quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A Postura do Aluno diante da Discussão Filosófica, por Sérgio Biagi Gregório





A discussão filosófica envolve as noções de análise, principalmente a análise de conceitos. O que significa analisar? Analisar é não só decompor e discernir as diferentes partes de um todo, mas também reconhecer as diferentes relações que elas mantêm, quer entre si, quer com o todo. Em outras palavras, analisar é ousar enfrentar a complexidade, é fazer-se "engenheiro do sentido". O que é um conceito? É o que o dicionário diz? O que se entende por analisar conceitos? Na análise de conceitos devemos distinguir as perguntas sobre fatos, valores e os próprios conceitos.

Entendamos essas distinções. Quando questionamos se o barco afunda com o peso de uma baleia, estamos diante de uma pergunta sobre fatos. Há dados técnicos sobre o barco: tamanho, resistência e durabilidade. Se, por outro lado, quisermos saber se uma dada pessoa gosta de transportar baleia de barco ou de navio, estamos diante de uma pergunta sobre valores. Agora, se quisermos saber o que é um barco ou o que é uma baleia ou, ainda, se baleia é peixe, estamos diante de uma pergunta sobre conceitos.

As perguntas sobre conceitos deixam as pessoas – de mentes arrumadinhas – meio atrapalhadas. Dá-se a impressão que, depois de uma reunião onde se discutiu, discutiu, ninguém chegou a lugar nenhum. Parece que estamos procurando pelo em ovo. Mas justamente nesse ponto, ou seja, na tentativa de verificar o conceito é que vamos nos tornando mais conscientes do significado ou dos vários usos que uma palavra pode assumir. 

Tomemos, arbitrariamente, a palavra "eu". O que significa o "eu"? O que os dicionários dizem? E a filosofia? E a psicologia? Independentemente de toda a literatura, o que você pensa sobre o "eu"? Qual o seu parecer? O "eu" é independente ou dependente do "nós"? Em outras palavras: quando o "eu" é "eu"? Diariamente, somos bombardeados pelas informações do rádio, da televisão, dos jornais etc. Que tipo de influência isso exerce sobre o nosso "eu"? O "eu" é imune aos elogios e às censuras? O "eu" dá a idéia de egoísmo ou o "eu" faz parte da Humanidade? Ortega y Gasset dizia: "Eu sou eu mais as minhas circunstâncias". Poderíamos acrescentar: somente as circunstâncias presentes ou aquelas que envolvem encarnações passadas? Quando Jesus disse para nos salvarmos, referia-se a um "eu" particular ou à humanidade como um todo?

A discussão filosófica deve criar condições para que cada um possa pensar por si mesmo. O que se entende por pensarmos por nós mesmos? Seria meditarmos num lugar à parte, isolando-nos e mantendo-nos em êxtase? O pensar por nós mesmos é participarmos da sociedade, tendo, porém, o cuidado de não sermos expectadores de frutos de vitrine, ou seja, repetidores do que os outros disseram. Temos de fazer com que os pensamentos alheios façam parte de nós mesmos. Por isso, a recomendação de moermos e remoermos as informações até que eles possam entrar em nosso psiquismo, em nossos sentimentos e em nossas emoções.

Exercício proposto: "Quem não vem pelo amor vem pela dor". Tomemos as duas palavras mais fortes: amor e dor. Na frase, o amor exclui a dor e vice-versa. Será isso uma verdade? Nós não podemos amar na dor? E quando a pessoa vai por curiosidade? Isto invalida a frase acima? O que você acha? Qual o seu parecer?


Fonte: http://www.ceismael.com.br/filosofia/postura-do-aluno-filosofia.htm

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