terça-feira, 30 de junho de 2009

Estruturalismo - estudos contemporâneos - A antropologia cultural

Renato Cancian*
Na segunda metade do século 20, o estruturalismo expandiu-se para várias áreas das ciências sociais, como a economia, a sociologia, a ciência política e a antropologia. Na sociologia e na ciência política três autores contemporâneos se destacaram em razão de seus estudos comparativos. São eles: Barrington Moore Jr., que é autor do livro Origens Sociais da Ditadura e da Democracia: senhores e componeses na construção do mundo moderno, publicado em 1966; Charles Tilly, que publicou inúmeros estudos políticos e sociológicos tratando do surgimento e evolução dos Estados modernos e da dinâmica dos processos revolucionários; e, finalmente, Theda Skocpol, autora de Estado e Revoluções Sociais: análise comparativa da França, Rússia e China, publicado em 1979. Todos esses cientistas sociais elaboraram estudos com base na perspectiva estrutural, também denominada de abordagem institucional.

Antropologia estrutural

A economia, a sociologia e a ciência política nunca adotaram explicitamente a denominação "estrutural" para caracterizar um campo de estudos específicos. Mas a antropologia fugiu a essa regra e desenvolveu o campo de estudo denominado de "antropologia estrutural". Sem dúvida, foi o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss o expoente mais notório da teoria e da análise estrutural. Seus estudos com enfoque nas sociedades primitivas (também chamadas de sociedades simples ou arcaicas) tiveram grande influência acadêmica. Lévi-Strauss se destacou nas análises do parentesco e do pensamento mítico. No livro intitulado Estruturas elementares do parentesco, publicado em 1949, o antropólogo aplicou a perspectiva estrutural, a fim de demonstrar que as regras de proibição do "incesto" (que pode ser definido como a relação sexual ou marital entre parentes próximos) vigoram em todas as sociedades humanas conhecidas. Segundo Lévi-Strauss, o "tabu do incesto" pode ser considerado um fenômeno universal, que está presente em todas as sociedades humanas, mas cada sociedade (ou conjunto de sociedades) desenvolveu mecanismos diferenciados e específicos, com o objetivo de justificar e aplicar as regras de proibição das relações sexuais e maritais consanguíneas. Esse tabu pode ser concebido como um mecanismo social que reflete o domínio da cultura sobre a natureza. A abordagem dos pensamentos e narrativas míticas recebeu tratamento semelhante. Em seu célebre estudo comparativo intitulado Mitológicas o cientista social francês demonstrou que o mito não existe isoladamente, pois está relacionado com outros mitos. Da mesma forma que a linguística estrutural isola os elementos básicos presentes em todas as línguas (fonemas, morfemas, etc.), o mito possui unidades elementares denominados mitemas, que podem ser reduzidos a "pares de oposição binária" e que sustentam a estrutura do pensamento mítico em geral. Os pares de oposição binária presentes nas narrativas míticas - tais como masculino-feminino, cru-cozido, pai-mãe, terra-água, entre inúmeros outros - refletem questões primordiais que afetam as sociedades humanas, nas quais a "cultura" tem predomínio sobre a "natureza". A partir da década de 1970, o estruturalismo formulado por Lévi-Strauss na análise das organizações sociais primitivas (e de igual modo a antropologia estrutural como um todo) sofreu reformulações teóricas à medida que novos paradigmas surgiram no âmbito da linguística e das ciências sociais. Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo-estudos-contemporaneos.jhtm

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Estruturalismo - bases teóricas - O desprezo pela análise histórica

Renato Cancian*
O estruturalismo é uma teoria que se desenvolveu no âmbito das ciências sociais a partir da década de 1960. A teoria estruturalista é originária da ciência linguística e foi incorporada às ciências sociais primeiramente por influência dos trabalhos de cientistas sociais franceses. A linguística estrutural não está preocupada com a evolução histórica das variedades de línguas (ou dialetos) existentes, mas com a estrutura da linguagem. Concebendo a linguagem como um sistema de signos, a linguística estrutural propõe investigar certos elementos básicos que compõem, combinam-se e estão presentes em todas as línguas, sem distinção. O teórico mais proeminente da linguística estrutural foi Ferdinand de Saussure No domínio das ciências sociais, o estruturalismo também dispensa a análise histórica (ou análise diacrônica). No transcurso do seu desenvolvimento, o estruturalismo se opôs a todas as formas de historicismo até então prevalecentes nas ciências sociais, principalmente o de origem marxista. O estruturalismo nas ciências sociais se assenta no pressuposto de que em todas as sociedades (sejam elas arcaicas, tradicionais ou modernas) existe um conjunto de instituições (jurídicas, políticas e propriamente sociais) que formam uma unidade, uma "estrutura", um "todo coerente". Na perspectiva estrutural, os vários componentes (ou instituições) que estão presentes em determinada sociedade são analisados em relação à totalidade dessa mesma sociedade. Assim, a ocorrência de qualquer mudança ou modificação entre as partes constitutivas do "todo" afetam, consequentemente, o conjunto do sistema social. (1857-1913).

Primórdios da análise estrutural

Antes mesmo de o estruturalismo se tornar uma perspectiva de análise relevante e influente nas ciências sociais (em termos acadêmicos), alguns pensadores sociais e políticos já haviam trabalhado com base na abordagem estruturalista, mas sem se preocupar com a sistemática metodológica de suas pesquisas e estudos. Os exemplos clássicos que podem ser citados são os escritos de Charles-Louis de Secondat, barão de Montesquieu (1689-1755). E, entre eles, o principal: sua obra O Espírito das Leis, em que são consideradas em seu conjunto as instituições jurídicas, os regimes políticos e a organização social como um sistema singular que forma uma estrutura social. De igual modo, Alexis de Tocqueville (1805-1859), em O Antigo Regime e a Revolução e em Democracia na América, trabalha com a perspectiva estrutural nas caracterizações e comparações das sociedades que são objetos centrais de seus estudos. Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo-bases-teoricas.jhtm

sábado, 27 de junho de 2009

Estruturalismo - Quais as origens desse método de análise?

Por José Renato Salatiel*
O que determina o modo como pensamos, nos relacionamos com os outros, nos comportamos à mesa, nos vestimos e vivemos em família? Será que cultura e sociedadeestruturalismo francês, movimento intelectual que atingiu seu apogeu na segunda metade da década de 1960, a segunda hipótese seria mais viável para investigar tais fenômenos. Pode-se dizer que o estruturalismo foi o último movimento filosófico francês a ganhar notoriedade mundial, logo após o existencialismo, corrente criticada em debates que envolveram dois dos maiores expoentes dessas escolas filosóficas, respectivamente, Michel Foucault (1926-1984) e Jean-Paul Sartre (1905- 1980). Mas o estruturalismo reuniu pensadores de diversas áreas das ciências humanas, a ponto de ser difícil encontrar um núcleo coeso que permita classificá-lo como sistema filosófico. Na verdade, o estruturalismo é mais um método de análise, que consiste em construir modelos explicativos de realidade, chamados estruturas. Por estrutura entende-se um sistema abstrato em que seus elementos são interdependentes e que permite, observando-se os fatos e relacionando diferenças, descrevê-los em sua ordenação e dinamismo. É um método que contraria o empirismo, que vê a realidade como sendo constituída de fatos isolados. Para o estruturalismo, ao contrário, não existem fatos isolados, mas partes de um todo maior. Assim, compreende-se que: foram historicamente construídas pela ação do homem ou existiriam estruturas ocultas que explicariam nossos hábitos? Para o
  • Alguns fenômenos podem ser explicados não pelo que deixam à mostra, mas por uma estrutura subjacente.
  • Os fatos possuem uma relação interna, de tal forma que não podem ser entendidos isoladamente, mas apenas em relação aos seus pares antagônicos. Para entender como esse método funciona, é preciso estudar suas origens, na Lingüística e na Antropologia.

    A linguagem

    O método estruturalista foi usado pela primeira vez pelo lingüista suíço Ferdinand de Saussure (1857-1913) em sua obra póstuma, editada por alunos, Curso de Lingüística Geral. Nesta obra, Saussure fornece as bases teóricas para duas importantes ciências do século 20: a Lingüística Estrutural e a Semiologia, ou ciência dos signos. As teorias de Saussure podem ser explicadas por meio de quatro dicotomias. A primeira diz respeito a duas formas de se abordar a linguagem:
  • Língua: o aspecto social da linguagem.
  • Fala: o aspecto individual da linguagem. A segunda refere-se a tipos de estudos da linguagem:
  • Lingüística sincrônica (estática ou descritiva): estuda a constituição da língua (fonemas, palavras, gramática, etc.) num dado momento.
  • Lingüística diacrônica (evolutiva ou histórica): estuda as mudanças da língua através dos tempos. A originalidade de Saussure foi propor um estudo da língua enquanto sistema social de um ponto de vista sincrônico, não histórico, como vinha sendo feito antes. Ele também propõe o nome de semiologia, ou estudo do signo lingüístico, que contém:
  • Significante: é a expressão material do signo, como o som da palavra "árvore" ou a imagem da palavra escrita no papel.
  • Significado: o conceito que o significante representa ou o conteúdo do signo, uma idéia, como a árvore que eu imagino ao ouvir ou ler a palavra escrita. A palavra estrutura não aparece na obra do lingüista suíço, mas se faz presente no conceito de sistema, que quer dizer uma análise estrutural que inclui o estudo da língua em suas relações internas, conforme a terceira dicotomia:
  • Eixo sintagmático: um termo só é compreendido em oposição (relação) a outro termo. Ex.: "O semáforo está verde".
  • Eixo paradigmático: o termo é associado a outros, presentes na memória. Por exemplo, na frase anterior, ao invés de semáforo, uso "sinal" e ao invés de "está verde", "abriu": "O sinal abriu". Saussure, ao entender a linguagem como estrutura subjacente e sistema cujos elementos são solidários entre si (e que, somente assim, adquirem valor e sentido), e, ainda, vista de uma perspectiva não histórica, inaugurou o método estruturalista de análise.

    Os mitos

    A primeira aplicação do estruturalismo fora do âmbito da lingüística foi feita pelo antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908), hoje aposentado e um dos mais importantes intelectuais vivos. Lévi-Strauss observou, ao estudar tribos indígenas de vários países, incluindo o Brasil, um conjunto de normas que se preservavam em diferentes culturas, como se fossem formas inconscientes que moldavam o pensamento e o comportamento dos povos. Diferente de uma abordagem histórica, que não veria as relações, ele empregou o método da lingüística estrutural em, basicamente, dois sentidos:
  • Como uma estrutura profunda ou inconsciente.
  • Como elementos que só adquirem significado quando vistos dentro dessa estrutura. Conseqüentemente, existiriam estruturas que determinam regras de vestuário, alimentação, parentesco, condutas morais e políticas recorrentes em diferentes povos, e que não são visíveis. Os mitos, segundo Lévi-Strauss, são estruturados com linguagem, de modo que, da mesma forma que na língua - eu não penso em formas gramaticais quando falo, apenas falo -, também não penso em mitos quando os reproduzo inconscientemente (como Freud mostrou com o mito de Édipo, por exemplo): os mitos só funcionam quando a estrutura permanece invisível, como a linguagem. A conclusão do antropólogo é a de que o pensamento mítico não está no homem, mas o próprio homem é que é pensado nos mitos. Mas vejamos outro exemplo da antropologia estrutural de Lévi-Strauss nas relações de parentesco. Parte-se da compreensão de que fenômenos de parentesco são estruturados como fenômenos lingüísticos. Então, procede-se à identificação de elementos desta estrutura: pai, mãe, filhos, tios e irmãos. Cada um desses termos só faz sentido estando em relação aos demais: o pai autoritário em relação à mãe protetora, por exemplo. O que o antropólogo verificou, no convívio com culturas diversas, foi que, apesar das diferentes formas de filiação e relações de afetividade, hostilidade, antagonismo ou reserva (tios mais afetivos, pais mais hostis e irmãos mais conflituosos, por exemplo), a mesma estrutura de oposições - pai/mãe, tios/sobrinhos, irmãos/irmãs - permanece inalterada.

    Outros estruturalistas

    No decorrer das décadas de 1960 e 1970, surgiram aplicações do método estruturalista em áreas como crítica literária, cinema, estudos culturais e publicidade, entre outros, o que provocou críticas de abusos. Alguns dos mais renomados intelectuais e pensadores franceses empregaram o método em suas obras, como Jacques Lacan (1901-1981), que concebeu o inconsciente como estruturado na forma de linguagem; Foucault, que estudou estruturas discursivas que condicionavam o pensamento do homem em determinadas épocas; Roland Barthes (1915-1980), que examinou os mitos modernos, a moda e a literatura; e Louis Althusser (1918-1990), que fez uma leitura estruturalista da obra de Marx.

    Leituras recomendadas

    Curso de Lingüística Geral, de Saussure, foi publicado no Brasil pela Editora Cultrix. Uma boa introdução ao pensamento de Lévi-Strauss é Antropologia Estrutural (Tempo Brasileiro), que reúne ensaios do autor. Outros livros indicados são Mitologias (Difel), de Roland Barthes, As Palavras e as Coisas (Martins Fontes), de Foucault, e EscritosHistória do Estruturalismo (EDUSC), de François Dosse. (Perspectiva), de Lacan. Para mais detalhes sobre o movimento estruturalista,
  • *José Renato Salatiel é jornalista e professor universitário. Fonte: http://educacao.uol.com.br/filosofia/estruturalismo.jhtm

    sexta-feira, 26 de junho de 2009

    Cidadania

    Will Kymlicka

    1. Cidadania e teoria democrática

    "Cidadania" é um termo cujo significado filosófico difere do seu uso quotidiano. No discurso quotidiano, a cidadania é entendida como sinónimo de "nacionalidade", referindo-se ao estatuto legal das pessoas enquanto membro de um país em particular. Ser um cidadão implica ter certos direitos e responsabilidades, mas estes variam imenso de país para país. Por exemplo, os cidadãos de uma democracia liberal têm direitos políticos e liberdades religiosas, ao passo que numa monarquia, numa ditadura militar ou numa teocracia religiosa podem não ter nenhum desses direitos.

    Nos contextos filosóficos, a cidadania refere-se a um ideal normativo substancial de pertença e participação numa comunidade política. Ser um cidadão, neste sentido, é ser reconhecido como um membro pleno e igual da sociedade, com o direito de participar no processo político. Como tal, trata-se de um ideal distintamente democrático. As pessoas que são governadas por monarquias ou ditaduras militares são súbditos e não cidadãos.

    Esta ligação entre a cidadania e a democracia é evidente na história do pensamento ocidental. A cidadania era um tema proeminente entre os filósofos das repúblicas da Grécia e Roma antigas, mas desapareceu do pensamento feudal, sendo apenas reavivado com o renascer do republicanismo no Renascimento. Na verdade, é por vezes difícil distinguir a cidadania, enquanto tópico filosófico, da democracia. Contudo, as teorias da democracia centram-se sobretudo nas instituições e processos — partidos políticos, eleições, legislaturas e constituições — ao passo que as teorias da cidadania se centram nos atributos dos cidadãos individuais.

    As teorias da cidadania são importantes porque as instituições democráticas desmoronar-se-ão se os cidadãos carecerem de certas virtudes, tais como um espírito cívico e boa-vontade mútua. De facto, muitas democracias sofrem com de apatia por parte dos eleitores, de intolerância racial e religiosa, e fuga significativa aos impostos ou às políticas ambientais que dependem da cooperação voluntária. A saúde de uma democracia depende não apenas da estrutura das suas instituições mas também das qualidades dos seus cidadãos: por exemplo, das suas lealdades e de como eles encaram identidades nacionais, étnicas ou religiosas potencialmente rivais; da sua capacidade para trabalhar com pessoas muito diferentes de si mesmos; do seu desejo de participação na vida pública; da sua boa-vontade para serem moderados nas suas exigências económicas e nas suas escolhas pessoais que afectem a sua saúde e o meio ambiente.

    2. As responsabilidades da cidadania

    Na Atenas antiga, a cidadania era primariamente vista em termos de deveres. Os cidadãos eram obrigados, legalmente, a assumir cargos públicos à vez, sacrificando parte da sua vida privada para poder fazê-lo. No mundo moderno, contudo, a cidadania é vista mais como uma questão de direitos do que de deveres. Os cidadãos têm o direito de participar na política, mas têm também o direito de colocar os seus compromissos privados acima do seu envolvimento político.

    Uma exposição influente desta concepção de "cidadania como direitos" encontra-se em Citizenship and Social Class (1950), de T. H. Marshall. Marshall divide os direitos de cidadania em três categorias: direitos civis, que surgiram na Inglaterra no século XVIII; direitos políticos, que surgiram no século XIX; e direitos sociais — por exemplo, a educação, saúde, fundo de desemprego e reforma — que se estabeleceram no século XX. Para Marshall, o culminar do ideal de cidadania é o estado-providência social-democrata. Ao garantir direitos civis, políticos e sociais a todos, o estado-providência assegura que todos os membros da sociedade podem participar plenamente na vida comum da sociedade.

    Chama-se muitas vezes cidadania "passiva" a esta teoria, pois coloca a ênfase nas regalias passivas e na ausência de deveres cívicos. Apesar de esta teoria ter ajudado a assegurar um grau razoável de segurança, prosperidade e liberdade para a maior parte dos membros das sociedades ocidentais, a maior parte dos pensadores pensam que a aceitação passiva de direitos tem de ser complementada pelo exercício activo de responsabilidades e virtudes. Os pensadores discordam, contudo, sobre que virtudes são as mais importantes e sobre o modo de melhor as promover.

    Os conservadores sublinham a virtude da auto-suficiência. Ao passo que Marshall argumentava que os direitos sociais permitem que os desfavorecidos participem nos aspectos centrais da sociedade, os conservadores argumentam que o estado-providência promoveu a passividade e dependência entre os pobres. Para promover a cidadania activa, devemos reduzir as regalias do estado-providência, e dar mais importância à responsabilidade de ganhar a vida, que é o aspecto central para a auto-estima e para a aceitação social. Os críticos respondem que cortar as regalias do estado-providência marginaliza ainda mais as classes mais baixas. Além disso, como as feministas sublinham, a conversa aparentemente neutra sobre a "auto-suficiência" é muitas vezes uma forma de dizer subterraneamente que os homens devem sustentar financeiramente a família, cabendo à mulher o papel de olhar pela casa, cuidar dos velhos, dos doentes e das crianças. Isto reforça as barreiras à participação plena das mulheres na sociedade.

    Os defensores da teoria da sociedade civil centram as suas atenções no modo como aprendemos a ser cidadãos responsáveis. Argumentam que é nas organizações da sociedade civil — igrejas, famílias, sindicatos, associações étnicas, grupos de ambientalistas, associações de bairro, grupos de apoio — que aprendemos as virtudes cívicas. Porque estes grupos são voluntários, quando não cumprimos as nossas responsabilidades no seu seio temos de enfrentar a desaprovação e não a punição legal. Contudo, porque esta desaprovação tem origem na família, amigos e colegas, é muitas vezes um incentivo mais poderoso para agir de forma responsável do que a punição por parte de um estado impessoal.

    A afirmação de que a sociedade civil é a fonte da virtude cívica é discutível. A família ensina a civilidade e a moderação, mas também pode ser "uma escola de despotismo" que ensina o domínio masculino sobre as mulheres. Analogamente, as igrejas ensinam muitas vezes a deferência perante a autoridade e a intolerância relativamente a outras fés; os grupos étnicos ensinam muitas vezes preconceitos contra outras raças, etc.

    Os defensores da teoria da virtude liberal sublinham a importância da capacidade dos cidadãos para o discurso público. Isto não significa apenas a capacidade para dar a conhecer os nossos pontos de vista; implica igualmente a virtude da "razoabilidade pública". Os cidadãos têm de dar razões para as suas exigências políticas, e não apenas exprimir preferências ou fazer ameaças. Além disso, estas razões têm de ser "públicas", no sentido de poderem persuadir pessoas de diferentes fés e nacionalidades. Não basta invocar a escritura ou a tradição; é necessário fazer um esforço consciencioso para distinguir as ideias que são matéria de fé pessoal das que podem ser defendidas publicamente.

    Onde aprendemos então esta virtude? Os defensores da teoria da virtude liberal sugerem muitas vezes que é nas escolas que se deve ensinar as crianças a distanciar-se das suas próprias tradições culturais quando se entregam ao discurso público e a ter em consideração pontos de vista diferentes. Contudo, os tradicionalistas objectam que isto encoraja as crianças a questionar, na sua vida privada, a autoridade familiar ou religiosa. Os grupos que se apoiam na aceitação acrítica da tradição e da autoridade ficam ameaçados pela abertura de espírito e pelas atitudes pluralistas que a educação liberal encoraja. Daí que alguns grupos religiosos vejam a educação liberal obrigatória como um acto de intolerância relativamente a eles, ainda que tal se faça em nome do ensino da virtude da tolerância.

    Os republicanos cívicos oferecem outra abordagem à cidadania responsável. No sentido mais geral, "republicano cívico" refere qualquer pessoa que pense ser necessário ter cidadãos activos e responsáveis. Mas há uma concepção mais restrita de republicanismo cívico, que se distingue por defender (na peugada de Aristóteles) o valor intrínseco da participação política. Tal participação é, nas palavras de Adrian Oldfield, "a mais alta forma de vida humana em comum a que a maior parte dos indivíduos pode aspirar (1990: 6). Deste ponto de vista, a vida política é superior aos prazeres meramente privados da família, da vida local e da profissão, devendo por isso ocupar o centro da vida das pessoas.

    Esta perspectiva entra em conflito com o entendimento moderno da vida boa no mundo ocidental. A maior parte das pessoas de hoje encontra na família, no trabalho, religião ou tempos livres a sua maior felicidade — e não na política. A participação política é vista como uma actividade ocasional, por vezes desagradável, que é necessária para assegurar que o governo respeita e apoia a liberdade das pessoas para se entregarem aos seus projectos e interesses pessoais. O pressuposto de que a política é primariamente um meio para proteger e promover a vida privada está subjacente à maior parte das perspectivas modernas da cidadania. Esta atitude reflecte o empobrecimento da vida pública de hoje, em contraste com a cidadania activa da antiga Grécia. O debate político parece hoje menos significativo, e as pessoas sentem-se menos capacitadas para participar de forma eficiente. Mas reflecte também um enriquecimento da vida privada, dada a maior proeminência do amor romântico e da família nuclear (que dá ênfase à intimidade e à privacidade); uma maior prosperidade (e por isso formas mais ricas de ócio e consumo); e crenças modernas na dignidade do trabalho (que os gregos desprezavam). O convite à cidadania activa tem hoje em dia de competir com a forte atracção que a vida privada exerce.

    3. Cidadania, identidade e diferença

    A cidadania não é apenas um estatuto, definido por um conjunto de direitos e responsabilidades. É também uma identidade, uma expressão da nossa pertença a uma comunidade política. Além disso, é uma identidade partilhada, comum a diversos grupos na sociedade. Logo, a cidadania tem uma função integradora. Alargar os direitos de cidadania tem ajudado a integrar grupos previamente excluídos, como a classe trabalhadora, na sociedade.

    Alguns grupos, contudo — por exemplo, os afro-americanos, os povos indígenas, as minorias étnicas e religiosas, os gays e as lésbicas — sentem-se ainda excluídos do seio da sociedade, apesar de possuírem direitos iguais de cidadania. De acordo com os pluralistas culturais, a cidadania tem de reflectir a identidade sociocultural distinta destes grupos — a sua "diferença". Os direitos comuns de cidadania, originalmente definidos pelos homens brancos, e para eles, não podem acomodar as necessidades dos grupos marginalizados. Estes grupos só podem integrar-se completamente através do que Iris Marion Young chama "cidadania diferenciada" (1989). Isto é, os membros de certos grupos devem ser incorporados na comunidade política não apenas enquanto indivíduos, mas também através do grupo, e os seus direitos devem depender em parte da sua pertença ao grupo.

    Esta perspectiva põe em causa as concepções tradicionais da cidadania, que a definem em termos do tratamento das pessoas como indivíduos com direitos iguais à luz da lei. É assim que a cidadania democrática se distingue canonicamente das perspectivas feudais e pré-modernas, que faziam depender o estatuto político das pessoas da sua religião, etnicidade, classe social ou sexo. Logo, a ideia de cidadania diferenciada, é vista por muita gente como uma contradição dos termos. Além disso, se os grupos forem encorajados pelos próprios termos da cidadania para se voltarem para dentro, sublinhando a sua "diferença", como pode a cidadania fornecer uma fonte de ligação e solidariedade para os vários grupos da sociedade?

    É importante distinguir aqui duas categorias gerais de cidadania diferenciada. Para alguns grupos — como os pobres, as mulheres, as minorias raciais e os imigrantes — a exigência de direitos de grupo é geralmente uma exigência de maior inclusão e participação na sociedade. Por exemplo, estes grupos podem sentir-se subrepresentados no processo político, devido a barreiras históricas, procurando por isso representação com base em grupos. Ou podem querer que o currículo da escola reconheça as suas contribuições para a cultura e história da sociedade em causa. Ou podem procurar isenções de leis que os desfavorecem economicamente, dadas as suas crenças e práticas. Estes grupos partilham o objectivo da integração nacional — isto é, aceitam que os grupos historicamente sofreram desvantagens devem tornar-se participantes plenos e iguais na sociedade. Defendem apenas que é necessário o reconhecimento e a acomodação da sua "diferença" para assegurar a integração.

    Outros grupos que exigem cidadania diferenciada rejeitam o objectivo da integração nacional. Desejam governar-se a si mesmos, à parte da sociedade em geral. Isto acontece sobretudo com minorias nacionais — isto é, comunidades históricas distintas, que ocupam o mesmo país ou território e que partilham uma linguagem e história distintas. Estes grupos estão nas margens de uma comunidade política mais lata, mas reivindicam o direito a governarem-se a si mesmos em certos aspectos, de modo a assegurar o livre desenvolvimento da sua cultura. O que estas minorias nacionais querem não é, primariamente, uma melhor representação no governo central, mas antes a transferência de poder do governo central para as suas comunidades, muitas vezes através de um tipo qualquer de federalismo ou autonomia local. Em vez de procurarem maior inclusão na sociedade em geral, procuram uma maior autonomia relativamente a ela.

    Este tipo de exigência põe em causa as perspectivas tradicionais da identidade de cidadania, que pressupõe que as pessoas se encaram como membros da mesma sociedade. Se a democracia é o governo do povo, as exigências de auto-governo levantam a questão de saber quem é realmente "o povo". As minorias nacionais afirmam que são "nações" ou "povos" distintos, com direitos inerentes à auto-determinação que não foram abandonados pela sua federação (muitas vezes involuntária) com outras nações num país mais lato. Os direitos de auto-governo dividem o povo em povos separados, cada qual com os seus próprios direitos, territórios e poderes de auto-governo; e, logo, cada um tem a sua comunidade política autónoma. Se a cidadania é a pertença a uma comunidade política, então os direitos de auto-governo dão origem a uma espécie de cidadania dual, e a conflitos sobre com que comunidade — o grupo nacional ou o estado — os cidadãos mais se identificam. Além disso, se uma autonomia limitada é desejável para uma minoria nacional, por que não entrar completamente em secessão e ter uma nação-estado totalmente autónoma?

    Com efeito, os países com minorias nacionais enfrentam o problema de nacionalismos conflituantes. O estado procura promover uma identidade nacional única através da cidadania comum; a minoria procura promover a sua identidade nacional distinta através da cidadania diferenciada. Encontrar uma fonte de unidade social em países multinações é uma questão fundamental que os pensadores da cidadania enfrentam.

    Will Kymlicka Tradução de Desidério Murcho "Citizenship", in E. Craig (org.), Routledge Encyclopedia of Philosophy (London: Routledge, 1998).

    Bibliografia

    • Beiner, R. (1994) Theorizing Citizenship, Albany, NY: State University of New York Press.
    • Clarke, P.B. (1994) Citizenship, London: Pluto Press.
    • Galston, W. (1991) Liberal Purposes: Goods, Virtues, and Duties in the Liberal State, Cambridge: Cambridge University Press.
    • Kymlicka, W. (1995) Multicultural Citizenship, Oxford: Oxford University Press.
    • Kymlicka, W. and Norman, W. (1994) 'Return of the Citizen: A Survey of Recent Work on Citizenship Theory', Ethics 104 (2): 352-81.
    • Macedo, S. (1990) Liberal Virtues: Citizenship, Virtue and Community, Oxford: Oxford University Press.
    • Marshall, T.H. (1965) Citizenship and Social Class, Cambridge: Cambridge University Press.
    • Mouffe, C. (1992) Dimensions of Radical Democracy: Pluralism, Citizenship and Community, London: Routledge.
    • Oldfield, A. (1990) Citizenship and Community: Civic Republicanism and the Modern World, London: Routledge.
    • Spinner, J. (1994) The Boundaries of Citizenship: Race, Ethnicity and Nationality in the Liberal State, Baltimore, MD: Johns Hopkins University Press.
    • Walzer, M. (1989) 'Citizenship', in T. Ball and J. Farr (eds) Political Innovation and Conceptual Change, Cambridge: Cambridge University Press.
    • Walzer, M. (1992) 'The Civil Society Argument', in C. Mouffe Dimensions of Radical Democracy: Pluralism, Citizenship and Community, London: Routledge; also in R. Beiner Theorizing Citizenship, Albany, NY: State University of New York Press, 1994.
    • Young, I.M. (1989) 'Polity and Group Difference: A Critique of the Ideal of Universal Citizenship', Ethics 99 (2): 250-74; repr. in R. Beiner Theorizing Citizenship, Albany, NY: State University of New York Press, 1994.
    Fonte: http://www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/leit_cidadania.html

    Educação para a cidadania

    Muitos dos nossos políticos, pedagogos e cientistas da educação enchem a barriga com a ideia de educação para a cidadania. Parece até que descobriram a pólvora. Mas que a educação serve para formar cidadãos é uma ideia tão velha quanto a própria ideia de educação. Os gregos chamavam-lhe paideia. Que ideia é essa? Bom, é a ideia de que formar cidadãos é ensinar-lhes a falar, a escrever, a contar, a argumentar, a avaliar, a pensar por si. Estas são as ferramentas necessárias para uma cidadania plena e esclarecida. Em suma, formar cidadãos plenos é ensinar-lhes bem Português, Matemática, Biologia, História, Filosofia, etc. Quem aprende bem estas coisas está em boas condições para se tornar um cidadão esclarecido. O resto é quase só ruído ideológico.
    Por http://blog.criticanarede.com/2009/06/educacao-para-cidadania.html#comments

    segunda-feira, 22 de junho de 2009

    Download - Linguagem e Persuasão

    Linguagem e Persuasão

    Linguagem e Persuasão

    Autor: ADILSON O. CITELLI

    Com o objetivo de sugerir linhas de reflexão, o Autor alia à exposição teórica uma série de exemplos de textos extraídos da publicidade, do jornalismo, da religião e dos livros didáticos, abrindo ao leitor um contato eficaz com diferentes modalidades de discursos persuasivos.

    Download

    Como fazer um comentário de texto em Filosofia? por Sérgio Lagoa

    Eis um pequeno excerto de um texto filosófico:

    “O homem é homem só pela linguagem. Unicamente pela linguagem chega o homem a tornar-se consciente do seu mundo. A palavra não faz da realidade o nosso mundo. A palavra caracteriza o seu modo de existência. Com as palavras, o homem vincula-se às coisas, (…) mas também se distancia delas (…) e atribui-lhes significação”

    Como se faz um comentário?

    Há muitas técnicas possíveis para estruturar um “comentário de texto”. Na disciplina de Português é usual serem estudadas várias dessas técnicas. Uma vez que não as vamos estudar todas, optamos por uma adaptação daquela que é sugerida por Jacqueline Russ, no livro “Les méthodes en philosophie”:

    1. Tema abordado no texto a comentar

    2. Problema filosófico a que o autor procura responder

    3. Posição do autor (tese) sobre esse problema

    4. Justificações (argumentos) apresentadas no texto para defender essa posição

    5. Explicitação dos conceitos usados pelo autor (implica recorrer aos conhecimentos estudados)

    6. Eventuais problemas, dúvidas ou objecções que a posição do autor levante (opinião pessoal do aluno, racionalmente fundamentada)

    Assim, no caso do texto presente nesta questão, poderíamos elaborar um comentário obedecendo a esta estrutura:

    [NOTA: Para facilitar a compreensão do esquema de comentário, apresenta-se a mesma numeração proposta para estruturação da resposta; obviamente, essa numeração é absolutamente desnecessária quando se redige a resposta num qualquer exercício escrito.]

    1. O excerto apresentado refere-se à importância antropológica da linguagem.

    2. O autor depara-se com um problema filosófico fundamental, que é o de saber o que é o Homem e qual a importância da linguagem na sua definição.

    3. Segundo o autor, o Homem só é Homem pela linguagem, pois …

    4. … (i) é a linguagem que caracteriza o seu modo de ser, (ii) é pela linguagem que o Homem se torna consciente do seu próprio mundo e (iii) é a linguagem que permite ao Homem um distanciamento face ao mundo, atribuindo-lhe significação.

    5. Esta palavras do autor significam que (i) só o Homem possui uma linguagem deste tipo – uma linguagem simbólica, que lhe permite a referência a objectos ausentes e não materializáveis: o animal não possui essa capacidade de referência à realidade, pelo que a linguagem é o traço distintivo entre o Homem e o animal. Por outro lado, (ii) esse tipo de linguagem a que o ser humano tem acesso permite-lhe perceber as causas e as consequências dos seus actos: o Homem tem consciência de si mesmo, tem, consciência do que faz – porque faz e para que faz. Ao animal, pelo carácter concreto da sua linguagem, essa tomada de consciência é totalmente inacessível, pois só pode referir-se a situações presentes: nenhum animal reflecte sobre o passado ou projecta o futuro, coisa que o ser humano é capaz de fazer. Em último lugar, (iii) há que referir que é através da linguagem que, pelo poder da simbolização, o Homem se afasta da realidade, no sentido em que não precisa de ter a realidade a que se refere presente perante os seus olhos, pois o carácter abstracto e simbólico da sua linguagem permite a construção de um conhecimento teórico e não meramente prático sobre a realidade: o ser humano constrói diversas formas de conhecimento sobre a realidade, apoiando-se na linguagem como estrutura de um discurso racional ou afectivo sobre o mundo que o rodeia.

    6. Pessoalmente, a) concordo… / b) não concordo…

    a) … concordo com o autor pois, como já foi referido na resposta anterior, existem diversos traços distintivos entre a linguagem humana e a linguagem animal, pelo que a linguagem será, seguramente, uma forma possível de designar o que é o Homem, pois trata-se de uma capacidade especificamente humana. Repare-se, por exemplo, que das várias funções inerentes à linguagem, os animais são incapazes de possuírem uma função metalinguística, isto é, a referência linguística ao próprio código: esse é um território exclusivamente humano. Ainda assim, podem surgir algumas dúvidas/interrogações/problemas a que este excerto não responde, tais como: se descobrirmos que essa distinção linguística não é tão evidente, teremos de mudar a nossa própria concepção do que é o ser humano? Se a capacidade simbólica for exclusiva do ser humano, que reacção teremos perante um ser humano (por exemplo, um microcefálico) que não possui essa capacidade? Essas são questões a que o texto não permite responder.

    b) … não concordo com o autor, pois nem sempre a linguagem simbólica é exclusiva do ser humano: estudos com chimpanzés vieram levantar a questão de saber se alguns animais, nomeadamente os primatas superiores, poderão (ou não) aprender em contacto com os humanos a utilizar uma linguagem gestual, dado que não possuem cordas vocais semelhantes às humanas. A ser assim, a linguagem deixaria de ter o papel fulcral na distinção Homem/animal, deitando por terra a opinião do autor.

    [Nota: as objecções, dúvidas e problemas são tratadas na aula, mas podem resultar unicamente da capacidade reflexiva de cada um]
    Fonte: http://semibreve.wordpress.com/category/filosofia/

    Do lugar da filosofia no mundo atual

    Há muito tempo a filosofia se tornou apenas um estudo da história da filosofia e o principal medo de Weber parece ter acontecido de uma forma tão sutil que nem ao menos percebemos ao certo: o pesquisador se separou totalmente do professor. De maneira que até mesmo suas careiras universitárias são diferentes, mesmo dentro da mesma área. Justificando parte disso, temos a consciência de que não é possível ensinar alguém a ser mais criativo, crítico ou analítico o suficiente para que se possa parar de fazer apenas analise da história da filosofia, a potencialidade filosófica vem de cada um e trabalhasse com ela como se bem deseja, mas ninguém está em um curso de filosofia por obrigação, ou por única opção assim como já foi, está por no mínimo interesse dentro do campo filosófico, entretanto o filósofo de hoje parece que vê a filosofia apenas como história da filosofia, como um curso para conhecer quem foram os principais pensadores para poderem citá-los em suas rodinhas de amigos e isso acontece de tal forma que o filósofo perdeu, quase que totalmente, sua utilidade para o meio social, onde no final das contas não sabemos mais qual o lugar dele no mundo globalizado.

    As ciências adquiriram independência através da filosofia, esta historicamente instigou tudo aquilo que rodeia o homem e com o nascimento do interesse focado e massificado de apenas algumas partes da filosofia, nasceram as demais ciências e destas demais ciências outras ciências, cada vez mais voltadas a uma técnica, a um ponto, se afastando cada vez mais das suas ciências de origem, assim se sucedeu com a matemática, a física e tantas outras. Ao questionarmos o lugar da filosofia hoje, temos de saber do como ela nasceu e ao vermos isso, independente das demais definições para filosofia, vemos que o seu papel sempre foi fazer a analise de um sistema desde os seus princípios fundamentais, até mesmo metafísicos, até o seu ponto mais alto e mais complexo e as demais ciências só se tornaram o que são quando perceberam que junto a técnica era necessário também analisar as bases, os fundamentos, do que estudava. Sendo assim, a física só se tornou uma ciência a parte da filosofia por conta da própria filosofia ter definido seus fundamentos e com isso seu campo de atuação e com isso a física pode então pensar em si mesma sem o intervenho da filosofia.

    Analisando por este lado e vendo que o objetivo da filosofia é estruturar o pensamento, vemos que a função da filosofia é de apenas analisar algo, dar seus fundamentos e a partir daí fundar uma nova ciência que resolverá e desenvolverá o conhecimento dentro desde novo campo. Assim também se deu com a sociologia do século XIX, por encontrar seu fundamentos, campo de atuação, ainda que por mais óbvio que fosse e toda a sua epistemologia, tornou-se assim uma nova ciência, fora da filosofia. Deste modo vemos que a filosofia era para ser desde o princípio uma ciência que cavaria sua própria cova, que se degeneraria em prol de todas as demais ciências, sendo assim uma ciência com data para morrer, ao criar a última ciência que faltaria para o mundo. E ainda vendo desta maneira, tudo que restaria ao final para um curso de filosofia seria fazer apenas história da filosofia e historiografia de algum pensador.

    Entretanto, apesar de hoje haver um campo de atuação técnico para tudo aquilo que um dia a filosofia criou, a filosofia ainda pode contribuir para as ciências criadas e recuperar o seu poder analítico de outrora. Assim como dito anteriormente, a filosofia sempre foi uma analise de sistemas, seja o sistema que for, e o mundo hoje nada mais é do que um conglomerado de sistemas, estes, criados pelas suas respectivas ciências. Está então o papel da filosofia reintegrar em seu campo de estudo todas as bases das demais ciências, para que se faça uma analise de todas elas e separar, o que o vício nos faz, o que é técnica do que é realmente fundamental para a ciência e distinguir, claramente, onde começa uma ciência e onde começa a outra, principalmente entre as ciências que são tão próximas da filosofia. Logo, o papel da filosofia está justamente na atuação do que sempre fez: analisar o que cerca o homem, ainda que coisas criadas por ele mesmo, e oferecer soluções aos seus problemas, fundamentar suas ciências e distingui-las.

    Porém a maneira de como isso será feito agora não é mais descobrindo e analisando fenômenos, e sim analisando as idéias de uma teoria com os fundamentos da ciência para a qual ela foi criada, é conhecer a técnica e ver se ela condiz com o seus fundamentos.

    S.S.U. M. Nagashima. Der Mann, die Legende. Fonte: http://balthazarabrakadabra.spaces.live.com/blog/cns!7C2BCD672DE3B521!373.entry

    domingo, 21 de junho de 2009

    Todo homem é filósofo

    "É preciso destruir o preconceito, muito difundido, de que a
    filosofia é algo muito difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. É preciso, portanto, demonstrar preliminarmente que todos os homens são "filósofos", definindo os limites e as características desta "filosofia espontânea", peculiar a "todo o mundo", isto é, da filosofia que está contida: 1) na própria linguagem, que é um conjunto de noções e de conceitos determinados e não, simplesmente, de palavras gramaticalmente vazias de conteúdo; 2) no senso comum e no bom senso; 3) na religião popular e, consequentemente, em todo o sistema de crenças, superstições, opiniões, modos de ver e de agir que se manifestam naquilo que geralmente se conhece por "folclore". Após demonstrar que todos são filósofos, ainda que a seu modo, inconscientemente -já que, até mesmo na mais simples manifestação de uma atividade intelectual qualquer, na "linguagem", está contida uma determinada concepção do mundo-, passa-se ao segundo momento, ao momento da crítica e da consciência, ou seja, ao seguinte problema: é preferível "pensar" sem disto ter consciência crítica, de uma maneira desagregada e ocasional, isto é, "participar" de uma concepção do mundo "imposta" mecanicamente pelo ambiente exterior, ou seja, por um dos muitos grupos sociais nos quais todos estão automaticamente envolvidos desde sua entrada no mundo consciente (e que pode ser a própria aldeia ou a província, pode se originar na paróquia e na "atividade intelectual" do vigário ou do velho patriarca, cuja "sabedoria" dita leis, na mulher que herdou a sabedoria das bruxas ou no pequeno intelectual avinagrado pela própria estupidez e pela impotência para a ação), ou é preferível elaborar a própria concepção do mundo de uma maneira consciente e crítica e, portanto, em ligação com este trabalho do próprio cérebro, escolher a própria esfera de atividade, participar ativamente na produção da história do mundo, ser o guia de si mesmo e não mais aceitar do exterior, passiva e servilmente, a marca da própria personalidade? Pela própria concepção do mundo, pertencemos sempre a um determinado grupo, precisamente o de todos os elementos sociais que compartilham um mesmo modo de pensar e de agir. Somos conformistas de algum conformismo, somos sempre homens-massa ou homens-coletivos. O problema é o seguinte: qual é o tipo histórico de conformismo, de homem-massa do qual fazemos parte? Quando a concepção do mundo não é crítica e coerente, mas ocasional e desagregada, pertencemos simultaneamente a uma multiplicidade de homens-massa, nossa própria personalidade é compósita, de uma maneira bizarra: nela se encontram elementos dos homens das cavernas e princípios da ciência mais moderna e progressista, preconceitos de todas as fases históricas passadas estreitamente localistas e intuições de uma futura filosofia que será própria do gênero humano mundialmente unificado. Criticar a própria concepção do mundo, portanto, significa torná-la unitária e coerente e elevá-la até o ponto atingido pelo pensamento mundial mais evoluído. Significa também, portanto, criticar toda a filosofia até hoje existente, na medida em que ela deixou estratificações consolidadas na filosofia popular. O início da elaboração crítica é a consciência daquilo que é realmente, isto é, um "conhece-te a ti mesmo" como produto do processo histórico até hoje desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traços acolhidos sem análise crítica. Deve-se fazer, inicialmente, essa análise."
    Antônio Gramsci Fonte: http://notes.ufsc.br/aplic/cfh.nsf

    sábado, 20 de junho de 2009

    A diferença

    Uma vez imaginei o encontro de Batman e Drácula numa clínica geriátrica, na Suíça.

    ***

    Batman não acredita que Drácula tenha mais de 500 anos. Não lhe daria mais de duzentos. – Tempo demais – diz Drácula. – Estou na terceira idade do Homem. Depois da mocidade e da maturidade, a indignidade... O cúmulo da indignidade, para o conde, é a dentadura falsa. Ele não pode ver sua própria dentadura sobre a mesinha de cabeceira sem meditar sobre a crueldade do tempo. Já tentou o suicídio, sem sucesso. Estirou-se numa praia do Caribe ao meio-dia, para que o sol o reduzisse a nada. Só conseguiu uma boa queimadura. Dedicou-se a uma dieta exclusiva de alho. Só conseguiu que as mulheres o expulsassem da cama. A estaca no coração também não funcionara. Precisava ser de um determinado tipo de madeira benta, usada numa determinada fase da Lua, a logística do empreendimento o derrotara. E ninguém se dispõe a matá-lo, agora que seus caninos são postiços e ele não é mais uma ameaça. Drácula está condenado à vida eterna, à velhice sem redenção e à indignidade sem fim. Internou-se na clínica com a vaga esperança de que a morte, que vem ali buscar tanta gente, um dia o leve por distração.

    ***

    E você, Batman? Batman conta que está na clínica para retardar a morte. Não confessa sua idade, mas recusa-se a tirar a máscara para que não vejam suas rugas. Ele não é um super-herói com superpoderes, inclusive o de não morrer, como o Super-Homem. “Eu sou dos que morrem”, diz Batman, com um suspiro. No tom da sua voz está a lamúria milenar da espécie dos que morrem. Drácula parece não ouvi-lo. Esta interessado em outra coisa. “Você vai terminar esse iogurte?” pergunta. Mas Batman continua sua queixa. “Eu já não voava. Hoje quase não caminho. Não posso mais dirigir o Batmóvel, não renovaram minha carteira...”. Mas ele não quer a redenção da morte. Quer a vida eterna, a mesma vida eterna de um homem de aço. “Vamos fazer um trato”, sugere Drácula. “Quando a morte vier buscá-lo, trocaremos de lugar. Você veste este meu robe de cetim e a echarpe de seda, e eu visto essa sua fantasia ridícula, e a...”. Mas Batman o interrompe com um gesto. A morte não pode ser enganada. Claro que pode, diz Drácula. “É só você passar um pouco da minha pomada no seu cabelo que a morte o tomará por mim e...”. – Que cabelo? – pergunta Batman, com outro suspiro, também antigo.

    ***

    “Não somos muito diferentes”, diz Drácula. “Somos completamente diferentes!”, rebate Batman. “Eu sou o Bem, você é o Mal. Eu salvava as pessoas, você chupava o seu sangue e as transformava em vampiros como você. Somos opostos”. “E no entanto”, volta Drácula com um sorriso, mostrando os caninos de fantasia, “somos, os dois, homens-morcegos...”. Batman come o resto do seu iogurte sob o olhar cobiçoso do conde. Diz: – A diferença é que eu escolhi o morcego como modelo. Foi uma decisão artística, estética, autônoma. – E estranha – diz Drácula. – Por que morcego? Eu tenho a desculpa de que não foi uma escolha, foi uma danação genética. Mas você? Por que o morcego e não, por exemplo, o cordeiro, símbolo do bem? Talvez o que motivasse você fosse uma compulsão igual à minha, disfarçada. Durante todo o tempo em que combatia o mal e fazia o bem, seu desejo secreto era de chupar pescoços. Sua sede não era de justiça, era de sangue. Desconfie dos paladinos, eles também querem sangue. – Se eu ainda pudesse fazer um punho você ia ver qual é a minha compulsão neste momento – rosna Batman. Mas Drácula não perde a calma. – E veja a ironia, Batman. O morcego bom passa, o morcego mau fica. Um não quer morrer e morre, o outro quer morrer e não morre. Ou talvez não seja uma ironia, seja uma metáfora para o mundo. O bem acaba sem recompensa, e o único castigo do mal é nunca acabar. Drácula continua: – Somos dois aristocratas, Batman, um feudal e outro urbano, um da velha Europa e outro da nova América. Eu era Vlad, o Impalador, na Transilvânia, você, o herdeiro de uma imensa fortuna em Gotham. Eu era o terror dos aldeões, você um rico caridoso. Os pobres nunca ameaçaram invadir a sua mansão com archotes, mas somos, os dois, da mesma classe, a dos sanguessugas. O que nos diferencia é que eu não tinha remorsos. Batman pede que Drácula se retire. Dali a pouco chegará Robin com os netos e ele não quer que as crianças se assustem.

    Luis Fernando Veríssimo

    Fonte: Jornal Zero Hora - nº16007 - 21 de junho de 2009

    sexta-feira, 19 de junho de 2009

    Ética e Política

    A ética é uma das grandes áreas em que se divide o pensar do ser humano desde os primórdios da filosofia, na Grécia Antiga. E desde essa origem a ética teve e tem uma íntima ligação com a política, chegando mesmo a uma quase identificação naquele momento da Antiguidade. É que ética é um conceito eminentemente ligado ao colectivo (ao social) seja esse colectivo a corporação (o caso das éticas profissionais), a nação ou a humanidade (onde se colocam todas as questões dos direitos humanos). Assim é que a filosofia política foi sempre tratada dentro do grande capítulo da ética que, com a física (e a metafísica) e a lógica, compunham o quadro geral da filosofia na Antiguidade.

    O conceito de ética é também algo estreitamento vinculado ao sentimento dos povos, ao seu modo de viver e aos seus costumes, como indica a raiz grega da palavra (ethos), e tem naturalmente evoluído no seu conteúdo, como evoluem esses costumes ao longo do tempo e da história. As éticas de hoje são em vários aspectos profundamente diferentes das antigas, e a forma de encarar a escravidão é provavelmente o exemplo mais evidente dessas diferenças que abrangem muitos outros aspectos relevantes. Os antigos não conheciam, por exemplo, nenhuma ética da humanidade e um dos seus princípios de virtude era o de fazer o mal aos povos inimigos.

    Quanto à política, a sua ideia desdobra-se em dois conceitos diferentes que convivem quotidianamente na opinião dos cidadãos e na motivação da acção dos políticos: um é o de que a política, a mais nobre das ocupações humanas, é o empenho na realização do bem comum, do bem da colectividade ao qual se aplica como a um propósito final; é a concepção de Platão e de Aristóteles, dos filósofos gregos que a explicitaram na sua polémica de afirmação da filosofia (que se confundia para eles com a política), contra o pragmatismo dos sofistas e dos retóricos que ensinavam a linguagem eficaz para o manejo das assembleias e das funções políticas. O outro é o de que a política é a arte e a sabedoria de conquistar e de manter estável o poder; o fazer o bem, nesta visão, não é propriamente um fim, mas um meio de ganhar o apoio dos cidadãos para a conservação e a estabilização do poder, empregado em paralelo com outros meios também válidos, como o marketing, o controle dos media, o clientelismo, o populismo e até mesmo a mentira, a violência e a corrupção. Este é o conceito derivado das interpretações mais correntes dos conselhos de Maquiavel e é o que melhor se enquadra nas concepções da ciência política moderna, entendida a ciência como conhecimento neutro, isto é, destacado de qualquer consideração de natureza ética.

    Relações de Conflito

    Um primeiro campo de relacionamento, que tem sempre suscitado mais interesse nas especulações e nos debates que se travam sobre o tema, é o dos conflitos entre os principias da ética e a realidade da política.

    Assim, ética e política sempre tiveram uma intensa relação dialéctica de conflito, na convivência, variando os termos e os temas desse confronto. Entre esses temas, sempre se ressaltou o da mentira política, como uma espécie de agressão mais aceitável aos princípios morais. Platão, por exemplo, dava aos médicos e aos políticos o direito ao uso da "mentira útil", aquela capaz de agir como um fármaco sobre os indivíduos e sobre a Pólis em estado de doença. Modernamente, a polémica da mentira e da verdade tem-se situado em torno do conceito da "razão de Estado" que se originou nas relações de diplomacia entre os Estados monárquicos e se estendeu às relações governantes-súbditos, significando projectos e informações que tinham de ser mantidos em segredo nos círculos mais íntimos do poder.

    A dialéctica da política com a mentira tem ainda outras áreas de contacto, a actividade política necessariamente tem uma dimensão que é o "fazer imagem", construir e cultivar a imagem do líder, a imagem do candidato, a imagem do partido, algo que fácil e correctamente escorrega para o "forjar a imagem", com o sentido de forçar os limites da verdade, e se confunde frequentemente com a impostura e a mentira útil para o forjador. É sabido que a política lida muito com "versões", e não tanto com verdades científicas, cujo estabelecimento é missão da história, com seus métodos e sua perspectiva de tempo.

    O entendimento que compatibiliza esses conflitos da ética com a política é o de que ambos os conceitos têm tudo a ver com a vida humana, com o Ser do homem em sociedade, e este Ser recusa qualquer tipo de enclausuramento dentro de princípios absolutamente rígidos. Se a moral, no âmbito do indivíduo, admite margens de flexibilidade no que respeita aos seus princípios, a ética, que preside as acções na perspectiva da colectividade, invoca tantas vezes a razão, atributo essencial desse Ser, a fim de validar margens de tolerância para as acções políticas, sem que tenha de renunciar ou abrir mão de seus princípios, simplesmente flexibilizando-os. (Texto Adaptado)

    http://www.cfm.org.br/bancotxt/des_etic/3.htm

    Fonte: http://www.espanto.info/f10ner/f21.htm

    Confira as charges da Zero Hora - RS.

    Charges da Zero Hora - Nº16005 - 19 de junho de 2009. Charges de Marco Aurélio e Iotti.

    quinta-feira, 18 de junho de 2009

    Republicação - Aula sobre "Reflexão" para 1º ano do ensino médio

    Plano da Unidade – Filosofia

    Tema: Reflexão

    Série: 1ª ano do Ensino Médio

    Aulas: 2 aulas de 50 minutos

    Professora: Marise

    Conteúdo e temas: Desenvolvimento de conceitos básicos de Filosofia, reflexão e reconhecimento do intelecto.

    Objetivos:

    Desenvolver as habilidades de reflexão e organização do pensamento.

    METODOLOGIA:

    Sensibilização: Um espelho de tamanho médio e seis espelhos pequenos e seis coelhito

    ( um ovo que vira coelho).

    Dividir a classe no máximo em 6 grupos. Assim que os grupos estiverem formados, coloque as seguintes questões na lousa:

    Como funciona um espelho?

    O que o espelho pode mostrar?

    O que o espelho não pode mostrar?

    O que podemos fazer com um espelho, além de ver nossos reflexos?

    Será que podemos refletir olhando no espelho?

    Será que o espelho vai responder a minha pergunta: Quem sou eu?

    Sobreviveremos sem o espelho?

    Qual a importância do espelho na nossa vida?

    O que poderemos fazer com o espelho além de ver os nossos reflexos?

    Poderemos usar o espelho para ensinar a refletir?

    Problematização: Cada grupo com o espelho na mão, vai discutir e responder as questões que estão na lousa. A partir das resposta cada grupo poderá formular novas questões

    .

    Investigação: Vamos comparar a “Reflexão do Espelho” com “Reflexão Intelectual” . Destacando as diferenças de ambos na lousa.

    Qual a diferença entre o refletir do espelho e o refletir (pensar, imaginar)?

    O espelho pode refletir sobre si mesmo? E nós podemos refletir sobre nós mesmo?

    Onde esta reflexão nos leva?

    Qual a importância do pensar, refletir?

    E onde o espelho nos leva?

    E se o espelho quebrar?

    Num segundo momento usaremos o Coelhito”. Ele está na forma de ovo, e vira coelho. Surpresa na classe. E coloco a seguinte questão: Se não desenvolvermos o intelecto (reflexão), seremos como o espelho, não existe nada além dele.

    No momento em que refletimos desvendamos o mundo, levando ao crescimento interior do “ser”como o “coelho que sai do ovo”. A partir deste momento vemos o mundo com outros olhos.

    Conceituação:

    Cada grupo apresentará as suas reflexões à classe.

    Para finalizar cada participante desenvolverá um texto:”Fazendo a sua reflexão sobre refletir.”

    Avaliação:

    Através da observação e anotações a respeito da participação oral e produção de texto escrito.

    Conclusão:

    No uso dos recursos “espelho, coelhito e copos descartáveis” os alunos ficam surpresos e concluíram que: A filosofia é um instrumento para se questionar, duvidar, ampliar nossos conhecimentos.Filosofar é refletir sobre nosso saber, interrogarmo-nos sobre nos mesmo, é conhecer a si mesmo. O primeiro passo para a filosofia é a inquietação que conduz ao questionamento. O objeto da filosofia é a reflexão, o movimento do pensamento que nos permite recuar, nos distanciarmos dos fatos aparentemente banais para buscarmos seus fundamentos.

    “ A reflexão leva ao questionamento e ao encontro do eu.”

    Observações:

    Nessa mesma aula ocorreu o seguinte: Como usei o espelho do banheiro das meninas. Na hora do intervalo elas anunciaram que o "espelho do banheiro feminino tinha sido roubado".Aí surge a questão polêmica :

    Como fica nossa vida sem reflexão?

    E se a nossa capacidade de refletir for roubada ?

    Complementando: Para fazer uso da interdisciplinaridade, esta aula pode ser trabalhada juntamente com o professor Física ( como está na proposta do 1º Bimestre).

    O professor de Física poderá trabalhar na prática e a teoria como funciona o espelho , como os objetos absorvem a luz, que é composta das cores do arco-íris. O que é o reflexo? Afinal o que é um espelho?

    terça-feira, 16 de junho de 2009

    O Despertar dos Mágicos - Download

    O DESPERTAR DOS MÁGICOS

    A aventura humana tem uma finalidade.

    Não acontece ao homem o que ele merece, mas sim, o que se lhe assemelha.

    O mundo não é absurdo e o espírito humano não é de forma alguma inapto para compreendê-lo. Pelo contrário, pode ser que o espírito já tenha compreendido o mundo, mas ainda não o saiba.

    O homem é feito de mistérios e visões. O mundo exterior é pouco instrutivo, a menos que seja visto como um reservatório de símbolos com significações escondidas

    É evidente que o homem não tem conhecimento de si próprio à altura do que ele "FAZ".

    E se não o tem é porque a organização social o priva, baseado em idéias caducas.

    No entanto, tudo nos incita a pensar que as coisas se modificarão rapidamente. Que a agitação das massas, a formidável pressão das descobertas técnicas, o movimento das idéias, a mudança dos antigos princípios, levará o homem a sentir nascer em si mesmo a "Nova Alma" e descobrirá a liberdade de "Poder ser Causa".

    Deus criou-nos o menos possível. A liberdade de "Poder ser Causa", quer que o homem se refaça a si mesmo.

    Temos a liberdade de vir a ser, no centro de uma eternidade que É, visão do destino humano ligado à totalidade do universo.

    Não é a primeira vez que na história da humanidade, a consciência humana é obrigada a passar de um plano para outro. E a passagem é sempre dolorosa.

    Inteligência total, consciência desperta, o homem se dirige para as conquistas essenciais, no seio deste mundo em pleno renascimento.

    Começamos a perceber, e para sempre, que para o homem reconhecer, amar e servir apaixonadamente, o universo, de que ele é o elemento mais importante, é a única razão aceitável.

    Louis Pauwels - Jacques Bergier

    Download

    Será que a política perdeu o sentido? Por que não enxergamos nada?

    Fonte: Jornal Zero Hora - nº16001 - 15 de junho de 2009 - Marco Aurélio.

    A marca de cada um

    Um artigo muito interessante da Revista Vida Simples - Outubro de 2008.

    A marca de cada um - Por Eugenio Mussak

    Do leitor Ricardo Mainieri: "Como se manter fiel às suas idéias, e preferências num mundo cada vez mais esteriotipado?" Por Eugenio Mussak

    Estereotipia é uma técnica usada em gráficas para produzir cópias que são, então, chamadas de estereótipos. A palavra grega stereos passa a idéia de alguma coisa dura que é capaz de deixar sua marca em uma superfície mole, como o tipo da gráfica sobre o papel. Essa técnica permitiu que se fizessem muitas cópias, não só de textos mas também de obras de arte. Hoje, qualquer pessoa pode ter em casa uma cópia da Monalisa ou de Guernica, por exemplo. O curioso é que, mesmo tendo visto muitas dessas cópias, quando você depara com o original, a emoção é outra.

    Por que isso ocorre? Ora, porque a cópia não tem a personalidade que desejamos para nos emocionar. O autor não tocou nela, não deixou ali impressa sua alma junto com a tinta. Cópias são estéreis, não têm DNA, são produto, não são causa, são decoração, não arte. Pegando carona nesse conceito, as pessoas que parecem carregar uma característica forte que foi apenas recebida de outros, sem contestação, começaram a ser chamadas de cópias, clichês, filhotes, e o conjunto de características recebeu o nome de estereótipos.

    Assim ficou fácil qualificar as pessoas e seus grupos, afinal, são marcas duras sobre suas personalidades moles. Simples assim, esse conceito. Ou seria “pré-conceito”? Afinal, todos sabem que as louras são burras, os gaúchos são machistas, os baianos são preguiçosos, os judeus são sovinas, as mulheres são ciumentas, os homens são infiéis e os políticos são corruptos. Nada disso é uma verdade absoluta, mas vá convencer as pessoas de que os estereótipos só existem para dificultar a comunicação e azedar as relações. Os estereótipos são assim, marcam as pessoas com um ferro em brasa imaginário e delimitam seu território.

    Sou meu reflexo no espelho?

    Repare que, sem querer, estamos esbarrando com situações defi nidas por estereótipos o tempo todo. Meu amigo Claudio, por exemplo, um argentino gente finíssima, me explicou que só demonstra alguma arrogância quando vem ao Brasil, porque as pessoas simplesmente esperam que ele seja assim. Também tem o Mário, meu amigo de Lisboa, engenheiro, professor, empresário, entendido em vinhos e arte ibérica, uma das pessoas mais inteligentes e antenadas que eu conheço. Impossível aplicar uma das famosas “piadas de português” a esse gentleman lisboeta. Seguindo na mesma linha, poderia citar muitas outras pessoas com profissões, nacionalidades, características físicas, idades e religiões que não apresentam nenhum dos traços preconcebidos pelo estereótipo que os acompanha simplesmente por ser quem são.

    Afinal, de onde surgem os estereótipos? Eles são, necessariamente, ruins? Como fazer para evitar que os estereótipos se transformem em caricaturas que enquadram as pessoas e as condenam a viver um papel que não escolheram e que nem sequer aprovam? Como alguém pode manter a identidade e ser fiel aos seus valores em uma sociedade que rotula as pessoas? Perguntas que incomodam, principalmente porque não têm respostas convincentes.

    O médico francês Jacques Lacan, que passou da neurologia para a psiquiatria e desta para a psicanálise, disse coisas que podem nos ajudar a entender um pouco o mistério dos estereótipos. Por exemplo: “Eu sou o que vejo refletido sobre mim nos olhos dos outros”. Ou ainda: “Com freqüência, os símbolos são mais reais do que aquilo que simbolizam”. Pois é, parece que nós, huamanos, fazemos a representação da realidade através da identidade com o grupo a que pertencemos. Realmente, não há como negar que o ser humano é um animal gregário, que depende do grupo para sobreviver física e emocionalmente. Quanto a isso, não resta dúvida. Como também não se pode discutir que os traços culturais servem para criar elementos de distinção grupal e que eles conferem uma sensação de conforto e segurança.

    Então está explicado por que criamos grupos e classificamos as pessoas, mas – e sempre tem um mas – daí a aceitar que as pessoas sejam carimbadas e recebam atributos artificiais, e se conformem com a situação, há uma imensa distância. Por isso eu gostei muito daquela propaganda na TV que propõe às pessoas uma reflexão, perguntando: “Será que não está na hora de você rever seus conceitos?” E faz isso depois de mostrar algumas cenas em que pessoas reagem mal a determinadas situações, como uma mulher branca casada com um negro, um homem mais velho com uma mulher mais nova, ou o contrário. Em um dos episódios, em um hall de entrada de um edifício de luxo, uma madame recomenda a outra mulher, vestida de maneira simples, que suba pelo elevador de serviço, para depois descobrir que se trata da nova moradora que acabara de comprar o apartamento de cobertura. Realmente, está na hora de rever os conceitos, porque, quando eles são formatados por antecipação, são, na verdade, preconceitos.

    Cópias são chatas

    Voltando a falar de arte, vamos concordar, as cópias são chatas e têm menos valor. Eu, que gosto muito de arte, vivo às voltas com essa realidade. Em minha primeira viagem a São Paulo, ainda adolescente, visitei o Masp e me apaixonei pela obra de Modigliani. Aqueles pescoços longos exerceram sobre mim um fascínio sensorial e sensual. Em minha ilusão quase infantil, prometi que ainda teria uma obra do pintor italiano de vida breve e desregrada. E cumpri minha promessa. Anos depois, comprei uma gravura dele na loja do museu Thyssen-Bornemisza, em Madri. E hoje, onde está a gravura? Confesso que não tenho a menor idéia. Quando voltei com ela para casa, meu entusiasmo em emoldurar e pendurar a cópia rapidamente arrefeceu, pois ela era apenas isso, uma cópia, uma reprodução barata, ainda que muito bem feita.

    Respeito as cópias, mas prefiro os originais. Com relação às pessoas, também tenho esse sentimento. Prefiro as originais. Dispenso as cópias, os clichês, os estereótipos. Adoro personalidade, força de opinião, caráter. E digo isso não porque é politicamente correto apoiar a força da personalidade – isso seria um estereótipo –, mas porque pessoas singulares sempre são mais interessantes, atrativas; provocam polêmica, discussão, pensamento. Os estereotipados são chatos, comportam-se como gado obediente, parece que não têm opinião.

    Estou sendo cruel?

    Possivelmente, mas, acredite, essa crueldade também recai sobre mim, pois com freqüência sinto que eu também obedeço a alguns estereótipos, traços culturais fortes que, quando confrontados, acabam por provocar algum desconforto. Por exemplo, não sou fanático por futebol, mas às vezes me vejo discutindo lances e estratégias em um grupo de torcedores. Por quê? Ora, simplesmente para ter assunto, para rir um pouco, para exercitar minha memória (foi o Carlos Alberto que fez o último gol na Copa de 70, na vitória de 4 x 1 sobre a Itália) e minha capacidade argumentativa (na seleção do Telê faltaram pontas e na do Parreira faltou espírito de equipe) e, sei lá, para me sentir participante. Por tudo isso, mas não pelo estereótipo de que homens têm que gostar de futebol e que as mulheres nunca vão entender isso. Sem chance de ser visto no Maracanã com a camisa de um time, de calça arregaçada até o joelho e radinho de pilha no ouvido.

    No ótimo filme Encontrando Forrester há uma discussão velada sobre os estereótipos sociais e o esforço que as pessoas fazem para ser aceitas pelo grupo. Trata da relação entre dois indivíduos antagônicos, um estudante secundarista, negro e pobre, e um excêntrico gênio da literatura. No decorrer da trama, o jovem talento emergente Jamal Wallace é ajudado pelo escritor William Forrester a encontrar seu caminho na literatura, ao mesmo tempo que ajuda o escritor a se libertar de sua condição de ermitão esquisito.

    Mas há a trama paralela, que descreve a relação do jovem do Bronx com sua comunidade. Ele é um prodígio, mas esconde sua condição para não ser rejeitado. Seu desempenho escolar é acima da média, mas ele erra propositalmente algumas questões das provas, para não ser considerado “diferente”, e trata de se impor pelo esporte, o que lhe dá mais status em um ambiente em que vale a força física.

    Ele nega sua condição e aceita o estereótipo do grupo para poder sobreviver. Mas, claro, no fim prevalece sua essência, com ajuda de seu mentor intelectual, que o salva de si mesmo e lhe abre a perspectiva de uma vida mais rica de realizações. O discurso do escritor na reunião da escola vale o filme. O problema das classes sociais, os estereótipos culturais e raciais estão presentes com muita força, ainda que o roteiro dirija a trama para outro foco. Uma história fascinante, que mistura literatura, preconceito, relações humanas e o encontro de pessoas com seus destinos.

    Falando em destino, Fernando Pessoa, que interpretou a alma humana como poucos poetas, recomenda: “Para ser grande, sê inteiro/ Nada teu exagera ou exclui/ Sê tudo em cada coisa/ Põe quanto és/ No mínimo que fazes”. Parece até que ele está nos lembrando que o que interessa mesmo é o que real mente somos, e não o que os outros querem que sejamos, colocando, em nosso corpo, marcas que às vezes grudam em nossa alma.

    Estereotipados são chatos, comportam-se como gado obediente, não têm opinião.

    Fonte: Revista Vida Simples - Edição Nov 2008

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