quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo!!! Feliz 2010!!!







Daqui a pouco, um Ano Novo vai chegar a esta estação.
Se não puder ser o maquinista, seja o seu mais divertido passageiro.
Procure um lugar próximo à janela, desfrute cada uma das paisagens que o tempo lhe oferecer, como o prazer de quem realiza a primeira viagem.
Não se assuste com os abismos, nem com as curvas que não lhe deixam ver os caminhos que estão por vir.
Procure curtir a viagem da vida, observando cada arbusto, cada riacho, beirais de estradas e tons mutantes de paisagem.
Desdobre o mapa e planeje roteiros.
Preste atenção em cada ponto de parada, e fique atento ao apito da partida.
E quando decidir descer na estação onde a esperança lhe acenou, não hesite:
Desembarque nela os seus sonhos...
 
Desejo que sua viagem pelos dias do próximo ano seja de PRIMEIRA CLASSE com estes Princípios Básicos:

 

1. Seja ético. A vitória que vale a pena é a que aumenta a dignidade e reafirma valores profundos.
 
2. Estude sempre e muito. A glória pertence àqueles que tem um trabalho especial para oferecer.
 
3. Seja grato a quem participa de suas conquistas. O verdadeiro campeão sabe que as vitórias são alimentadas pelo trabalho em equipe. Agradecer é a melhor maneira de deixar os outros motivados.
 
4. Eleve suas expectativas. Pessoas com sonhos grandes obtêm energia para crescer. Os vencedores pensam em como realizar seu objetivo. 
 
5. Tenha metas claras. A História da Humanidade é cheia de vidas desperdiçadas: amores que não geram relações enriquecedoras, talentos que não levam carreiras ao sucesso, etc. Ter objetivos evita desperdícios de tempo, energia e dinheiro.
 
6. Cuide bem do seu corpo. Alimentação, sono e exercício são fundamentais para uma vida saudável. Seu corpo é seu templo. Quando você tiver 60 anos, alguém pode lhe pedir para fazer algo realmente grande.
 
7. Qualifique os relacionamentos profissionais. Os amigos são a melhor referência em crises e a melhor fonte de oportunidades na expansão. Ter bons contatos é essencial em momentos decisivos.
8. Tenha um orientador. Viver sem é decidir na neblina, sabendo que o resultado só será conhecido, quando pouco resta a fazer. Procure alguém de confiança, de preferência mais experiente e mais bem sucedido, para lhe orientar nas decisões, caso precise.
 
9. Jogue fora o vício da preocupação. Viver tenso e estressado está virando moda. Parece que ser competente e estar de bem com a vida são coisas incompatíveis. Bobagem... Defina suas metas, conquiste-as e deixe as neuras para quem gosta delas. 
 
10. Tenha amigos vencedores. Aproxime-se de pessoas com alegria de viver, celebre as vitórias e compartilhe o sucesso, mesmo as pequenas conquistas, com pessoas queridas. Grite, chore, encha-se de energia para os desafios seguintes.
 
11. Arrisque! A vida não é para covardes. Quem fica a noite em casa sozinho, só terá que decidir que pizza pedir. E o único risco será o de engordar. 
 
12. Tenha uma vida espiritual. Conversar com Deus é o máximo, especialmente para agradecer. Ore antes de dormir. Faz bem ao sono e a alma. Oração e meditação são fontes de inspiração.
 
Um  abraço e feliz viagem em 2010!

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Recebi essa mensagem, da minha amiga Ana Maria ( Minas Gerais). Obrigada!!


quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A Postura do Aluno diante da Discussão Filosófica, por Sérgio Biagi Gregório





A discussão filosófica envolve as noções de análise, principalmente a análise de conceitos. O que significa analisar? Analisar é não só decompor e discernir as diferentes partes de um todo, mas também reconhecer as diferentes relações que elas mantêm, quer entre si, quer com o todo. Em outras palavras, analisar é ousar enfrentar a complexidade, é fazer-se "engenheiro do sentido". O que é um conceito? É o que o dicionário diz? O que se entende por analisar conceitos? Na análise de conceitos devemos distinguir as perguntas sobre fatos, valores e os próprios conceitos.

Entendamos essas distinções. Quando questionamos se o barco afunda com o peso de uma baleia, estamos diante de uma pergunta sobre fatos. Há dados técnicos sobre o barco: tamanho, resistência e durabilidade. Se, por outro lado, quisermos saber se uma dada pessoa gosta de transportar baleia de barco ou de navio, estamos diante de uma pergunta sobre valores. Agora, se quisermos saber o que é um barco ou o que é uma baleia ou, ainda, se baleia é peixe, estamos diante de uma pergunta sobre conceitos.

As perguntas sobre conceitos deixam as pessoas – de mentes arrumadinhas – meio atrapalhadas. Dá-se a impressão que, depois de uma reunião onde se discutiu, discutiu, ninguém chegou a lugar nenhum. Parece que estamos procurando pelo em ovo. Mas justamente nesse ponto, ou seja, na tentativa de verificar o conceito é que vamos nos tornando mais conscientes do significado ou dos vários usos que uma palavra pode assumir. 

Tomemos, arbitrariamente, a palavra "eu". O que significa o "eu"? O que os dicionários dizem? E a filosofia? E a psicologia? Independentemente de toda a literatura, o que você pensa sobre o "eu"? Qual o seu parecer? O "eu" é independente ou dependente do "nós"? Em outras palavras: quando o "eu" é "eu"? Diariamente, somos bombardeados pelas informações do rádio, da televisão, dos jornais etc. Que tipo de influência isso exerce sobre o nosso "eu"? O "eu" é imune aos elogios e às censuras? O "eu" dá a idéia de egoísmo ou o "eu" faz parte da Humanidade? Ortega y Gasset dizia: "Eu sou eu mais as minhas circunstâncias". Poderíamos acrescentar: somente as circunstâncias presentes ou aquelas que envolvem encarnações passadas? Quando Jesus disse para nos salvarmos, referia-se a um "eu" particular ou à humanidade como um todo?

A discussão filosófica deve criar condições para que cada um possa pensar por si mesmo. O que se entende por pensarmos por nós mesmos? Seria meditarmos num lugar à parte, isolando-nos e mantendo-nos em êxtase? O pensar por nós mesmos é participarmos da sociedade, tendo, porém, o cuidado de não sermos expectadores de frutos de vitrine, ou seja, repetidores do que os outros disseram. Temos de fazer com que os pensamentos alheios façam parte de nós mesmos. Por isso, a recomendação de moermos e remoermos as informações até que eles possam entrar em nosso psiquismo, em nossos sentimentos e em nossas emoções.

Exercício proposto: "Quem não vem pelo amor vem pela dor". Tomemos as duas palavras mais fortes: amor e dor. Na frase, o amor exclui a dor e vice-versa. Será isso uma verdade? Nós não podemos amar na dor? E quando a pessoa vai por curiosidade? Isto invalida a frase acima? O que você acha? Qual o seu parecer?


Fonte: http://www.ceismael.com.br/filosofia/postura-do-aluno-filosofia.htm

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um Canto de Natal, por Guilherme Modkovski *



É de senso comum que durante as festividades de fim de ano as pessoas estão mais vulneráveis à depressão e ao suicídio. Contrariando esta crença, estudos apontam uma diminuição das internações em hospitais e emergências psiquiátricas bem como das tentativas de suicídio e de suicídios consumados durante este período. Objetivamente, o que acontece é uma redução em até 40% desses desfechos. O que pode significar que, em verdade, esse é um período de maior proteção contra essas fatalidades. Nas festas de Natal e Ano-Novo, procuramos nos aproximar das pessoas que nos são queridas e nos envolvemos em rituais festivos. Talvez seja na reunião em torno desses rituais, e não nos rituais em si, que resida a propriedade protetora desta época do ano.

Mas nenhum mito surge sem razão. Também é verdade que neste período muitas pessoas são acometidas por sentimentos de tristeza e angústia. Para refletirmos sobre essas angústias, proponho nos remetermos à obra de Charles Dickens Um Canto de Natal. É a insólita história de um Natal da vida de Ebenezer Scrooge, um velho avarento e amargo que recebe assustadora visita de três fantasmas: o dos Natais passados, o do Natal presente e o dos Natais futuros.

A história foi amplamente revisitada e adaptada para cinema, teatro e televisão devido ao sucesso com que simboliza o nosso próprio mundo de pensamentos, sentimentos e fantasias inconscientes. Assim, é possível associar a visita do fantasma dos Natais passados aos nossos sentimentos de perda, aos entes queridos que se foram, às reuniões familiares agora impossíveis, aos Natais de ouro da infância, aos relacionamentos amorosos findados etc. Também representam a frustração e o arrependimento pelo que não se fez, não se conquistou ou não se mudou. Este último sentimento nos leva às assombrações do Natal presente. As expectativas de reunião, de uma festa perfeita, de comprarmos, recebermos e darmos muitos e belos presentes e de assim obtermos nada mais que a felicidade dourada e perfeita.

A virada de ano é também um marco cultural da passagem do tempo. Outro ciclo solar se completa e somos forçados a uma reflexão existencial. A ideia da transitoriedade, de um movimento inexorável em direção ao fim da vida, que negamos de uma forma ou de outra na maior parte do tempo, nos é esfregada na cara como uma verdade incontestável. Este vislumbre translúcido e irreal dá lugar a angústias sem nome, tristezas sem causa aparente, crises de pânico, pesadelos terroríficos, temores hipocondríacos e toda sorte de sofrimentos da esfera psíquica. Por trás deles, sob o véu do último fantasma, ali está ela: a concretude do fim. Cada pessoa a experimenta de forma particular, não se tratando de uma doença depressiva, mas sim de uma vivência humana universal e natural.

Voltando à história de Scrooge, após ser obrigado a contemplar a própria lápide, ele consegue se libertar. Finalmente lhe sobrevém o entendimento de que há um tempo a nós destinado que nos é muito precioso. Scrooge abandona seus hábitos avarentos que lhe serviam de defesa contra a ideia da morte. A aceitação da finitude lhe permitiu focar-se na vida e nas pessoas significativas. Assim, acredito que cada um que se permitir desembrulhar este belo presente de sua terrível embalagem poderá desfrutar de uma vida mais plena. Um feliz Natal a todos.





* Médico psiquiatra


Fonte: Jornal Zero Hora 


Imagem em: blogs.jovempan.uol.com.br/.../ 

sábado, 19 de dezembro de 2009

Capacidade de indignação, por Antônio Mesquita Galvão *




A palavra indignação tem sua origem em uma reação diante de algo indigno. Trata-se de um sentimento de revolta experimentado frente a uma indignidade, injustiça, afronta ao bem comum ou desprezo à ética social.
A indignação sempre aponta para uma reação ética contra atitudes, sejam do cotidiano sociofamiliar ou das relações políticas, em que os juízos de valor revelam a ilicitude e/ou impropriedade de algum tipo de comportamento.
A indignação ética desencadeia necessariamente um tipo de reação em que a pessoa toma consciência de algum ilícito e parte para uma demonstração, formal, pacífica ou até violenta de inconformidade.
Há dias, escutei um programa em uma rádio de Porto Alegre em que o assunto “indignação” foi enfocado, a partir da agressão sofrida por Silvio Berlusconi, quando um cidadão italiano, abalado com tanta corrupção moral, botou para fora toda a sua revolta contra aquele homem público. Revendo alguns fatos, passados e não tão passados, recordei a revolta da torcida do Coritiba; a mulher que quebrou os vidros de um hospital que deixou de atender sua filha de dois anos; a sapatada que um jornalista iraquiano deu em Bush, e outras tantas passeatas frente à casa de políticos que se veem por aí.
Essas agressões, todas elas injustificáveis, denotam a que ponto chega a exasperação das pessoas. Quando não se bota para fora a indignação, ela vai se comprimindo num processo de recalque, qual uma mola pressionada. Um dia, o disparo é inevitável. É perigoso o estouro de uma indignação.
No terreno das indignações com os descaminhos políticos, alguns ingênuos costumam citar o voto como ferramenta de faxina na sociedade. Trata-se de um ledo engano. Primeiro, porque a mudança vai levar quatro anos; depois, porque muitos conseguem se reeleger, e, por último, não é raro a gente eleger alguém que parecia sério e competente e depois se revela um desastre. A indignação nasce do sentimento de impotência que temos diante de fatos que contrariam o bom senso, a ética e a decência.
São vazias certas manifestações de desconformidade, pois a corrupção nacional é uma bandeira, a incompetência tornou-se um outdoor dos burocratas, e a indiferença, uma prática usual. A geração crescente de escândalos e a impunidade se tornaram a antítese de nossa capacidade de indignação.
É lamentável constatar que neste país das liminares, de habeas corpus, dos desmentidos do indesmentível e de tantas pizzas, indignar-se é tempo perdido e geração de estresses.

Tema para debate no Jornal Zero Hora - RS.
zerohora.com
Adianta manifestar indignação com a corrupção no país?
* Escritor e filósofo 

Fonte: Jornal Zero Hora 
Imagem:www.depapocomamirna.blogger.com.br/2003_10_01.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Ética e Responsabilidade, por Sérgio Biagi Gregório

1. INTRODUÇÃO

O objetivo deste estudo é refletir sobre a ética e a responsabilidade, no sentido de motivar as nossas ações para a prática do bem. Assim, analisaremos o problema do comportamento ético-moral e a autodeterminação do indivíduo dentro da sociedade.

2. CONCEITO

Ética - do gr. ethos significa originalmente morada, seja o habitat dos animais, seja a morada do homem, lugar onde ele se sente acolhido e abrigado. O segundo sentido, proveniente deste, é costume, modo ou estilo habitual de ser. A morada, vista metaforicamente, indica justamente que, a partir do ethos, o espaço do mundo torna-se habitável para o homem. Assim, o espaço do ethos enquanto espaço humano, não é dado ao homem, mas por ele construído ou incessantemente reconstruído. (Nogueira, 1989)

Responsabilidade - do lat. responsabilitas, de respondere = responder, estar em condições de responder pelos atos praticados, de justificar as razões das próprias ações. De direito, todo o homem é responsável. Toda a sociedade é organizada numa hierarquia de autoridade, na qual cada um é responsável perante uma autoridade superior. Quando o homem infringe uma de suas responsabilidades cívicas, deve responder pelo seu ato perante a justiça. (Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo)

Responsabilidade moral. Filos. 1. Situação de um agente consciente com relação aos atos que ele pratica voluntariamente. 2. Obrigação de reparar o mal que se causou aos outros. (Dicionário Aurélio)

3. HISTÓRICO

3.1. ANTIGUIDADE

Desde que o homem teve de viver em conjunto com outros homens, as normas de comportamento moral têm sido necessárias para o bem estar do grupo. Muitas destas normas eram extraídas das religiões existentes, que cheias de dogmas e tabus impunham uma dose de irracionalidade ao valor moral. Mesmo entre os chineses, que não possuíam uma religião organizada, havia muitas normas esotéricas de comportamento ético.

A especulação exotérica começa somente com o pensamento grego. Sócrates, Platão e Aristóteles são os seus principais representantes. Sócrates dizia que a virtude é conhecimento; e o vício, é o resultado da ignorância. Então, de acordo com Sócrates, somente a educação pode tornar o homem moralizado. Platão estabelece que a vida ética é gradativamente mais elevada pela adequação desta às idéias (eide) superiores, análogas à forma do bem. Aristóteles deu à ética bases seguras. Dizia que o fim do homem é a felicidade temporal da vida de conformidade com a razão, e que a virtude é o caminho dessa felicidade, e esta implica, fundamentalmente, a liberdade.

3.2. IDADE MÉDIA

Na Idade Média, os valores éticos são condicionados pela religião cristã, especificamente o Catolicismo. A Patrística e a Escolástica são os seus representantes. Nesse período, dá-se ênfase à revelação dos livros sagrados. O Pai, o Filho e o Espírito Santo determinam as normas de conduta. Jesus, que é filho e Deus ao mesmo tempo, torna-se o grande arauto de uma nova ética, a ética do amor ao próximo. Porém, essa ética é conspurcada pelos juízos de valores de seus representantes, que distorcem a pureza do cristianismo primitivo.

As exortações católicas mantiveram-se por longos anos. Contudo, no século XVI começou a sofrer a pressão do Protestantismo, ou seja, a reação de algumas Igrejas às determinações da Igreja de Roma. Para os protestantes, a ética não é baseada na revelação, mas nos valores éticos, examinados e procurados de per si. A revelação religiosa pertence à religião. O filósofo ético deve procurar os fundamentos ontológicos dessa disciplina, tão longe quanto lhe seja possível alcançar.

3.3. IDADE MODERNA

Kant, o quebra tudo, surge nesse contexto. Para Kant a Ética é autônoma e não heterônoma, isto é, a lei é ditada pela própria consciência moral e não por qualquer instância alheia ao Eu. Como vemos, Kant dá prosseguimento à construção da própria moral. Não espera algo de fora. Aquilo que o homem procura está dentro dele mesmo. Muitos são os filósofos que seguiram Kant. Depois destes, surgem Scheller (1874-1928) , Müller, Ortega y Gasset etc., que penetram na ética axiológica, ou seja, estuda a ética do ângulo dos valores. (Santos, 1965)

4. ÉTICA E MORAL

Ética - do grego ethos significa comportamento; Moral - do latim mores, costumes. Embora utilizamos os dois termos para expressarmos as noções do bem e do mal, convém fazermos uma distinção: a Moral é normativa, enquanto a Ética é especulativa. A Moral, referindo-se aos costumes dos povos nas diversas épocas, é mais abrangente; a Ética, procurando o nexo entre os meios e os fins dos referidos costumes, é mais específica. Pode-se dizer, que a Ética é a ciência da Moral.

Ética e Moral distinguem-se, essencialmente, pela especulação da Lei. A Ética, refere-se à norma invariante; a Moral, à variante. Contudo, há uma relação entre ambas, pois a sistematização da segunda tem íntima relação com a primeira.

O caráter invariante da Lei possibilita-nos questionar: de onde veio? Quem a ditou? Por que? Com que fim? A resposta dos transcendentalistas é que ela é heterônoma, isto é, veio de fora do "eu". Deus seria o autor da norma. Liga-se, assim, Filosofia e Religião. Para os cristãos, as normas éticas estão centradas nos Dez Mandamentos; a resposta dos imanentistas é que ela é autônoma, isto é, surge das tensões das circunstâncias. (Santos, 1965)

5. AUTODETERMINAÇÃO E RESPONSABILIDADE

A autodeterminação expressa a essência do ser. É o poder que temos de atualizar nossas virtualidades. O pensamento científico auxilia, mas são os aspectos psicológicos, ideológicos, religiosos e filosóficos que emprestam o maior peso à nossa deliberação na vida. As virtualidades podem ser ativas e passivas. Se ativas, já estão determinadas de uma forma; se inativas, sabemos que estão em ato sob uma forma, mas que podem ser assumidas de outra forma, isto é, que são especificamente diferentes do que podem ser.

A ação humana, embora restrita à responsabilidade pessoal, tem como objetivo o interesse público. A vivência, semelhante à do eremita no deserto, é uma exceção. A questão ética diz respeito ao auxílio que cada um possa exercer na transcendência do outro. Em realidade, é a criação de condições para que o outro realize plenamente o seu projeto de vida ao qual foi destinado.

O princípio da autodeterminação moral é a base do comportamento ético adulto. Deixar-se guiar-se pelas máximas alheias é perder o eu em si mesmo. Segundo Sócrates, o ethos verdadeiro é agir de acordo com a razão, que se eleva acima do consenso da opinião da multidão, para atingir o nível da objetividade própria do saber demonstrativo. A autonomia, assim, não se realiza na solidão, mas se consolida pelo contato entre os seres humanos.

A lei é o farol da ética. Sua origem etimológica encontra-se no termo nomos de que o vocábulo lei (lex) é a tradução latina. Nomos vem do verbo nemo que significa dividir, repartir com outro, sugerindo a idéia de justiça. Dessa forma, as ações individuais no cumprimento dos deveres, devem salvaguardar a liberdade própria e a do outro. Por isso, Voltaire afirma com veemência: "Não concordo com o que você diz, mas defenderei o direito de você dizê-lo até o fim". (Nogueira, 1989)

6. COMPORTAMENTO ÉTICO

A reflexão sobre o ethos leva-nos à prática do amor. O verdadeiro exercício do amor longe está das proibições e interdições de que a moral propõe. É uma autodeterminação que envolve a autonomia da vontade na busca da atualização do ser. Assim, não é agir de qualquer jeito, mas de forma ordenada, generosa, que promova a pessoa e os direitos do outro, sobretudo quando esses direitos são espezinhados.

O comportamento ético não consiste exclusivamente em fazer o bem a outrem, mas em exemplificar em si mesmo o aprendizado recebido. É o exercício da paciência em todos os momentos da vida, a tolerância para com as faltas alheias, a obediência aos superiores em uma hierarquia, o silêncio ante uma ofensa recebida.

7. CONCLUSÃO

A Ética, a Moral e a Responsabilidade determinam a perfeição do ser. Acostumados a confundir os meios com os fins, não conseguimos visualizar claramente o fim último da existência humana. Por isso, o erro crasso de conceber a Moral como um mero e fastidioso catálogo de proibições. O fim do homem é, pois, o de realizar, pelo exercício de sua liberdade, a perfeição de sua natureza. Implica, muitas vezes, a obediência à vontade de Deus, contrariando a própria, se assim delimitar, o dever, imposto pela sua consciência.

8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ÁVILA, F. B. de S.J. Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo. Rio de Janeiro, M.E.C., 1967. FERREIRA, A. B. de H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, s/d/p. NOGUEIRA, J. C. Ética e Responsabilidade Pessoal. In MORAIS, R. de. Filosofia, Educação e Sociedade (Ensaios Filosóficos). Campinas, SP, Papirus, 1989. SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.

São Paulo, maio de 1999.

Fonte: http://www.ceismael.com.br

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Minto, logo existo .

Leitura recomendada: Blog da Philoterapia, do filósofo Sérgio Peixoto Mendes

Excelente artigo, vale a pena ler:

Minto, logo existo

O orgulho, no seu sentido pejorativo e vulgar, tem sido a causa de muitos males e desavenças nos dias atuais. O sujeito orgulhoso não consegue, na maioria das vezes, admitir seus próprios erros e, geralmente, opta por mentir em detrimento de um simples e mágico pedido de desculpas. O orgulho e o autoritarismo, que tenta impor uma verdade particular, estão radicalmente ligados a mentira. Reconhecer o erro poderia facilitar a vida de muita gente, mas, para que facilitar se é mais fácil mentir, enrolar e sair impune? Justificar-se com argumentos falaciosos e esfarrapados, corrompido pela mentira, é um caminho aparentemente mais fácil, entretanto, é uma opção burra, apesar de uso muito corriqueiro na vida política e por todo tipo de autoridade. Mentir virou uma arte neste meio público, nele sobrevive quem mente melhor, quem nega com mais veemência.

Hoje é muito comum o sujeito negar a própria imagem. Gente flagrada com a “mão na botija” recebendo propina, gravada em vídeo e áudio, nega. Políticos flagrados em discursos contraditórios negam e pedem para esquecer o que disseram no passado. Do ponto de vista mais filosófico, pode-se dizer que há uma re-invenção dupla do cogito cartesiano que hoje seria mais ou menos assim: Penso, logo minto e Minto, logo existo. Ou algo ainda mais ilógico: eu não sou eu. É o tempo do sujeito que nega a si mesmo diante da sua própria imagem. Recentemente foi assunto na mídia o caso de Odair Silis, prefeito da cidade de Monte Castelo, a 677 km de São Paulo, suspeito de exigir propina na execução de uma obra pública na cidade. O político negou a imagem mostrada na TV minutos antes, sem o menor constrangimento. É impressionante a anterioridade da mentira em relação ao pedido de perdão e, da tão bem vinda, “minhas desculpas, errei”, ou, como diz a garotada: foi mal, tio. O reconhecimento do erro é uma arte incomum, pois tem na sua base uma virtude ainda maior e mais difícil, a humildade. Esta caiu em desuso há muito tempo. Humilde é otario, indivíduo tolo e ingênuo e que, provavelmente, não irá chegar a lugar nenhum, pois todos irão enganá-lo antes.

Caro leitor, experimente ser humilde, bondoso e sensível no trânsito, por exemplo. Experimente falar a verdade o tempo todo. Ensaie pedir desculpas pelos seus erros. Verás que tua vida mudará completamente. Não irá faltar gente ao seu lado para orientá-lo a se internar num sanatório, mas, persista, lute contra esta selva de pedra, dê o seu exemplo, não cuspa no chão, junte os dejetos do seu cachorro, vá em frente. Esmague o seu ego, tenha coragem para nunca ter de dizer: eu, não sou eu.

Infeliz é aquele que renega a si mesmo diante de um delito – ou mesmo diante de um espelho - este se mortifica diante de seu passado, pois, de forma funesta se abraçou às facilidades da arte de enganar, a si mesmo e aos outros. Apesar de colher alguns benefícios passageiros vão se dar mal logo ali adiante.

Sérgio Peixoto Mendes, filósofo.

Contato: autor@sucatinhas.com.br

Fonte:Blog da Philoterapia

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