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terça-feira, 30 de junho de 2009

Estruturalismo - estudos contemporâneos - A antropologia cultural

Renato Cancian*
Na segunda metade do século 20, o estruturalismo expandiu-se para várias áreas das ciências sociais, como a economia, a sociologia, a ciência política e a antropologia. Na sociologia e na ciência política três autores contemporâneos se destacaram em razão de seus estudos comparativos. São eles: Barrington Moore Jr., que é autor do livro Origens Sociais da Ditadura e da Democracia: senhores e componeses na construção do mundo moderno, publicado em 1966; Charles Tilly, que publicou inúmeros estudos políticos e sociológicos tratando do surgimento e evolução dos Estados modernos e da dinâmica dos processos revolucionários; e, finalmente, Theda Skocpol, autora de Estado e Revoluções Sociais: análise comparativa da França, Rússia e China, publicado em 1979. Todos esses cientistas sociais elaboraram estudos com base na perspectiva estrutural, também denominada de abordagem institucional.

Antropologia estrutural

A economia, a sociologia e a ciência política nunca adotaram explicitamente a denominação "estrutural" para caracterizar um campo de estudos específicos. Mas a antropologia fugiu a essa regra e desenvolveu o campo de estudo denominado de "antropologia estrutural". Sem dúvida, foi o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss o expoente mais notório da teoria e da análise estrutural. Seus estudos com enfoque nas sociedades primitivas (também chamadas de sociedades simples ou arcaicas) tiveram grande influência acadêmica. Lévi-Strauss se destacou nas análises do parentesco e do pensamento mítico. No livro intitulado Estruturas elementares do parentesco, publicado em 1949, o antropólogo aplicou a perspectiva estrutural, a fim de demonstrar que as regras de proibição do "incesto" (que pode ser definido como a relação sexual ou marital entre parentes próximos) vigoram em todas as sociedades humanas conhecidas. Segundo Lévi-Strauss, o "tabu do incesto" pode ser considerado um fenômeno universal, que está presente em todas as sociedades humanas, mas cada sociedade (ou conjunto de sociedades) desenvolveu mecanismos diferenciados e específicos, com o objetivo de justificar e aplicar as regras de proibição das relações sexuais e maritais consanguíneas. Esse tabu pode ser concebido como um mecanismo social que reflete o domínio da cultura sobre a natureza. A abordagem dos pensamentos e narrativas míticas recebeu tratamento semelhante. Em seu célebre estudo comparativo intitulado Mitológicas o cientista social francês demonstrou que o mito não existe isoladamente, pois está relacionado com outros mitos. Da mesma forma que a linguística estrutural isola os elementos básicos presentes em todas as línguas (fonemas, morfemas, etc.), o mito possui unidades elementares denominados mitemas, que podem ser reduzidos a "pares de oposição binária" e que sustentam a estrutura do pensamento mítico em geral. Os pares de oposição binária presentes nas narrativas míticas - tais como masculino-feminino, cru-cozido, pai-mãe, terra-água, entre inúmeros outros - refletem questões primordiais que afetam as sociedades humanas, nas quais a "cultura" tem predomínio sobre a "natureza". A partir da década de 1970, o estruturalismo formulado por Lévi-Strauss na análise das organizações sociais primitivas (e de igual modo a antropologia estrutural como um todo) sofreu reformulações teóricas à medida que novos paradigmas surgiram no âmbito da linguística e das ciências sociais. Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo-estudos-contemporaneos.jhtm

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Estruturalismo - bases teóricas - O desprezo pela análise histórica

Renato Cancian*
O estruturalismo é uma teoria que se desenvolveu no âmbito das ciências sociais a partir da década de 1960. A teoria estruturalista é originária da ciência linguística e foi incorporada às ciências sociais primeiramente por influência dos trabalhos de cientistas sociais franceses. A linguística estrutural não está preocupada com a evolução histórica das variedades de línguas (ou dialetos) existentes, mas com a estrutura da linguagem. Concebendo a linguagem como um sistema de signos, a linguística estrutural propõe investigar certos elementos básicos que compõem, combinam-se e estão presentes em todas as línguas, sem distinção. O teórico mais proeminente da linguística estrutural foi Ferdinand de Saussure No domínio das ciências sociais, o estruturalismo também dispensa a análise histórica (ou análise diacrônica). No transcurso do seu desenvolvimento, o estruturalismo se opôs a todas as formas de historicismo até então prevalecentes nas ciências sociais, principalmente o de origem marxista. O estruturalismo nas ciências sociais se assenta no pressuposto de que em todas as sociedades (sejam elas arcaicas, tradicionais ou modernas) existe um conjunto de instituições (jurídicas, políticas e propriamente sociais) que formam uma unidade, uma "estrutura", um "todo coerente". Na perspectiva estrutural, os vários componentes (ou instituições) que estão presentes em determinada sociedade são analisados em relação à totalidade dessa mesma sociedade. Assim, a ocorrência de qualquer mudança ou modificação entre as partes constitutivas do "todo" afetam, consequentemente, o conjunto do sistema social. (1857-1913).

Primórdios da análise estrutural

Antes mesmo de o estruturalismo se tornar uma perspectiva de análise relevante e influente nas ciências sociais (em termos acadêmicos), alguns pensadores sociais e políticos já haviam trabalhado com base na abordagem estruturalista, mas sem se preocupar com a sistemática metodológica de suas pesquisas e estudos. Os exemplos clássicos que podem ser citados são os escritos de Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu (1689-1755). E, entre eles, o principal: sua obra O Espírito das Leis, em que são consideradas em seu conjunto as instituições jurídicas, os regimes políticos e a organização social como um sistema singular que forma uma estrutura social. De igual modo, Alexis de Tocqueville (1805-1859), em O Antigo Regime e a Revolução e em Democracia na América, trabalha com a perspectiva estrutural nas caracterizações e comparações das sociedades que são objetos centrais de seus estudos. Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo-bases-teoricas.jhtm

sábado, 27 de junho de 2009

Estruturalismo - Quais as origens desse método de análise?

Por José Renato Salatiel*
O que determina o modo como pensamos, nos relacionamos com os outros, nos comportamos à mesa, nos vestimos e vivemos em família? Será que cultura e sociedadeestruturalismo francês, movimento intelectual que atingiu seu apogeu na segunda metade da década de 1960, a segunda hipótese seria mais viável para investigar tais fenômenos. Pode-se dizer que o estruturalismo foi o último movimento filosófico francês a ganhar notoriedade mundial, logo após o existencialismo, corrente criticada em debates que envolveram dois dos maiores expoentes dessas escolas filosóficas, respectivamente, Michel Foucault (1926-1984) e Jean-Paul Sartre (1905- 1980). Mas o estruturalismo reuniu pensadores de diversas áreas das ciências humanas, a ponto de ser difícil encontrar um núcleo coeso que permita classificá-lo como sistema filosófico. Na verdade, o estruturalismo é mais um método de análise, que consiste em construir modelos explicativos de realidade, chamados estruturas. Por estrutura entende-se um sistema abstrato em que seus elementos são interdependentes e que permite, observando-se os fatos e relacionando diferenças, descrevê-los em sua ordenação e dinamismo. É um método que contraria o empirismo, que vê a realidade como sendo constituída de fatos isolados. Para o estruturalismo, ao contrário, não existem fatos isolados, mas partes de um todo maior. Assim, compreende-se que: foram historicamente construídas pela ação do homem ou existiriam estruturas ocultas que explicariam nossos hábitos? Para o
  • Alguns fenômenos podem ser explicados não pelo que deixam à mostra, mas por uma estrutura subjacente.
  • Os fatos possuem uma relação interna, de tal forma que não podem ser entendidos isoladamente, mas apenas em relação aos seus pares antagônicos. Para entender como esse método funciona, é preciso estudar suas origens, na Lingüística e na Antropologia.

    A linguagem

    O método estruturalista foi usado pela primeira vez pelo lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) em sua obra póstuma, editada por alunos, Curso de Lingüística Geral. Nesta obra, Saussure fornece as bases teóricas para duas importantes ciências do século 20: a Lingüística Estrutural e a Semiologia, ou ciência dos signos. As teorias de Saussure podem ser explicadas por meio de quatro dicotomias. A primeira diz respeito a duas formas de se abordar a linguagem:
  • Língua: o aspecto social da linguagem.
  • Fala: o aspecto individual da linguagem. A segunda refere-se a tipos de estudos da linguagem:
  • Lingüística sincrônica (estática ou descritiva): estuda a constituição da língua (fonemas, palavras, gramática, etc.) num dado momento.
  • Lingüística diacrônica (evolutiva ou histórica): estuda as mudanças da língua através dos tempos. A originalidade de Saussure foi propor um estudo da língua enquanto sistema social de um ponto de vista sincrônico, não histórico, como vinha sendo feito antes. Ele também propõe o nome de semiologia, ou estudo do signo lingüístico, que contém:
  • Significante: é a expressão material do signo, como o som da palavra "árvore" ou a imagem da palavra escrita no papel.
  • Significado: o conceito que o significante representa ou o conteúdo do signo, uma idéia, como a árvore que eu imagino ao ouvir ou ler a palavra escrita. A palavra estrutura não aparece na obra do lingüista suíço, mas se faz presente no conceito de sistema, que quer dizer uma análise estrutural que inclui o estudo da língua em suas relações internas, conforme a terceira dicotomia:
  • Eixo sintagmático: um termo só é compreendido em oposição (relação) a outro termo. Ex.: "O semáforo está verde".
  • Eixo paradigmático: o termo é associado a outros, presentes na memória. Por exemplo, na frase anterior, ao invés de semáforo, uso "sinal" e ao invés de "está verde", "abriu": "O sinal abriu". Saussure, ao entender a linguagem como estrutura subjacente e sistema cujos elementos são solidários entre si (e que, somente assim, adquirem valor e sentido), e, ainda, vista de uma perspectiva não histórica, inaugurou o método estruturalista de análise.

    Os mitos

    A primeira aplicação do estruturalismo fora do âmbito da lingüística foi feita pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908), hoje aposentado e um dos mais importantes intelectuais vivos. Lévi-Strauss observou, ao estudar tribos indígenas de vários países, incluindo o Brasil, um conjunto de normas que se preservavam em diferentes culturas, como se fossem formas inconscientes que moldavam o pensamento e o comportamento dos povos. Diferente de uma abordagem histórica, que não veria as relações, ele empregou o método da lingüística estrutural em, basicamente, dois sentidos:
  • Como uma estrutura profunda ou inconsciente.
  • Como elementos que só adquirem significado quando vistos dentro dessa estrutura. Conseqüentemente, existiriam estruturas que determinam regras de vestuário, alimentação, parentesco, condutas morais e políticas recorrentes em diferentes povos, e que não são visíveis. Os mitos, segundo Lévi-Strauss, são estruturados com linguagem, de modo que, da mesma forma que na língua - eu não penso em formas gramaticais quando falo, apenas falo -, também não penso em mitos quando os reproduzo inconscientemente (como Freud mostrou com o mito de Édipo, por exemplo): os mitos só funcionam quando a estrutura permanece invisível, como a linguagem. A conclusão do antropólogo é a de que o pensamento mítico não está no homem, mas o próprio homem é que é pensado nos mitos. Mas vejamos outro exemplo da antropologia estrutural de Lévi-Strauss nas relações de parentesco. Parte-se da compreensão de que fenômenos de parentesco são estruturados como fenômenos lingüísticos. Então, procede-se à identificação de elementos desta estrutura: pai, mãe, filhos, tios e irmãos. Cada um desses termos só faz sentido estando em relação aos demais: o pai autoritário em relação à mãe protetora, por exemplo. O que o antropólogo verificou, no convívio com culturas diversas, foi que, apesar das diferentes formas de filiação e relações de afetividade, hostilidade, antagonismo ou reserva (tios mais afetivos, pais mais hostis e irmãos mais conflituosos, por exemplo), a mesma estrutura de oposições - pai/mãe, tios/sobrinhos, irmãos/irmãs - permanece inalterada.

    Outros estruturalistas

    No decorrer das décadas de 1960 e 1970, surgiram aplicações do método estruturalista em áreas como crítica literária, cinema, estudos culturais e publicidade, entre outros, o que provocou críticas de abusos. Alguns dos mais renomados intelectuais e pensadores franceses empregaram o método em suas obras, como Jacques Lacan (1901-1981), que concebeu o inconsciente como estruturado na forma de linguagem; Foucault, que estudou estruturas discursivas que condicionavam o pensamento do homem em determinadas épocas; Roland Barthes (1915-1980), que examinou os mitos modernos, a moda e a literatura; e Louis Althusser (1918-1990), que fez uma leitura estruturalista da obra de Marx.

    Leituras recomendadas

    Curso de Lingüística Geral, de Saussure, foi publicado no Brasil pela Editora Cultrix. Uma boa introdução ao pensamento de Lévi-Strauss é Antropologia Estrutural (Tempo Brasileiro), que reúne ensaios do autor. Outros livros indicados são Mitologias (Difel), de Roland Barthes, As Palavras e as Coisas (Martins Fontes), de Foucault, e EscritosHistória do Estruturalismo (EDUSC), de François Dosse. (Perspectiva), de Lacan. Para mais detalhes sobre o movimento estruturalista,
  • *José Renato Salatiel é jornalista e professor universitário. Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo.jhtm

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