sexta-feira, 2 de julho de 2010

De Ulisses a Dunga, por Luiz Antônio Corte Real*

 
Todos os povos têm seus heróis. E precisam deles para alimentar a autoestima de seus cidadãos. Assim foi no passado. Assim é no presente. Mas os heróis de hoje não são os heróis de antigamente. Perscrutando a história da civilização, em todos os tempos encontramos heróis. Já na vetusta Atenas, eram eles festejados como deuses. Homero, o inesquecível poeta grego, descreveu, em seus ainda lidos poemas, as aventuras do ardiloso guerreiro Ulisses, que, na Guerra de Troia, se notabilizou por conceber o cavalo de Troia. Seus dois poemas, Ilíada e Odisseia, eram lidos para os jovens estudantes atenienses, para que eles conhecessem, admirassem e imitassem esse herói. A autoestima do povo era sustentada e alimentada através da narrativa dos feitos de Ulisses, exemplo para todos.

Os anos se passaram, e muitos foram os heróis celebrados pelos homens nesses 2,5 mil anos. Mas muita coisa se modificou. Assim, em nosso século, as guerras não encontram mais espaço, pois vivemos hoje, com poucas e pontuais exceções, na paz perpétua que Emanuel Kant pregava (século 18). Se, entretanto, as guerras, que eram um fato corriqueiro, cessaram, os heróis continuam sendo uma necessidade e uma realidade para os povos do agora. Onde, então, buscá-los? As pistas de atletismo, os ginásios de esporte, os campos de futebol, substituíram o cenário sangrento das guerras de conquista por territórios, das hostilidades entre atenienses e troianos. É dos esportes e do atletismo que saem, agora, nossos heróis. Progredimos. Pois para termos nossos heróis, não precisamos mais recorrer a trágicas batalhas. Buscamo-los nas pugnas esportivas, onde as lanças e espadas são substituídas pelas pistas, piscinas, quadras de esporte e bolas de futebol. É certo que o mundo mudou. Mas não a ânsia por heróis. São eles imprescindíveis para nos animar, para nos unir sob o signo de uma bandeira, para nos encher de contentamento, para enriquecer nossas esperanças, para nos tornar mais nós.

Por isso, a Copa do Mundo é tão importante. Através dela, os heróis do presente mostram para o mundo que existimos, que temos importância, que somos gente. Em lugar de Ulisses, temos Dunga, Kaká, Júlio César, Lúcio, Robinho, e todos os outros jogadores que se encontram na África do Sul para dizer, com seus tiros certeiros, que não matam, mas que atingem o amor próprio de nossos “inimigos”, que o verde e o amarelo existem, e que não é só o povo norte-americano que pode, pois também nós podemos.

Parte Ulisses, ficam Dunga e seus heróis, a nos encher de satisfação e alegria.

*Contista e bacharelando em Filosofia

Fonte: Jornal Zero Hora 
imagem em: topicos.estadao.com.br/fotos-sobre-selecao-br..

2 comentários:

Valdeir Almeida disse...

Como não temo mais guerras, a "batalha" é estabelecidas na política e nos esportes. Assim, tentam eleger heróis. Mas não existe um candidato ou um técnico de futebol como Ulisses. Daí, a frustração.

Abraços, Marise.

Valdeir Almeida disse...

Como não temo mais guerras, a "batalha" é estabelecidas na política e nos esportes. Assim, tentam eleger heróis. Mas não existe um candidato ou um técnico de futebol como Ulisses. Daí, a frustração.

Abraços, Marise.

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