sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Volta às aulas - Estudante é não ser "aluno"

Estudante é não ser “aluno”
A pergunta mais instigante que deve incomodar/desacomodar noite e dia a vida dos estudantes é: “por que é preciso aprender?” É bem verdade que muitos “educadores” não gostam muito de ser questionados neste sentido. Talvez, também estes tenham medo de se incomodar/desacomodar. A sua visão dos processos educativos tendem a conceber o conhecimento como algo já produzido, acabado. Ao professor basta “proferir” a verdade absoluta. Ao aluno (do latim alumnus = aquele que não tem luz), compete simplesmente receber, acolher, encolher e acomodar na sua massa cinzenta (esquecendo do corpo) os conteúdos pré-estabelecidos. Parafraseando Rubem Alves, nós podemos comparar o processo educativo com o ato de cozinhar. Com freqüência, as comidas preparadas pelos professores, impostas por um cardápio pré-estabelecido e empurradas goela abaixo nos estudantes, têm provocado indigestão, diarréia e vômito. Isto deve-se ao fato de que o estudante não participou do preparo e na escolha dos alimentos, muito menos no momento da opção dos condimentos utilizados. O “rango” já vem “mastigadinho”, sem gosto, não provocando, obviamente, prazer no ato de comer. Aprender é muito mais Primeiramente, é necessário perceber que aprender é uma necessidade vital do ser humano. “Por natureza, os seres humanos não têm instintos munidos de todos os elementos para a sobrevivência. É preciso acrescentar requisitos essenciais à natureza que o conforma durante toda a vida” (Esther Grossi). Ou seja, não estamos prontos. Somos provocados pelo mundo. Ele nos desafia, nos coloca em crise. E a crise é motivadora para o protagonismo do ser humano. É mergulhar no mistério da vida. É ir em direção ao novo que dá medo, encanta, desafia e impulsiona. Ser estudante é uma postura de vida. É ter a sensibilidade necessária para ver além do óbvio e da superficialidade que o cotidiano nos impõe. É ousar ter uma postura reflexiva sobre si mesmo e sobre o mundo. É conceber-se incompleto; como dizia o filósofo Sócrates: “A única coisa que sei é que nada sei”. “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, as pessoas se educam entre si, mediatizadas pelo mundo”, dizia o mestre Paulo Freire. Viver em grupo implica resolver o problema singular que é o de construir a história de maneira original. Ou seja, ser estudante é não se acovardar, omitir e/ou deixar-se manipular pelo sistema vigente. Ser estudante é ser sujeito do seu próprio processo educativo, sentindo-se interpelado pelo desejo de construir o seu conhecimento como forma de humanizar-se. Só que não acaba aí... Ser estudante é desejar que todas as pessoas, sem distinção, também tenham acesso a esta possibilidade. Portanto, ser estudante é ser bem mais do que ser “alumnus”. É ousar ser sal e luz. “Ninguém acende uma vela para colocá-la debaixo de uma vasilha” (Mt 5,15). Ser estudante é assumir a missão desafiadora de ser vela àqueles que tanto precisam de luz. Mas ninguém dá o que não tem. É preciso cultivar o fogo intenso da busca pela verdade que habita no fundo do nosso ser. Eis aí o cativante desafio de ser estudante. Vá em frente! Adriano Vieira, Alexandro Machado e José Kolling, integrantes do Projeto “Sonho Possível”, do Núcleo de Educação Popular da UNILASALLE, Canoas, RS. Endereço eletrônico: alexsmach@yahoo.com Artigo publicado no jornal Mundo Jovem, edição nº 303, fevereiro de 2000, páginas 4 e 5.

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