1. Como explicar o conceito de filosofia?
O conceito de filosofia pode ser explicado por seu objeto e por seu método. O objeto da filosofia é conceitual; a filosofia trabalha com conceitos que utilizamos no nosso dia-a-dia, que utilizamos nas ciências, nas artes, mas a respeito dos quais nunca pensamos. O método da filosofia é argumentativo e crítico: a filosofia é um tipo de conhecimento construído por meio do debate, do diálogo, da argumentação e que deve estar sempre aberto à reformulação.
2. Como a filosofia surgiu?
A filosofia surgiu na Grécia do século VI a.C. com homens que buscavam conhecer as coisas por meio da investigação empírica e racional, não aceitando a sabedoria da tradição como ponto de partida para o conhecimento.
3. Qual a relação entre mito e filosofia?
A filosofia nasce como uma reação contra as narrativas mitológicas que procuravam explicar todas as coisas por meio da existência e das ações dos deuses. A filosofia eventualmente utiliza-se de mitos como recurso retórico, mas busca superar a mitologia por meio da construção do conhecimento pelo trabalho argumentativo crítico.
4. Qual a diferença entre discurso narrativo, discurso poético e discurso predicativo?
O discurso narrativo tem como objetivo narrar um acontecimento factual ou mitológico. O discurso poético tem como objetivo apresentar uma visão de mundo por meio de imagens, utilizando estruturas poéticas. O discurso predicativo tem o objetivo de afirmar algo sobre alguma coisa, pôr um predicado num sujeito. O discurso mitológico é geralmente narrativo, ainda que tenha estrutura poética; os poemas são exemplos de discurso poético; e a filosofia é geralmente escrita como discurso predicativo.
5. O que é a controvérsia entre a filosofia e a sofística?
No século V a.C., o filósofo Sócrates defendia que o objetivo da filosofia era conhecer a verdade por meio da argumentação crítica. Sócrates defendia que existia uma verdade, e que para conhecê-la era necessário descobrir a própria ignorância (o que significa que a primeira tarefa da filosofia deveria ser a promoção do auto-conhecimento). Sócrates também considerava que um filósofo não deveria ser pago, pois a verdade não era artigo comerciável. Contudo, os sofistas, que eram contemporâneos de Sócrates, tinham outra visão a respeito da verdade. Eles achavam que a verdade era função da argumentação: quem tinha a maior força argumentativa era o proprietário da verdade. Os sofistas eram advogados profissionais e professores de retórica, cobrando pelos seus trabalhos. Sócrates considerava que os sofistas eram charlatões, pois ensinavam os alunos a vencer os debates e não a buscar pela verdade.
6. O que significa a divisão entre dialética e retórica?
A dialética é o método filosófico: a dialética é o trabalho de chegar ao conhecimento por meio da argumentação crítica e da análise dos argumentos. A retórica é uma arte: é a arte de vencer um debate e convencer por meio da utilização de argumentos, não importando se os argumentos são bons ou maus.
7. O que é um argumento?
Um argumento é um conjunto de proposições que justificam ou sustentam uma tese. Essas proposições aparecem como premissas e conclusão. Todo argumento tem uma ou mais premissas e apenas uma conclusão.
8. O que é a verdade e a validade?
A verdade é uma propriedade das proposições. Uma proposição pode ser verdadeira ou falsa. A validade é uma propriedade dos argumentos dedutivos. Um argumento dedutivo pode ser válido ou inválido. Mas um argumento nunca pode ser verdadeiro ou falso, nem uma proposição pode ser válida ou inválida.
9. Como identificar as premissas e a conclusão de um argumento?
As premissas de um argumento são as proposições que justificam, que sustentam, que explicam, que levam até a conclusão. A conclusão é a proposição que é justificada, que é sustentada, que é explicada pelas outras proposições. A conclusão é a tese defendida pelo argumento.
10. Qual é a diferença entre um raciocínio (argumento) dedutivo e um indutivo?
Um raciocínio dedutivo é um argumento que parte de uma proposição que tem a forma de uma lei geral para chegar a uma conclusão particular retirada dessa lei geral. A dedução estabelece uma relação entre conceitos. A dedução é uma relação puramente lógica; um argumento dedutivo pode ter todas as suas proposições falsas e ainda assim ser um argumento dedutivo válido. Um argumento dedutivo pode ser válido, quando sua forma lógica é correta, ou inválido, quando sua forma lógica não é correta.
Um argumento indutivo é um argumento que parte de elementos particulares que têm origem na experiência para chegar a uma conclusão geral e conceitual. A indução estabelece uma relação entre a experiência e um conceito. A indução não é uma relação puramente lógica: ela mistura a lógica com a experiência. Por isso, um argumento indutivo não pode ser considerado válido ou inválido; ele pode ser considerado apenas mais provável ou menos provável.
11. O que é o racionalismo?
O racionalismo é uma filosofia que enfatiza o papel da razão na aquisição e na justificação do conhecimento, em detrimento da experiência sensorial e empírica. Para os racionalistas, a razão é a fonte dos conhecimentos mais perfeitos e verdadeiros, enquanto a experiência sensível tem acesso apenas a conhecimentos imperfeitos. Para os racionalistas, o ser humano já nasce com alguns conteúdos da razão – como, por exemplo, a idéia de Deus.
12. O que é o empirismo?
O empirismo é uma filosofia que enfatiza o papel da experiência na aquisição e na justificação do conhecimento, minimizando o papel da razão humana. Para os empiristas, a própria razão humana é adquirida por meio da experiência. É empirista a idéia de que o ser humano, quando nasce, é uma espécie de tabula rasa, uma folha em branco.
13. O que é o ceticismo?
O ceticismo é uma filosofia que afirma que existem limitações ao conhecimento possível. Um cético filosófico não diz que a verdade não existe ou é impossível, mas que não podemos conhecer ou fazer afirmações sobre a verdade. O ceticismo é uma filosofia contrária ao dogmatismo, que afirma que a verdade é conhecida e que não há possibilidade de discussão sobre ela. O ceticismo não deve ser confundido com o relativismo, que afirma que a verdade é relativa, nem com o niilismo, que afirma que não há verdade.
14. Qual a relação entre criação artística e conhecimento científico?
A arte e a ciência têm algo em comum: ambas pretendem ser um meio de o ser humano compreender e agir, ordenando e tornando inteligível o mundo. Contudo, a ciência é feita a partir do método empírico e busca, por meio da razão e da experiência controlada, encontrar a verdade sobre a natureza. Já a arte não tem um método específico, mas vários métodos diferentes, e não visa necessariamente encontrar qualquer verdade.
15. O que é a questão da universalidade do belo?
A questão da universalidade do belo é o problema de saber se a beleza é um conceito universal e se algo considerado belo em determinada cultura e época será também considerado belo em outra cultura e época. O problema questiona se a beleza é uma característica objetiva da obra de arte (ou seja, se a beleza existe independentemente da perspectiva histórica e cultural do observador) ou se a beleza é subjetiva (ou seja, se a beleza está nos olhos de quem vê a obra de arte).
16. Quais as principais teorias estéticas que explicam a obra de arte?
16.a) A teoria da arte como imitação
A teoria da arte como imitação afirma que uma obra só é arte se imita algo, e será tanto melhor obra de arte quanto mais perfeita for a imitação.
16.b) A teoria da arte como expressão
A teoria da arte como expressão afirma que uma obra só é arte se exprime um sentimento do artista, e será tanto melhor obra de arte quanto melhor e mais profundamente exprimir esse sentimento.
16.c) A teoria formalista da arte
A teoria formalista da arte afirma que a obra de arte tem uma forma significante que provoca nos observadores emoções estéticas. Contudo, a beleza não está “nos olhos de quem vê”, mas na forma da obra de arte.
17. O que significa causalidade?
A causalidade é a idéia de que todo efeito tem necessariamente uma causa.
18. O que significa determinismo?
O determinismo é a idéia de que quando se conhece todas as condições iniciais de um sistema, pode-se prever o desenvolvimento futuro desse mesmo sistema.
19. Por que a idéia de determinismo impõe um problema para a compreensão da liberdade humana?
Porque se o determinismo for verdadeiro, então poderia ser previsto o comportamento das pessoas diante de determinadas condições. Contudo, se é possível prever o comportamento de uma pessoa, então essa pessoa não é livre, pois seu comportamento já estava determinado.
20. Qual é a diferença entre ética e moral?
A moral é a consideração do que é bem ou mal. A ética é o estudo das teorias que vão explicar a moral. A moral é a prática, a ética é a teoria.
21. Quais as principais teorias éticas usadas cotidianamente?
21.a) O relativismo moral
O relativismo moral é a teoria que afirma que as afirmações morais (isso é bom, aquilo é mau) são relativas à cultura. Para o relativista moral, não existe algo objetivamente bom ou mau; o relativista moral afirma que algo considerado mau em determinada cultura pode ser considerado bom em outra cultura. O relativista moral tende a considerar que “bom” é aquilo que é socialmente aprovado e “mau” é aquilo que é socialmente desaprovado em determinada cultura.
21.b) O absolutismo moral
O absolutismo moral é a teoria que afirma que existem valores morais objetivos. Para o absolutista moral, uma ação é boa ou má, independentemente da cultura à qual o agente pertença. O absolutista moral parte de princípios éticos definidos e deles deduz suas proposições morais.
21.c) O utilitarismo
O utilitarismo é a teoria que afirma que deve-se buscar maximizar os benefícios e minimizar os malefícios para a maior quantidade de pessoas. O utilitarista faz uma espécie de cálculo ético para chegar à conclusão de que uma ação é boa (a que maximiza os benefícios e minimiza os malefícios) e outra é má (a que não maximiza os benefícios e/ou não minimiza os malefícios).
22. Qual a diferença entre Estado, sociedade e poder?
Estado é uma organização social, política e jurídica de um povo que tem estrutura administrativa e governo próprio, com soberania sobre um determinado território. O Estado é produto das vontades individuais do povo e é onde essas vontades individuais podem ser realizadas. Sociedade é uma associação de indivíduos que repousa sobre um contrato social e cujos laços de reciprocidade instituem uma ordem econômica ou política. O poder é a capacidade de se mobilizar forças econômicas, sociais ou políticas para obter um certo resultado. Alguns filósofos (como Foucault) afirmam que todas as relações entre o Estado e os indivíduos e todas as relações sociais são relações de poder: o poder fundamental não é exercido por indivíduos, mas encontra-se disperso, como um aspecto impessoal da sociedade, e manifesta-se em particular sob a forma de vigilância, regulação ou disciplina, que adaptam os seres humanos à estrutura social envolvente. O poder da sociedade não se encontra limitado à sua capacidade de impedir as pessoas de fazerem coisas; inclui o controle da autodefinição e da forma de vida preferida dos seus membros.
23. Quais as concepções mais comuns de cidadania?
23.a) A social-democrata
A concepção social-democrata de cidadania visa garantir direitos civis, políticos e sociais a todos por meio do estado-providência.
23.b) A conservadora
A concepção conservadora de cidadania visa garantir o máximo de liberdade individual e autonomia para os cidadãos, diminuindo a capacidade do Estado interferir na vida privada de cada um.
23.c) A teoria da sociedade civil
A concepção dos defensores da teoria da sociedade civil centra sua atenção no modo como aprendemos a ser cidadãos responsáveis. Para eles, aprendemos a ser cidadãos participando de organizações civis.
23.d) A teoria liberal
A concepção liberal da cidadania enfatiza a necessidade de os cidadãos serem capazes de argumentar publicamente. Os cidadãos precisam dar razões para suas exigências políticas, e não apenas exprimir preferências ou fazer ameaças.
23.e) A teoria republicana
A concepção dos republicanos cívicos defende que os cidadãos responsáveis devem ter na participação política sua ênfase, e a vida política deve ser colocada à frente das outras atividades.
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