) foi criticado pelo socialismo científico (Marx e Engels). Para Marx, o socialismo é a primeira fase revolucionária após a destruição do Estado burguês e supõe ainda a existência de um aparelho estatal; após esta fase, deveria surgir o comunismo propriamente dito.

Sociologia - É a ciência da sociedade. Vem de societas (sociedade) e logos (estudo, ciência). É a ciência que estuda as estruturas sociais e as leis de seu desenvolvimento. Implica na análise do “fato social”.

Sofisma - É um raciocínio falso que se apresenta com aparência de verdadeiro.

Substância - Etimologicamente, é “que está debaixo” ou o que permanece debaixo das aparências ou dos fenômenos. Substância é o que tem seu ser, não em outro, mas em si ou por si. O contrário de acidente.

Sujeito - (Do latim subiectum = que está por debaixo) significa etimologicamente “o que foi posto debaixo”, “o que se encontra na base”. Ontologicamente, denota essencialmente uma relação a outra realidade que “descanse sobre ele”, que é “sustida” por ele.

Teleologia - Teoria dos fins. Doutrina segundo a qual o mundo é um sistema de relações entre meios e fins.

Teologia - É a ciência que tem Deus por objeto.

Teoria - O vocábulo “teoria” é usado, as mais das vezes em oposição a prática, significando neste caso, o conhecimento puro, a pura consideração contemplativa; ao passo que prática designa qualquer espécie de atividade fora do conhecimento, especialmente a atividade dirigida ao exterior.

Totalidade - Falamos de totalidade, quando muitas partes de tal modo estão ordenadas que, reunidas, formam uma unidade (o todo).

Transcendente - Em Kant, os princípios do entendimento puro além dos limites da experiência.

Universalismo - é a visão do todo, da grandeza e vastidão cósmica, da universalidade, oposta à limitação míope e mesquinha a valores parciais ou a interesses particulares.

Útil - Significa tudo aquilo que tem um fim noutro e não em si mesmo.

Utopia - (U-topos, “nenhum lugar”): que não existe em nenhum lugar; descrição de uma sociedade ideal; refere-se a um ideal de vida proposto. No sentido pejorativo, refere-se a um ideal irrealizável.

Verdade - Na acepção mais geral designa uma igualdade ou conformidade entre a inteligência (conhecimento intelectual) e o ser (adaequatio intellectus et rei), e, em sentido mais elevado, uma completa interpenetração de inteligência e ser.

Vício - É o pendor para agir de forma inadequada. É o oposto da virtude.

Vida - É o conjunto dos fenômenos de toda a espécie (particularmente de nutrição e de reprodução), que, para os seres que têm um grau elevado de organização, se estende do nascimento (ou produção do germe) até a morte.

Virtude - Eqüivale a capacidade, aptidão, e significa a habilidade, facilidade e disposição para levar a efeito determinadas ações adequadas ao homem.

Virtudes Cardeais - São assim denominadas (do latim cardo = gonzo), porque toda a vida moral gira em torno delas, como a porta em torno dos gonzos (dobradiças). São: prudência, fortaleza, temperança e justiça.

Vivência - É todo fato de consciência, na medida em que seu sujeito se apreende a si mesmo (de modo reflexo ou não reflexo) como encontrando-se numa determinada situação psíquica.

Por Sérgio Biagi Gregório

Fonte:http://www.ceismael.com.br/

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Gramsci e o Brasil por Alvaro Bianchi

Carlos Nelson Coutinho, especialista no pensamento gramsciano, fala sobre a recepção de Gramsci no Brasil
Alvaro Bianchi
Carlos Nelson Coutinho é reconhecido internacionalmente como um dos maiores especialistas no pensamento de Gramsci. Responsável pela coordenação e edição da obra do autor italiano no Brasil, Coutinho é professor na UFRJ e autor de livros fundamentais para os estudos de teoria política no país, como A Democracia como Valor Universal e Outros Ensaios (Salamandra) e Gramsci, um Estudo sobre Seu Pensamento Político (Civilização Brasileira). Nesta entrevista à CULT, enfatiza a centralidade da política no pensamento de Gramsci e fala sobre sua recepção no Brasil.
Arquivo Pessoal
Coutinho: "Gramsci é o maior teórico
marxista da política"
CULT - Por que o pensamento de Gramsci encontrou uma acolhida tão calorosa entre pesquisadores brasileiros?
Carlos Nelson Coutinho - É evidente que isso depende, antes de mais nada, da extraordinária fecundidade de seu pensamento: são poucas as áreas das chamadas "ciências humanas" para as quais Gramsci não tenha contribuído. Mas a principal razão dessa acolhida favorável é o fato de que muitos dos conceitos de Gramsci nos ajudam a pensar mais profundamente a especificidade brasileira. Penso nos conceitos de "Estado ampliado" e de "guerra de posição" como centro estratégico da luta pelo socialismo. Gramsci concebia esses conceitos como imprescindíveis para compreender os processos sociais do que ele chamou de "Ocidente", ou seja, de sociedades mais complexas, onde existe uma relação equilibrada entre Estado em sentido estrito e sociedade civil.
Ora, o Brasil tornou-se progressivamente, nas últimas décadas, um país de tipo ocidental, tal como Gramsci o compreende. Não é casual que a segunda e mais duradoura incursão de Gramsci no Brasil, iniciada no fim dos anos 1970, tenha se dado em estreita combinação com uma autocrítica da esquerda que, naquele momento, era feita não só pelos que haviam aderido à luta armada como forma de combate à ditadura, mas também pelos que, como o Partido Comunista Brasilero (PCB), supunham que o Brasil era ainda um país semifeudal, atrasado, carente de uma revolução democrático-burguesa ou de libertação nacional. Gramsci ajudou-nos e ajuda-nos a repensar a estratégia socialista adequada ao país "ocidental" em que o Brasil se transformou.
CULT - Que outros conceitos do autor seriam úteis para pensar nossa realidade? Coutinho - O conceito de "revolução passiva", ou seja, de um processo de transformação que se dá pelo alto, com exclusão do protagonismo das classes subalternas, vale como uma luva para momentos essenciais de nossa formação histórica, da Independência à mal chamada "Nova República". Cabe também lembrar o modo pelo qual Gramsci tratava das disparidades regionais na Itália, do que ele chamava de "a questão meridional". Para ele, não se tratava de duas Itálias, já que o atraso do sul era funcional ao desenvolvimento do norte industrial, tal como ocorre em nosso país, invertidas as posições geográficas. Finalmente, quem estudou a história de nossa intelectualidade se surpreende com a pertinência para nós do conceito gramsciano de "nacional-popular": tal como na Itália, também no Brasil os intelectuais caracterizaram-se quase sempre, com honrosas exceções, por se manterem distantes do povo-nação, gerando assim uma cultura abstratamente cosmopolita e "ornamental". Certamente há ainda outros conceitos gramscianos que podem nos interessar diretamente.
CULT - Quais são os principais desafios para o desenvolvimento dos estudos gramscianos em nosso país? Que temas e abordagens deveriam ser desenvolvidos?
Coutinho - Antes de mais nada, é preciso "limpar" Gramsci das muitas deformações liberais que lhe foram anexadas por alguns dos seus leitores brasileiros. Gramsci era comunista, um comunista "crítico", que já denunciava a "estatolatria" imperante no modelo stalinista - mas era e permaneceu até sua morte um defensor da "sociedade regulada", o belo pseudônimo que inventou para o comunismo. Sua proposta de revolução por meio da "guerra de posições" não é uma proposta de melhorar o capitalismo, mas de superá-lo por meio da criação de uma nova e inédita ordem social. Seu conceito de "sociedade civil" nada tem a ver com o tal "terceiro setor", situado para além do Estado e do mercado e considerado o reino do bem em oposição ao mal representado pelo Estado. Ao contrário, na medida em que é atravessada por relações de poder, a sociedade civil gramsciana é um momento do Estado, uma importante arena da luta de classes. Nesse sentido, parece-me muito importante, hoje, não só desenvolver pesquisas específicas que apliquem categorias de Gramsci à nossa realidade, mas também empreender estudos que estabeleçam de modo rigoroso o que ele realmente disse. Só assim será possível resgatar a dimensão revolucionária de seu complexo e riquíssimo pensamento.
CULT - Ao longo dos últimos 40 anos, houve alterações temáticas ou teóricas significativas na recepção dessa obra no Brasil?
Coutinho - Em sua primeira incursão no Brasil, nos anos 1960, Gramsci foi apresentado por seus editores e tradutores sobretudo como um grande filósofo e um brilhante crítico da cultura. Esses primeiros editores eram jovens intelectuais comunistas, que respeitaram certa divisão do trabalho pela qual eles tinham plena autonomia para definir a política cultural do PCB, mas reconheciam o "direito" da direção de formular a linha política geral. É claro que isso empobreceu a leitura de Gramsci. Só mais tarde foi reconhecido o fato de que o centro da reflexão de Gramsci - ao qual se subordinam suas muitas observações sobre filosofia, literatura etc. - é a política. Gramsci é o maior teórico marxista da política. Suas principais contribuições para a renovação do marxismo residem precisamente na nova formulação que ele deu às teorias marxistas do Estado e da revolução. Não se trata, é claro, de subestimar o valor das reflexões "filosóficas", "sociológicas", "pedagógicas" etc. de Gramsci, mas de compreendê-las no quadro de uma totalidade que tem na política o seu eixo articulador. Os mais importantes trabalhos sobre Gramsci publicados no Brasil nos últimos 20 ou 30 anos têm consciência dessa centralidade da política em sua obra. Fonte: Revista Cult - Edição 141

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Justiça social

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A justiça social -

Presentation Transcript

  1. O Indivíduo e o Estado A justiça social: três perspectivas
  2. Aristóteles: o homem como animal político. Segundo Aristóteles, o homem é um animal político: A Pólis (a cidade/a sociedade), o Estado, é algo de necessário à natureza humana, pois o homem, enquanto indivíduo, só se realiza plenamente em sociedade e a sua existência seria impensável sem ser em sociedade. A própria racionalidade que diferencia o homem dos restantes animais só se pode afirmar em diálogo, em confronto, em partilha...
  3. “A razão pela qual o ser humano, de forma mais intensa do que uma abelha ou qualquer outro animal gregário, é, plenamente, um animal político, é evidente: a natureza não faz nada por acaso, e só o homem é um animal que possui Lógos (Palavra; Razão). Assim como as vocalizações dos animais indicam o prazer e o sofrimento, o discurso serve para indicar aquilo que tem utilidade. É que, em comparação com os outros animais, o homem tem as suas especificidades: tem noção do bem e do mal, do justo e do injusto; e são estes sentimentos que dão origem à família e à Pólis.” Aristóteles, Política, 1253a
  4. “Visto que todas as cidades são associações e que toda a associação se forma com vista a algum bem (porque os homens quando agem visam sempre alcançar o que lhes parece ser um bem), daqui se conclui que, se as associações visam um bem, aquela que é mais importante e que engloba todas as demais é a que visa o bem mais importante; ela designa-se como 'cidade' (Pólis), ou comunidade política.” Aristóteles, Idem.
  5. Tal como se passa em relação ao corpo humano, em que cada parte existe e só tem sentido na sua relação com o todo: “O mesmo se passa com os membros de uma Cidade, nenhum é auto- suficiente. Quem não sentir necessidade de viver em sociedade, não será um homem, mas um animal ou um deus. A própria natureza conduz cada um dos homens a este tipo de associação.” Aristóteles, Idem.
  6. Síntese: Para Aristóteles, o estado natural do homem é a vida em comunidades políticas (cidades/estados). A Justiça é uma virtude, pertencendo, portanto, ao campo da ética. Só pela educação e pela melhoria da consciência ética dos cidadãos se poderá instituir uma sociedade justa, de acordo com o modelo aristotélico. O objectivo principal da ética aristotélica é a felicidade e neste sentido, a comunidade política, a Cidade, é um instrumento fundamental para a obtenção da felicidade, não podendo ser um obstáculo à obtenção da felicidade por parte de cada um dos cidadãos. A autoridade do Estado é natural, bem como a legitimidade das leis. Para Aristóteles, as mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos, devido à sua condição natural, não eram cidadãos. “Assim como o homem civilizado é o mais excelente dos animais, também aquele que não conhece nem leis, nem justiça é o pior de todos.” Aristóteles
  7. John Locke: o Estado contratualista Para John Locke, existe um estado de natureza em que os homens podem viver sem estarem submetidos à autoridade do Estado. Esse estado de natureza é anterior à constituição da sociedade civil. A sociedade civil constitui-se com base num contrato social livremente estabelecido entre os cidadãos, de acordo com o qual cada um dos indivíduos abdica de parte da sua liberdade natural para se submeter ao império da lei e da autoridade do Estado.
  8. No Estado de Natureza o indivíduo está na posse plena da sua Liberdade Natural e mesmo que viva em associação com outros indivíduos (em famílias ou tribos), não há nada que se sobreponha à vontade individual, nem nenhum poder a que os indivíduos possam recorrer se a sua segurança for ameaçada. Mesmo assim, os indivíduos no Estado de Natureza são portadores de direitos (o direito à vida, a liberdade e à propriedade) e de deveres (de respeitar a vida/a saúde, a liberdade e a propriedade dos outros), de acordo com a Lei Natural instituída por Deus. Mas não há qualquer instância que faça respeitar esses direitos e restabeleça a justiça de forma imparcial, caso existam transgressões. Por isso os indivíduos preferem associar-se de forma a constituírem sociedades civilizadas, onde a autoridade do Estado possa garantir a segurança, o gozo dos direitos naturais e a justiça. O Estado é o garante da justiça social, pois assume- se como um poder superior à vontade individual, capaz de fazer respeitar os direitos individuais, quer através da formulação de leis, como através da execução de mandatos e da aplicação da justiça.
  9. John Rawls: a justiça como base da estruturação das sociedades
  10. Rawls é contratualista: Na base da constituição das sociedades está um acordo feito entre hipotéticos fundadores que, ao estabelecerem os princípios basilares da estruturação da sociedade, estão sujeitos ao que Rawls chama o “véu da ignorância”, ou seja, instituem a sociedade sem saberem quais as condições a que a sociedade irá estar sujeita no futuro. E nesse sentido, esse “véu da ignorância” garante a equidade da actuação dos fundadores, pois estes desconhecem qual o seu estatuto e quais os seus interesses no seio da sociedade. Daí a sua actuação ser justa e imparcial. Embora esta situação seja meramente hipotética, servindo de base à legitimação das decisões constituintes que são tomadas sempre que os poderes políticos fazem as leis e instituem deveres e direitos (os agentes do Estado colocam-se no lugar desses hipotéticos fundadores), a ideia que está na sua base está ligada à forma como os Estados Unidos da América se instituiriam como um país independente. Na América os “pais fundadores” são uma referência sempre que se discutem direitos, liberdade e garantias dos cidadãos.
  11. Rawls defende uma concepção de justiça que obedece ao seguinte: todos os bens sociais primários — liberdades, oportunidades, riqueza, rendimento e as bases sociais da auto-estima — devem ser distribuídos de maneira igual a menos que uma distribuição desigual de alguns ou de todos estes bens beneficie os menos favorecidos.
  12. Rawls defende que a sua concepção de justiça assenta nos seguintes princípios: Princípio da liberdade igual: A sociedade deve assegurar a máxima liberdade igual para cada pessoa compatível com uma liberdade igual para todos os outros. Princípio da diferença: A sociedade deve promover a distribuição igual da diferença riqueza, excepto se a existência de desigualdades económicas e sociais beneficiar os menos favorecidos. Princípio da oportunidade justa: As desigualdades económicas e sociais justa devem estar ligadas a postos e posições acessíveis a todos em condições de justa igualdade de oportunidades.
  13. Estas concepções acerca da justiça social e da organização política das sociedades permitem enfrentar os problemas que afectam o mundo contemporâneo? Aristóteles, Locke e Rawls, apresentam teorias muito diferentes e podemos pensar que não há nada em comum entre elas, ou que de Aristóteles até Rawls há uma evolução em direcção a uma concepção mais humana do Estado e das relações entre os indivíduos no seio da sociedade civil.
  14. No entanto, hoje vivemos num mundo cada vez mais globalizado e enfrentamos problemas que exigem medidas globais. A civilização Ocidental privilegiou, ao longo da sua história, uma concepção de sociedade encarada como um todo isolado do exterior, entre muralhas e fronteiras, com um conjunto de instrumentos bélicos e de repressão interna. Talvez hoje faça mais sentido falar numa cidadania global que reconheça cada ser humano como um cidadão do mundo, com o direito a viver onde quiser e a ver a sua dignidade respeitada em qualquer parte do mundo...
  15. Mas este ideal ainda parece muito longínquo: Vivemos num planeta dividido em dois blocos separados por um fosso aparentemente intransponível: o hemisfério sul vive mergulhado na fome e no desespero, enquanto que o hemisfério norte, principalmente na sua vertente ocidental, detém uma riqueza nunca antes vista; enquanto nos países do sul milhões de pessoas morrem de fome e de doenças facilmente evitáveis, no norte destroem-se toneladas e toneladas de alimentos que são produzidos em excesso e não têm quem os compre...
  16. Esta situação é sustentável? É aceitável? Pode haver justiça social dentro de cada um dos estados, sem que o mundo seja mais justo?
  17. O que é que cada um dos outros seres humanos é a mais ou a menos do que nós?
  18. A pobreza aqui... ...ou em qualquer parte do mundo É aceitável?
  19. O sol nasce para todos?
  20. www.espanto.info

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