quarta-feira, 22 de abril de 2009

Em busca dos mistérios e do sentido da vida

Existir, por si só, é algo misterioso... Afinal, quem somos nós? Qual o sentido das nossas vidas? O que significa dizer que somos livres? E até que ponto podemos conhecer a realidade? Eis, aqui, a nossa própria existência em questão. Pois tais interrogações, dentre tantas outras, incidem sobre a compreensão que possamos ter das nossas vidas, como das nossas relações com os outros, e afetam a nossa visão do mundo, se paramos para pensar... Faz perguntas quem questiona a pretensa obviedade das coisas. Para tanto, precisamos saber que não sabemos algo. E isso nos põe em condições de aprender. Pois o “óbvio” não será apenas aquilo em que paramos de pensar, ou repetimos sem pensar? Por isso, dentre outras razões, o filósofo é amigo da sabedoria. E aquele que é amigo, que ama a sabedoria, sabe que a cada encontro de uma idéia surge um novo ponto de partida, e que ela não está nunca acabada. A Filosofia, desde as suas origens, na Grécia Antiga, requer uma mutação do olhar e de nossas relações com a vida e com o conhecimento. Nesse caso, será preciso exercitar um certo estranhamento frente à realidade, desde as coisas mais simples ou aparentemente já sabidas. Há, aqui, uma atitude, onde o pensar é desafiado a ir além de si mesmo. Ante essa atitude, que assume a própria perplexidade e admiração como ponto de partida, a Filosofia é um convite ao diálogo. Dialogar envolve um aprendizado de escuta do outro e, dada essa condição, a cooperação em uma construção conjunta do conhecimento. Em um diálogo não disputamos idéias, mas, em solidariedade investigativa, acompanhamos o raciocínio do nosso interlocutor, testando hipóteses, observando contradições, construindo novas formas de ver e de abordar um tema, conhecendo o nosso próprio processo de conhecer. Mais que isso, dialogar é ouvir também o silêncio das vivências que impregnam as idéias e as interrogações do outro, para que possamos partilhar um caminho. O filosofar tece, assim, a forma como cada um de nós se relaciona com a sua existência e com o seu crescimento. Surge assim um convite a pensar naquilo que é, ainda, não-pensado, a ir ao encontro dos nossos próprios limites, condição de sua superação. Esse convite em direção ao alargamento de nossos horizontes de sentido põe em jogo as nossas relações com os outros, com nós mesmos, com o meio ambiente e com o conhecimento. O caminho, porém, é duplo, e um trabalho interior interage com as relações educativas que mantemos com os demais. Pois a jornada de nossas vidas, a fazemos simultaneamente sós e acompanhados, quando conjugamos a aventura de ser eu com essa outra, a de sermos também nós, na gradativa descoberta e invenção do sentido de nossa condição humana. Se nos dispomos a buscar o sentido de nossas vidas, não deveremos tocar, de algum modo, em seus mistérios? E isso não poderá tornar a vida ainda mais interessante? Sérgio A. Sardi, Professor do Departamento de Filosofia da PUCRS. Doutor em Filosofia pela Unicamp, SP. Endereço eletrônico: sergioasardi@uol.com.br

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