Uma notável capacidade de, deliberadamente, causar destruição e infringir sofrimento tem marcado negativamente a história da humanidade. Com maior ou menor consciência todos podemos produzir o mal, e, de fato, muitas fezes o produzimos. Explicar e compreender esse comportamento constitui, ainda hoje, um desafio. Por que existe o mal? Já nascemos maus ou nos tornamos maus? Ao longo dos anos, os filósofos ofereceram diferentes perspectivas para essas questões.
Na antiguidade clássica, Sócrates sustentou a tese de que o mal praticado pelos homens é uma conseqUência de sua ignorância. Para ele, o esclarecimento conduz necessariamente a virtude. Nesse sentido, seria forçoso dizer que o homem nasce mau, pois quando muito ele nasce ignorante, e da ignorância, quando não educada, nasce a maldade.
Santo Agostinho, no período medieval, refutou a acusação de que Deus, enquanto criador do mundo, também seria o criador do mal - o que comprometeria a ideia de que Deus é absolutamente bom - e indicou a ação humana livre como autora do mal. Sendo criaturas de Deus, feitos a sua imagem, os homens são essencialmente bons, assegurou o Santo. O problema é que, no exercício da liberdade permitida por Deus, os homens podem se afastar de sua natureza divina, dando assim origem ao mal. Nesse sentido, o mal seria uma espécie de "efeito colateral" da liberdade.
Santo Agostinho, no período medieval, refutou a acusação de que Deus, enquanto criador do mundo, também seria o criador do mal - o que comprometeria a ideia de que Deus é absolutamente bom - e indicou a ação humana livre como autora do mal. Sendo criaturas de Deus, feitos a sua imagem, os homens são essencialmente bons, assegurou o Santo. O problema é que, no exercício da liberdade permitida por Deus, os homens podem se afastar de sua natureza divina, dando assim origem ao mal. Nesse sentido, o mal seria uma espécie de "efeito colateral" da liberdade.
No século 18, ao teorizar sobre a origem do Estado Civil, Thomas Hobbes caracterizou a natureza humana como egoísta e dominadora. Para ele, quando deixado livremente, guiando-se por seus próprios impulsos, o homem converte-se no lobo do próprio homem. Daí que, para Hobbes, não foi outro o propósito de criação do Estado Civil senão o de regrar e limitar a natureza bélica dos homens, permitindo assim a vida conjunta.
Sucessor de Hobbes entre os filósofos que se ocuparam em explicar a origem do Estado Civil, Jean-Jaques Rousseau defendeu uma percepção totalmente diferente do ser humano. Para ele o homem é originalmente bom, assim como era boa a vida antes de a sociedade mudar e aceitar a propriedade privada, precursora imediata do Estado Civil. Seu entendimento é expresso na famosa máxima de que "o homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe". Não existe, para Rousseau, maldade alguma na natureza humana; todo mal é consequência da estrutura social doentia, que retira os homens de sua igualdade e liberdade natural.
Hoje, com o considerável avanço das ciências do comportamento e, sobretudo, da neurociência, temos indícios de que alguns indivíduos já nascem, sim, com uma "predisposição para o mal" ou, tecnicamente falando, com distúrbios da personalidade dissocial. A sociedade pode exercer certo controle sobre tais predisposições, inibindo-as ou favorecendo-as. Sob essa perspectiva Rousseau não estava completamente enganado: aparte o fato de os seres humanos não nascem todos imaculadamente bons, ele estava certo sobre a influência social na conduta dos indivíduos. E considerando que a influência social pode ser para o bem ou para o mal, nesse sentido também Hobbes estava parcialmente correto.
Se a maldade humana é, assim, fruto de uma combinação biológica e social, uma inclinação para o mal não necessariamente resultara em maldades. Muito dependerá do ambiente, do modo como são conjugadas nele a liberdade e o esclarecimento. Pois, se como disse Agostinho, a liberdade é a fonte de todo mal, o conhecimento, observou Sócrates, é o caminho para a virtude. Inclinações existem, mas o decisivo é o que fazemos com elas. Pelo esclarecimento podemos educar até mesmo nossas vontades (liberdade).
*Marcelo Doro
Professor da área de Ética e Conhecimento (UPF)
Professor da área de Ética e Conhecimento (UPF)
Fonte: Jornal O Nacional
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