Proponho que a história possui um valor instrumental para filosofia, mas não um valor intrínseco. Por valor instrumental entendo como uma ferramenta auxiliar a um conhecimento. Por valor intrínseco entendo o valor que um saber possui em si e por si mesmo.
O que a história pode fazer pela filosofia? Temos de situar o problema, tentando saber se é possível filosofar sem história. Podemos dizer que situar Platão historicamente não é a mesma coisa que discutir ativamente os argumentos sobre problemas filosóficos. Assim, para filosofar é necessário discutir as idéias, os argumentos , e reproduzir as idéias do filósofo x ou y, pelo que conhecer a história da filosofia é um elemento fundamental para se questionar os argumentos, mas distancia-se daquilo que é filosofar enquanto atividade critica. E o inverso provavelmente também é verdadeiro , isto é: para se fazer história é necessário saber pensar, mas saber pensar por si só, não é fazer história.
A filosofia utiliza métodos diversos que são recorrentes na investigação em história.
A história constitui um indispensável recurso para a filosofia uma vez que sem algum conhecimento da história da filosofia, não possuímos acesso aos argumentos dos filósofos do passado. Ressaltando que sem o estudo da historia o mundo não seria tal como é.
Poder-se-ia ainda acrescentar que é necessário colocar um filósofo em questão em seu devido contexto histórico. Eu explico: como seria possível abranger o pensamento dos iluministas sem conhecer o todo o contexto histórico do século XVIII (principalmente na França) ? Como seria possível existir um Platão fora do período clássico da Grécia? Como poderíamos compreender o pensamento de São Tomás de Aquino sem conhecer o pensamento do homem medieval?
E como conhecer tudo isto sem a história ?
Afinal somos (até certo ponto) produto do meio onde vivemos e os filósofos também o são. Assim , sem conhecer este “milieu intérieur” não podemos abranger , abarcar o pensamento de determinado filósofo.
Podemos discordar do pensamento de um filósofo (diria até que é essencial que o façamos ocasionalmente) mas não estaríamos sendo justos em discordar das idéias de alguém sem conhecermos igualmente o meio , o contexto histórico e social onde estas idéias floresceram . Exemplifico: Um tópico central nas idéias de Jean Jacques Rousseau é a do “bom selvagem” (o homem é bom , a sociedade o corrompe). Podemos estar de acordo com a afirmação, mas ao mesmo tempo que ouvimos e assimilamos a frase pensamos (quase que involuntariamente) em seu oposto : a sociedade não é mais que um conjunto de homens. Como o homem é individualmente mau a sociedade em conjunto não faz mais que espelhar a soma de vários elementos maus. Qual das duas assertivas é a correta? De qualquer modo, como viveu Rousseau? Será que sua infância , a localização geográfica e histórica de sua vida influenciam estas idéias? Por que alguém que abandonou os próprios filhos teria autoridade para ensinar a educar os filhos de outrem? Por que filtra-se na obra de Rousseau um certo desencanto, uma amargura contra a sociedade? Não possuirá esta amargura alguma relação com a vida cheia de decepções e sofrimentos que este autor teve?
Não possuiria a obra de Rousseau o retrato das injustiças sofridas sob o “ancien régime” na França?
Para finalizar um tecido de idéias que talvez já esteja demasiadamente longo diria que até é possível filosofar sem conhecer a história e sem conhecer a história da filosofia. Pois cada ser humano que já formulou questões tais como : de onde viemos , para que estamos aqui , como devemos viver? Por que alguma coisa é considerada certa e outras não o são? Quem sou eu? Já está filosofando.
Qual a utilidade se conhecermos a história da filosofia então?
A história da filosofia nos possibilita saber que outras pessoas já tiveram as mesmas dúvidas e tentaram responde-las . Caso ignoremos a história da filosofia estaremos desconhecendo excelentes pontos de partida para as respostas às dúvidas anteriormente mencionadas.
Complementando , se ignorarmos História estaremos ignorando os contextos e ambientes que contribuíram para que os que responderam a estas questões chegassem a estas respostas como no exemplo de Rousseau.
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