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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Filosofia: uma busca primordial, por José Igídio dos Santos


     Quantos de nós já nos inquietamos com a questão: Por que estudar filosofia?! Buscar uma resposta satisfatória a esta indagação é um desafio para a uma sociedade imediatista e consumista como a nossa, pois existe um descaso pelo pensar filosófico, mas via de regra a filosofia serve-se aos mais conscientes para encarar a realidade com inquietude e insatisfação, face aos desvios éticos, políticos, culturais a que estamos submetidos. No contexto hodierno é temerário atuar no mundo da sabedoria, questionando proposituras e posturas que expulsem o imediatismo e instaure a civilidade e a capacidade de conviver entre os saberes que questiona “o saber instituído”.

     O filósofo conforme já anunciava Pitágoras não é um “atleta intelectual”, o seu compromisso é com o desenvolvimento do pensamento reflexivo em vista dos diversos contextos para nos ajudar a compreender os múltiplos aspectos da realidade da vida humana, social, política, econômica, cultural, icônica, tecnológica, antropológica, só para citar alguns nichos...

     Ser filósofo profissional na atual sociedade não serve para quem deseja ganhar altos salários, embora fosse um mérito, se acontecesse. Na verdade, todos os educadores que se dedicam ao ensino são pouco valorizados e respeitados, o que não ocorre entre os políticos e diversos profissionais liberais que são muito bem remunerados, mas nenhum deles conseguiu seu espaço sem o auxílio pedagógico de educadores.

    As instituições Particulares e algumas Estaduais no Ensino Médio imperam uma metodologia bancária focada no vestibular e não nas habilidades e competências que possibilitem aos educandos enfrentar as (in)certezas do momento presente. Com raras exceções, desde muito tempo a maioria das famílias vem “desistindo dos filhos”, pois ao matriculá-los numa escola pública ou particular “muitas vezes” se esquecem de educá-lo para os princípios fundamentais da convivência humana e isto é detectado no dia-a-dia escolar, vemos a incapacidade dos alunos de dialogar com respeito a si e aos outros, intolerância ao silêncio, inquietude eletrônica, uso do celular para torpedos dentro da sala de aula e ainda audição de músicas. Este procedimento coloca em xeque a prática pedagógica do educador que procura usar novas metodologias capazes de ajudar à formação humana, moral e cidadã do educando.

     Por estes fatos constatamos a falência da educação de base, muitos pais desistiram de seus filhos e os entregaram às instituições escolares se eximindo da cotidianidade, do acompanhamento formativo de princípios e valores. Realmente o que existe na sociedade brasileira é ainda uma educação que reforça as desigualdades sociais, classificando e excluindo. Existem muitas mudanças em processo na área educacional, mas não é possível vermos resultados imediatos, pois o professor vive parte de sua vida em ambiente de trabalho estressante, competitivo e muitas vezes a sua função primordial é desviada para os cuidados aos princípios educacionais que os pais ou responsáveis deixam de cumprir pela incapacidade de impor limites aos seus rebentos e educá-los para os princípios básicos da convivência entre os humanos: respeito, compreensão, polidez, doação, partilha.

     Para que haja uma nova perspectiva no Ensino Brasileiro há que se investir mais em Ensino Público de qualidade para todas as classes sociais dando o espaço adquirido por meio de lutas históricas para disciplinas humanistas como Filosofia, Sociologia e Psicologia. Nosso questionamento é o seguinte: Por que a Secretaria da Educação de São Paulo não cumpriu a Resolução de Nº. 04 de 16 de Agosto de 2006 do CNE, que tornaram os conteúdos de Filosofia e Sociologia obrigatórios em 2007 e que neste ano 2008 foram excluídos das 3ªs. séries do Ensino Médio da Rede Estadual? O que nós profissionais da educação formados em Filosofia e Sociologia não gostaríamos que acontecesse é a rendição do Governo as exigências de muitos colégios particulares que não querem contratar os profissionais que há mais de 40 anos estão excluídos do mercado de trabalho.

     Infelizmente existe uma acomodação intelectual e deixamos de pensar de forma múltipla o contexto vital de nossa existência e é justamente aqui neste âmbito que se faz necessária a emergência do filosofar, pois a vida humana pede socorro e nós estamos insensíveis ao eco da vida que emana das diversas faces da realidade. Como sabemos pela história: é filosofia a mãe de todas as ciências e percebemos que muitas ciências parecem prescindirem da filosofia e por conta desta postura instaurar novas ditaduras no conhecimento, supervalorizando mais exatas e biológicas à letras, pensamento sistemático e raciocínio filosófico. Na vida real é assim: toda mãe aguarda a volta do rebento de seu ventre e para isso dá lugar à sua sapiência em busca de uma nova relação de amor pela sabedoria questionadora do real. Este processo poderá ampliar a capacidade do sujeito cognoscente que busca o desenvolvimento do espírito crítico em face da realidade superando a forma pacata de aceitação do real, buscando assim o exercício da autonomia por meio da consciência de que muitas situações reais poderiam ser diferentes se não houvesse conivência humana e que poderíamos ter agido de forma diversa da costumeira.

     Vamos instaurar a realidade do pensamento filosófico como caminho para a sabedoria, para isso deixemos os filósofos e sociólogos trabalharem na mensuração da realidade, todas as disciplinas ganharão mais eficácia na realidade concreta e principalmente no aspecto humano e social.

José Igídio dos Santos,
Licenciado em Filosofia,
Bacharel em Teologia, Professor Universitário na FAECA de
Monte Aprazível e no Ensino Médio na Rede Estadual.
Endereço eletrônico: jigidio@itelefonica.com.br

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Pensantes mentes brilhantes


“O fatalismo não engessa as pessoas. Cada um de nós é responsável e resultado das suas escolhas. Mas as escolhas que valem não são as de ontem. São aquelas que fazemos hoje. A cada dia escolhemos o que queremos ser. Quase sempre, por comodismo, escolhemos continuar do jeito que somos”. (Frei Aldo Colombo)

Pensar é uma atitude a ser provocada, sobretudo aos mais jovens. Somos herdeiros de uma grande conquista que é a liberdade de expressão, mas esta deve ser ampliada por um pensar denso, crítico e capaz de construir novas referências para a vida, a cidadania e a democracia no mundo. Tarefa de quem? Dos professores e mestres, que tem por objetivo em seu trabalho o desenvolvimento de mentes humanas.

O ambiente escolar é, por excelência, um lugar que nos permite instigar os adolescentes e jovens a descobrirem-se seres pensantes. E esta descoberta ou re-descoberta, feita por eles, é contagiante e desencadeadora de processos que determinam a sua condição de sujeitos. Sim, porque descobrem: “eu posso e devo pensar”. Pensar me dá a condição de ser alguém, porque quando penso tenho algo a dizer aos outros. Desejo comunicar aquilo que sou e aquilo que penso e então digo: “me ouçam”, “eu estou aí”. “Sou protagonista; detesto ser pensado pelos outros”.

O conhecimento, em permanente construção, requer da gente atitudes de aprendentes. Conhecer não é saber tudo, mas é colocar-se aberto às possibilidades de aprendizagem que a vida e o mundo nos oferece. A verdade é uma constante busca, não uma posse de um ou de outro. Todos somos capazes de apreender e conhecer a verdade, mas muitos preferem viver a mediocridade. Como disse Frederick Crane, "a mediocridade refugia-se na padronização”. É que todo conhecimento aprendido gera compromissos e responsabilidades. E depois de saber, não posso argumentar que não sabia, não posso dizer que determinadas informações me eram desconhecidas. Sabendo, convivo com as responsabilidades do saber que adquiri.

Quanto mais conheço sobre mim mesmo, sobre a vida e sobre a realidade, maiores as condições de reconhecer-me como um sujeito. Como um ser de projeto, estou em permanente construção. Minhas escolhas contribuem para determinar quem eu sou, por isso devo estar atento para que estas estejam em sintonia com aquilo que defini ser o meu projeto de vida. Ou, talvez, as escolhas que eu venha fazendo possam estar indicando aquilo que desejo para mim. Sim, porque nunca é bom ser sem rumo.

O isolamento social, por sua vez, traz sérias conseqüências para a construção do saber. O conhecimento é enriquecido nas trocas e no encontro com os outros. O encontro com os outros é a possibilidade do encontro de distintos saberes. É no diálogo que enriquecemos os nossos conhecimentos. É no cara-a-cara, no face-a-face que melhor confrontamos as diferentes interpretações sobre a vida e sobre os fatos. Nada substitui os relacionamentos interpessoais, sempre carregados de sentidos e dimensões fundamentais para a compreensão da vida e da realidade.

Todos nascemos potencialmente capazes de pensar e brilhar. Por conta de nossas idéias, nos fazemos sujeitos de nossa história. Como diz o poeta russo Aleksander Puchkin, “... escolhe um caminho livre. E segue por onde levar tua mente livre; aperfeiçoa os frutos das idéias que te são caras, sem nada esperar por teus nobres feitos. Em ti estão todas as recompensas. De ti és o juiz supremo. Ninguém, com mais rigor, julgará tua obra. Judicioso artista, isto te apraz?”.


Nei Alberto Pies,
professor e militante de direitos humanos.
Endereço eletrônico: pies.neialberto@gmail.com

domingo, 6 de setembro de 2009

Filosofar é perguntar sobre a vida

Entrevista publicada na edução nº 364. março de 2006.
Jornal Mundo Jovem

Thomas Kesselring    
  A realidade social, especialmente a realidade do Terceiro Mundo, é tema de estudo para muitos pensadores do mundo todo. A Filosofia não fica alheia a este debate. O professor e filósofo, Thomas Kesselring, de Berna, Suíça, preocupa-se e reflete nas suas publicações a realidade brasileira desde a década de 1980. Entrevistamos o professor Thomas na PUCRS.

Thomas Kesselring,
professor e filósofo, de Berna, Suíça.


Mundo Jovem: É possível juvenilizar a Filosofia para que seja acessada por um maior número de jovens?

Thomas: Com certeza é possível, pelo simples fato de que para fazer filosofia, em primeiro lugar, é necessário ser curioso. Ter uma certa perserverança na pesquisa das coisas.

     O que é a Filosofia? A Filosofia é colocar perguntas... de uma maneira meio sistemática as perguntas sobre qualquer coisa, inclusive sobre coisas que parecem ser naturais; entender-se a si mesmo. Na Ciência, as grandes descobertas, na maioria das vezes, foram feitas por jovens pesquisadores.

     Quando Einstein desenvolveu a Teoria da Relatividade ele era muito novo. Os pesquisadores jovens que não conhecem ainda as regras, as disciplinas que não podem ser questionadas, eles fazem as grandes descobertas.

     Os jovens e as crianças que ainda não perderam a curiosidade estão aptos à Filosofia. A idade da juventude é a idade da Filosofia mesmo. Mas é preciso exercitar isso com os professores nas aulas. Normalmente o professor se acostuma a ter razão, a colocar perguntas e pedir aos alunos que apenas respondam, que não coloquem perguntas. Eles não estabelecem um diálogo, nem entre eles e a criança e nem entre as crianças mesmas. E justamente isto deveria ser feito: um diálogo guiado, supervisionado pelo professor.


Mundo Jovem: Seria este um método?

Thomas: Sim, um método que parte do princípio de que não há essa relação assimétrica entre o adulto que já sabe tudo e a criança que não sabe nada ainda.

     Nas questões filosóficas nós estamos todos num nível igual. E muitas vezes os professores esquecem-se disto. Eles não sabem tudo. Até a criança pode saber colocar perguntas boas, geniais; pode descobrir novos fatos.

     É claro que o método sistemático é algo difícil para a criança, mas com o adolescente a gente já pode exercitar isso. Abordar mais sistematicamente questões, estudar fenômenos naturais, sociais... Colocar questões e tentar respondê-las de uma forma sistemática.


Mundo Jovem: Diante dos problemas do dia-a-dia, não teria a Filosofia que apontar algum caminho?

Thomas: Sim e não. Na vida prática, na vida cotidiana, às vezes precisamos tomar decisões rápidas, sem perder muito tempo com reflexões e questionamentos. Mas em momentos mais silenciosos, vale a pena fazer reflexões mais profundas.

     Em muitos casos, quando uma pessoa ou uma sociedade entra numa crise, numa fase decisória, numa situação de decisão, esta crise estimula a reflexão. E a reflexão é necessária e deveria acompanhar o cotidiano sempre que possível.

     Nas épocas de correria, não se tem muito tempo para fazer reflexões e costumamos esquecer de refletir na ação rápida de tomada de decisão. Mas quem se acostuma a filosofar não tem mais este problema. De repente, quando se está aguardando numa fila, fazendo uma viagem de ônibus, aí temos tempo para tentar fazer uma reflexão mais sistemática, com mais calma, com mais tempo.


Mundo Jovem: Diante da crise política brasileira, é o momento para um filósofo, intelectual, dar a sua contribuição no sentido de apontar alguma saída?

Thomas: Você agora colocou uma questão muito difícil. Eu quase não ouso falar sobre isso. Não sou brasileiro. Acompanhei um pouco. Eu acho que é um momento de muita decepção. É um momento que se vê que tem razão quem diz que o Estado tem suas falhas. A elite política, qualquer que ela seja, sempre corre o risco de se tornar corrupta.

     Talvez isso tenha a ver com o passado do Brasil, que a corrupção era muito comum durante décadas, gerações, como também ela ocorre em outros países da Europa e Estados Unidos, talvez em índices um pouco menores.

     Agora, como acabar com isso é uma questão meio complexa. A formação, a pedagogia, tem talvez alguma coisa a ver com isso. Seria necessário criar uma atitude nas pessoas que impedisse essa possibilidade. Mas eu não conheço nenhum país que tenha um currículo que prepare as pessoas para isso, para lidar com o poder, com o dinheiro. O dinheiro e o poder corrompem.

     Espero que o processo democrático brasileiro tenha se tornado um hábito hoje em dia. Acho que nesta área houve um grande avanço nesse país, enquanto que em outros países, como os Estados Unidos, tenho a impressão de que a democracia está cada vez mais se despedindo. Eles estão se tornando cada vez mais uma oligarquia. Por outro lado, os momentos de graves crises são momentos para muita reflexão. A reflexão começa com essas crises, com esses choques, quando alguma coisa dói, ou se ocorre algum evento inesperado.


Mundo Jovem: Olhando para o mundo, que temas filosóficos, éticos, são mais urgentes para a juventude se preocupar?

Thomas: Acho que a questão, por exemplo, da violência é um tema forte.

     Na última década a violência aumentou bastante no Brasil. Na Europa estou percebendo que ela também está aumentando. São formas diferentes, mas nós temos muitos jovens extremamente violentos. De repente, uma gangue de jovens tem uma vontade de torturar alguém... Da forma que eu vejo as coisas, penso que isto tem alguma coisa a ver com a educação das emoções. Os jovens têm cada vez menos empatia com outras pessoas, não exercitam se pôr na pele de outra pessoa, comunicar-se emocionalmente. Isso, aliás, é um tema que a filosofia negligenciou durante décadas. Hoje está se descobrindo novamente.

     Eu acho que nas escolas o cuidado com as emoções, com a reflexão sobre as emoções, falar sobre elas, falar sobre as conseqüências de determinadas condutas para outras pessoas, isso tem que ser bastante promovido e me parece ser uma medida urgente para diminuir a violência.

     Um outro assunto bem diferente é a miséria; as questões ecológicas, o que causa o efeito estufa, do clima que hoje em dia ninguém ousa negar que ocorre uma mudança climática dramática. Inclusive aqui, no Brasil, alternativas que tornam o país cada vez mais independente do petróleo, são muito importantes.

     Em meu país, o uso de bicicletas desempenha um grande papel. Também na China, a bicicleta tem essa função de meio de transporte que preserva a natureza. Vale a pena incentivar todas as tecnologias que economizam energia.

     A humanidade precisa economizar mais os recursos, pois daqui a 30, 40 anos, o planeta terá nove bilhões de seres humanos e a escassez será muito mais avançada, então é preciso se preparar para isso, vivendo com um consumo menor.


Mundo Jovem: E a justiça também é um tema filosófico?

Thomas: A justiça trata daquilo que se pode ou não pode, ou não se deve fazer. E a justiça também tem a ver com a distribuição dos deveres e dos direitos, a distribuição dos recursos naturais, a distribuição da renda e da riqueza. Penso que os direitos humanos desempenham um grande papel nesta área. O que são os direitos humanos? São direitos que protegem determinadas liberdades da pessoa: o direito à saúde, à educação básica...

     Se já temos uma desigualdade na distribuição dos bens materiais e dos recursos, então é mais importante ainda evitar que os não privilegiados sofram mais desvantagens ainda. Para isso, a manutenção dos direitos humanos é indispensável. Esses devem ser intocáveis. Eu percebo que uma repartição altamente desigual, como ocorre no Brasil, na África do Sul, gera muita criminalidade, como se uma ordem social cínica gerasse um cinismo generalizado. A violência parece ser uma reação cínica a uma ordem social cínica, ou seja, uma violência estrutural gera uma violência prática.



Em busca dos mistérios
e do sentido da vida


     Existir, por si só, é algo misterioso... Afinal, quem somos nós? Qual o sentido das nossas vidas? O que significa dizer que somos livres? E até que ponto podemos conhecer a realidade? Eis, aqui, a nossa própria existência em questão. Pois tais interrogações, dentre tantas outras, incidem sobre a compreensão que possamos ter das nossas vidas, como das nossas relações com os outros, e afetam a nossa visão do mundo, se paramos para pensar...

     Faz perguntas quem questiona a pretensa obviedade das coisas. Para tanto, precisamos saber que não sabemos algo. E isso nos põe em condições de aprender. Pois o “óbvio” não será apenas aquilo em que paramos de pensar, ou repetimos sem pensar?

     Por isso, dentre outras razões, o filósofo é amigo da sabedoria. E aquele que é amigo, que ama a sabedoria, sabe que a cada encontro de uma idéia surge um novo ponto de partida, e que ela não está nunca acabada. A Filosofia, desde as suas origens, na Grécia Antiga, requer uma mutação do olhar e de nossas relações com a vida e com o conhecimento. Nesse caso, será preciso exercitar um certo estranhamento frente à realidade, desde as coisas mais simples ou aparentemente já sabidas. Há, aqui, uma atitude, onde o pensar é desafiado a ir além de si mesmo. Ante essa atitude, que assume a própria perplexidade e admiração como ponto de partida, a Filosofia é um convite ao diálogo.

     Dialogar envolve um aprendizado de escuta do outro e, dada essa condição, a cooperação em uma construção conjunta do conhecimento. Em um diálogo não disputamos idéias, mas, em solidariedade investigativa, acompanhamos o raciocínio do nosso interlocutor, testando hipóteses, observando contradições, construindo novas formas de ver e de abordar um tema, conhecendo o nosso próprio processo de conhecer. Mais que isso, dialogar é ouvir também o silêncio das vivências que impregnam as idéias e as interrogações do outro, para que possamos partilhar um caminho.

     O filosofar tece, assim, a forma como cada um de nós se relaciona com a sua existência e com o seu crescimento. Surge assim um convite a pensar naquilo que é, ainda, não-pensado, a ir ao encontro dos nossos próprios limites, condição de sua superação. Esse convite em direção ao alargamento de nossos horizontes de sentido põe em jogo as nossas relações com os outros, com nós mesmos, com o meio ambiente e com o conhecimento. O caminho, porém, é duplo, e um trabalho interior interage com as relações educativas que mantemos com os demais. Pois a jornada de nossas vidas, a fazemos simultaneamente sós e acompanhados, quando conjugamos a aventura de ser eu com essa outra, a de sermos também nós, na gradativa descoberta e invenção do sentido de nossa condição humana.

     Se nos dispomos a buscar o sentido de nossas vidas, não deveremos tocar, de algum modo, em seus mistérios? E isso não poderá tornar a vida ainda mais interessante?

Sérgio A. Sardi,
Professor do Departamento de Filosofia da PUCRS.
Doutor em Filosofia pela Unicamp, SP.
Endereço eletrônico: sergioasardi@uol.com.br

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