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terça-feira, 18 de agosto de 2009

O homem pensante X o homem desejante

De um lado, a filosofia busca explicar o homem pela razão, pela cognição e pela consciência. De outro, a psicanálise resgata o sujeito do desejo, da irracionalidade e do inconsciente.

por José Valmir Dantas de Andrade

Um motorista grita, xinga e se irrita com o trânsito. Um passageiro tem uma crise de pânico quando o avião levanta voo. O marido mata a mulher em um acesso de ciúme. Um expectador chora compulsivamente durante o espetáculo musical. A irritação domina o motorista. A crise de pânico domina o passageiro. O ciúme domina o marido. O choro domina o expectador. Esta força "dominadora e incontrolável" que impulsiona ações, sensações, comportamentos e sintomas e que toma de assalto a humanidade, cotidianamente, possui um determinismo para além de qualquer racionalização possível.

Foi investigando essa força que, no alvorecer do século XX, Sigmund Freud chocou o mundo ao declarar que o homem não era senhor de sua própria consciência. Se formos pesquisar as origens do conceito de inconsciente, veremos que ele é muito anterior à psicanálise. Filósofos e teóricos de diversas procedências há muito já o haviam descrito. Mas foi Freud que forjou "O Inconsciente" com I maiúsculo e deu a ele lugar específico e privilegiado no psiquismo humano, por meio de uma concepção sistemática.

Filósofos o descreveram. Freud mergulhou nele. A partir do estudo das repressões patogênicas e de outras manifestações psíquicas, a psicanálise foi vasculhar, a partir da escuta clínica, os meandros do que Freud chamou inicialmente de um "mental inconsciente". De acordo com ele, os sintomas neuróticos não estavam diretamente relacionados com fatos reais, mas com fantasias impregnadas de desejos. "No tocante à neurose, a realidade psíquica é de maior importância que a realidade material", afirma ele em seu "Um Estudo Autobiográfico", de 1925.

BASES DISTINTAS

Antes, porém, Schopenhauer já havia defendido a supremacia do instinto sobre a razão humana. O filósofo desenvolveu o conceito com base em reflexões e formulações teóricas; Freud, a partir da observação empírica de seus pacientes. Ambos estudaram a mesma subjetividade humana, mas a partir de diferentes premissas e perspectivas. Em várias passagens da obra de Freud é possível identificar o que seria o legado de grandes pensadores que parecem ter deixado uma herança intelectual à sua teoria, apesar de ele próprio, em muitos momentos, negar tal influência.

Santo Agostinho acreditava na existência de uma vontade interior que contradiz a si mesma. Platão citava Eros e defendia a existência de um conhecimento que provém da imaginação e dos sonhos. A partir do final do século XIX, Sigmund Freud começa a construir o seu pensamento por meio de premissas como o inconsciente, a sexualidade e a interpretação dos sonhos. O diálogo entre filosofia e psicanálise parece inegável. E, realmente, há vários momentos em que as duas ciências parecem muito próximas. Mas também há pontos de inevitável distanciamento.

Ainda em seu Estudo Autobiográfico, Freud procura esclarecer que o pensamento filosófico não teria tido influência direta na formulação da teoria psicanalítica. "O alto grau em que a psicanálise coincide com a filosofia de Schopenhauer não deve ser remetido à minha familiaridade com seus ensinamentos. Li Schopenhauer muito tarde em minha vida", afirma, destacando que as neuroses foram o primeiro e, por muito tempo, constituíram o único ponto de seu interesse.

Em suas últimas obras, Freud fez diversas referências à ênfase que Schopenhauer dava à sexualidade, apesar de não nominá-lo diretamente. Em "O Mundo como Vontade e Representação", o filósofo alemão debate o caráter da paixão sexual que, segundo ele, é o ponto central da vontade de viver e, consequentemente, a concentração de todo desejo. "Ela é a causa da guerra e o fim da paz, a base do que é sério e o alvo da zombaria, a inexaurível fonte do espírito, a chave para todas as alusões e o significado de todas as insinuações misteriosas (....) e somente essa tendência perpetua e mantém unida toda a existência fenomênica", diz Schopenhauer no capítulo XLII de" A Vida da Espécie". Ele foi o primeiro filósofo a defender que a irracionalidade preponderaria sobre a razão e a inteligência humanas.

A dimensão que o alemão dá à importância do impulso sexual para a vida do homem encontra paralelo na teoria de Freud, já que aquilo que o pai da psicanálise chamou de sexualidade também está longe de se resumir à união sexual ou ao prazer genital. Freud procurou demonstrar em seus estudos que os componentes sexuais, passíveis de ser desviados para outros interesses, efetuam as contribuições mais importantes às realizações culturais do indivíduo e da sociedade. Aí há também muita semelhança com Eros, do Banquete de Platão.

Quanto a Nietzsche - que parece ter sido o filósofo que mais contribuiu para a construção da teoria psicanalítica, no que se refere às questões relacionadas ao inconsciente e às forças (pulsões) que movem o ser humano - Freud declara tê-lo evitado durante muito tempo a fim de manter a mente "desimpedida". No entanto, dizia que ele foi o filósofo cujas conjecturas e intuições concordam, da forma mais surpreendente, com os laboriosos achados da psicanálise. Afirma, também, ter seguido o pensador alemão Gustav Theodor Fechner (1801-1887) em muitos pontos importantes. Ele teria influenciado Freud no desenvolvimento do princípio da constância e na fundamentação do conceito de topografia mental.

SUBJETIVIDADE HUMANA

Nenhum homem, por mais genial que seja, desenvolve seu pensamento à margem do saber coletivo. Todo salto criativo e original vem necessariamente alavancado, em alguma medida, pelo legado histórico do conhecimento humano, cumulativo e em contínua expansão. Com Freud, certamente não foi diferente. Antes dele, filósofos, pensadores, escritores e poetas intuíram e desenvolveram ideias para conceitos que o pai da psicanálise interpretou com genialidade visionária e abordou sob perspectivas inéditas.

O sofrimento humano, o inconsciente, a sexualidade, as pulsões. Todos já haviam sido tema de preocupação e de investigação filosófica. Mas foi Freud que cruzou a fronteira do que poderíamos chamar de "uma forma de pensar o sofrimento" para "uma forma de tratar o sofrimento". Os filósofos se limitaram a formular conceitos. Freud criou um método terapêutico que mistura ciência, medicina e filosofia. É com base nessa simbiose entre método científico, prática clínica e pensamento filosófico que a psicanálise aventura-se pelos labirintos da mente a fim de decifrá-la. Freud dedicou sua vida à ciência que pretendia, por meio da interpretação da subjetividade humana, aliviar o sofrimento psíquico do homem e descortinar aquilo que de mais obscuro lhe habita a alma.

Apesar de negar a influência de determinados pensadores sobre sua obra, em muitos momentos fica clara a ascendência que alguns filósofos tiveram sobre seu pensamento, como Emmanuel Kant. As ideias do pensador alemão teriam contribuído para a construção da metapsicologia freudiana. Mesmo em aspectos não referidos diretamente, teve um papel de muita importância, principalmente no que se refere a uma subjetividade que se constitui por meio de um movimento interno e que faz com que o sujeito seja sempre um fenômeno, uma aparência para si mesmo, de modo que aquilo que o constitui em sua base sempre ficará desconhecido em algum grau.

ENCONTRO

Outra influência filosófica ao pensamento freudiano vem da fenomenologia hegeliana, que compreende a subjetividade a partir de diversas figuras que se sucedem dialeticamente. A verdade não seria um dado, mas o resultado de um processo dialético, conceito próximo à hipótese do determinismo psíquico de Freud. Para a psicanálise freudiana, os fatos e ocorrências da infância são determinantes para a formação do sujeito e seguem, no decorrer da vida, uma trajetória de ressignificações que avança dentro de uma lógica psíquica.

Porém esta jornada da humanidade pelo entendimento acerca de si próprio remonta os séculos. No distante ano de 650 a.C., a inscrição na entrada do Oráculo de Delfos - "Conhece-te a ti mesmo" - já anunciava a aventura a ser empreendida pelo homem em intrincados e complexos caminhos: a busca por si próprio. Não é possível afirmar que Freud, assim como fez o filósofo Sócrates, tenha ido buscar aí inspiração para sua obra. Mas não se pode negar a afinidade entre o que pregava o famoso templo grego e o que buscava o homem que "descobriu" o inconsciente. Mas nem só da fonte da filosofia bebeu Freud. A literatura - arte que, segundo a psicanálise, mais traduziria o inconsciente - foi também, sem dúvida, uma grande inspiração.

Para desenvolver um dos mais conhecidos conceitos psicanalíticos - o Complexo de Édipo - Freud foi buscar elementos no ano 496 a. C., quando o famoso dramaturgo grego Sófocles escreveu uma de suas mais famosas tragédias. Nela, Édipo mata o pai para casar-se com a própria mãe. Ao longo de seus estudos sobre o inconsciente e com base em observações clínicas, Freud transpõe a ficção e traz para a realidade uma nova forma de explicar o homem, seus desejos e as repressões que estariam no cerne das neuroses.

MERO COADJUVANTE

Com base em duas hipóteses fundamentais: a existência do inconsciente e o determinismo psíquico, a psicanálise tirou do homem o centro de sua consciência e colocou- o como coadjuvante de uma cena em que o irracional (desejo) prepondera. Por meio da observação e dos estudos a partir da experiência com centenas de pacientes, Freud falou da existência de um "estranho" que habita em todos nós. A partir desse momento, o inconsciente deixa de ser somente uma pequena porção indecifrável da consciência, deixa de ser uma descrição filosófica e assume o comando de uma realidade psíquica em que o homem não é mais dono de si mesmo. A clínica freudiana - investigação empírica, situada no campo da ciência e com a qual a filosofia não tem nenhum compromisso ultrapassa os conceitos teóricos e se aventura a sondar os obscuros labirintos da mente humana.

Assim, a "invenção" da psicanálise, ao mesmo tempo em que revela traços de uma ascendência filosófica inescapável, por outro representa um salto conceitual e científico de proporções revolucionárias. O homem que pensa e o homem que deseja se encontram e se despedem na curva da subjetividade humana.

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Princípio da constância Esse princípio foi formulado por Freud e baseia-se na hipótese de que o aparelho psíquico se esforça para manter constantes seus níveis de excitação, a fim de se livrar da tensão desagradável, preservando o prazer. A teoria se assemelha à "tendência no sentido da estabilidade", princípio defendido por Fechner em relação aos sentimentos de prazer e desprazer.

Topografia mental A topografia mental de Freud descreve os sistemas constituintes da mente. Em 1923, em sua "Segunda Tópica", ele propôs a Teoria Estrutural, segundo a qual o sistema psíquico seria composto por três instâncias distintas: Id, Ego e Superego.

Oráculo de Delfos Situado na Grécia, no que foi a antiga cidade chamada Delfos, o Oráculo de Delfos era dedicado a Apolo e centrado em um grande templo, ao qual se dirigiam os antigos gregos para levar suas questões aos deuses.

Fonte: http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/19/artigo147851-2.asp

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Santo Agostinho - O idealizador da revelação divina

Sábio cristão afirmava que o homem só tem acesso ao conhecimento quando iluminado por Deus

Márcio Ferrari (novaescola@atleitor.com.br)

Foto: North Carolina Museum of Art/Corbis /Stock Photos
Foto: North Carolina Museum of Art/Corbis /Stock Photos

Embora tenha vivido nos últimos anos da Idade Antiga – que se encerrou com a queda do Império Romano, no ano de 476 –, Santo Agostinho (354-430) foi o mais influente pensador ocidental dos primeiros séculos da Idade Média (476-1453). A ele se deveu a criação de uma filosofia que, pela primeira vez, deu suporte racional ao cristianismo. Com o pensamento de Santo Agostinho, a crença ganhou substância doutrinária para orientar a educação, numa época em que a cultura helenística (baseada no pensamento grego) havia entrado em decadência e a nova religião conquistava cada vez mais seguidores, mesmo se fundamentando quase que exclusivamente na fé e na difusão espontânea. Outros pensadores já haviam se dedicado à revisão da cultura clássica (greco-romana) para adaptá-la aos novos tempos. Havia nisso algo de estratégico, já que o paganismo ainda continuava vivo na Europa e em regiões vizinhas. Era uma forma de mostrar aos indecisos que a conversão ao cristianismo não seria incompatível com maneiras de viver e de pensar a que estavam acostumados. Entre os pensadores gregos, o que mais se prestava à construção de uma filosofia cristã era Platão (427-347 a.C.), e a escola de pensamento hegemônica nos primeiros séculos da Idade Média ficou conhecida como neoplatonismo.

Biografia

Aurelius Augustinus, que passaria para a história como Santo Agostinho, nasceu em 354, em Tagaste (hoje na Argélia), sob o domínio romano. Embora sua mãe fosse cristã, Agostinho não se interessou por religião quando jovem. Sentia-se atraído pela filosofia romana. Antes dos 20 anos já tinha um filho, de uma relação não formalizada. Em pouco tempo, abriu uma escola na sua cidade natal. Tornou-se professor de retórica, lecionando depois em Cartago, Roma e Milão. Nesta cidade, tomou contato com o neoplatonismo e, aos 32 anos, converteu-se ao cristianismo. De volta a Tagaste, decidido a observar a castidade e a austeridade, vendeu as propriedades que herdara dos pais e fundou uma comunidade monástica, onde pretendia se isolar. Mas, sem que planejasse, foi nomeado sacerdote da igreja de Hipona, função que manteve até a morte, em 430. Suas obras principais são Confissões, Cidade de Deus e Da Trindade.

Ensino e catequese À medida que a Igreja se tornava a instituição mais poderosa do Ocidente, a filosofia de Santo Agostinho definia a cultura de seu tempo. Educação e catequese praticamente se equivaliam – as escolas eram orientadas para a formação de membros do clero, ficando em segundo plano a transmissão dos conteúdos tradicionais. O conhecimento tinha lugar central na filosofia de Santo Agostinho, mas ele se confundia com a fé. Diante disso, a educação daquela época – conhecida como patrística, em referência aos padres que a ministravam – estimulava acima de tudo a obediência aos mestres, a resignação e a humildade diante do desconhecido. O objetivo era treinar o controle das paixões para merecer a salvação numa suposta vida após a morte.

O início da Era Cristã

Conversão de Constantino ao cristianismo em pleno campo de batalha: fé marca nova era. Foto: Bettmann/Corbis /Stock Photos
Conversão de Constantino ao cristianismo em pleno campo de batalha: fé marca nova era. Foto: Bettmann/Corbis /Stock Photos

Santo Agostinho presenciou a decadência do Império Romano. No ano de 312, pouco mais de quatro décadas antes de seu nascimento, o imperador Constantino havia oficializado o cristianismo em toda a região sob seu domínio – que sofria ataques contínuos dos povos bárbaros. Um ano antes da morte de Agostinho, em 430, os vândalos haviam invadido sua região natal, na África. A queda do império romano aconteceria 36 anos depois da morte do filósofo, com a deposição do último monarca pelos germânicos. Os quase mil anos seguintes seriam englobados pelos historiadores no período da Idade Média, que tem entre suas características principais o domínio da Igreja Católica sobre quase todas as atividades humanas. A filosofia de Santo Agostinho domina a primeira fase da Idade Média (mais ou menos até o século 11), marcada por guerras constantes, decadência das cidades, pulverização do poder político e internacionalização da cultura por meio da Igreja. É uma época em que a educação é eminentemente religiosa e a ciência avança pouco e se difunde menos ainda.

Não é por acaso que a obra principal de Santo Agostinho seja Confissões, em que narra a própria conversão ao cristianismo depois de uma vida em pecado. Trata-se de uma trajetória de redefinição de si mesmo à luz de Deus, culminando com a redenção. O livro descreve a busca da salvação, ao mesmo tempo psicológica e filosófica. Tal procura se transformaria numa espécie de paradigma da vida terrena para os cristãos e vigoraria durante séculos como princípio confessional. Toda a reflexão de Santo Agostinho parte da indagação sobre o conhecimento, introduzindo a razão, o pensamento e os sentidos humanos no debate teológico. Segundo o filósofo, os sentidos nunca se enganam e, portanto, o que eles captam é, para o ser humano, a verdade. Dizer que essa verdade constitui a verdade do mundo, no entanto, pode ser um erro. Acesso ao eterno O pensamento não se confunde com o mundo material – ele é simultaneamente a essência do ser humano e a fonte dos erros que podem afastá-lo da verdade. O conhecimento seria a capacidade de concluir verdades imutáveis por meio dos processos mentais. Um exemplo de verdade imutável seriam as regras matemáticas. Como o homem é inconstante e sujeito ao erro, uma verdade imutável não pode provir dele mesmo, mas de Deus, que é a própria perfeição. Assim, o ser humano tem pensamento autônomo e acesso à verdade eterna, mas depende, para isso, de iluminação divina.

Escola com disciplina militar

Missionários jesuítas entre índios americanos: europeus catequizam os nativos. Foto: Bettmann/Corbis /Stock Photos
Missionários jesuítas entre índios americanos: europeus catequizam os nativos. Foto: Bettmann/Corbis /Stock Photos

Se Santo Agostinho foi a primeira grande força intelectual de uma era em que a Igreja de Roma exerceu o poder cultural máximo, a ordem dos jesuítas pode ser considerada a última. A Companhia de Jesus surgiu no início do século 16 na Espanha, criada por um militar, Inácio de Loyola (1491-1556), depois Santo Inácio. Representou, na educação, a linha de frente na guerra da Igreja contra a reforma protestante do alemão Martinho Lutero. Como os agostinianistas, os jesuítas valorizavam a disciplina e a obediência e promoviam o sacrifício da liberdade de pensamento em benefício do temor a Deus. Diferentemente de Santo Agostinho, porém, os jesuítas favoreciam a erudição e o elitismo. Integravam um movimento conservador, derrotado a partir do século 17, com a ascensão do racionalismo, na filosofia, e as revoltas contra o absolutismo, na política. Os jesuítas – criadores de métodos de ensino tradicionalistas mas muito eficientes – têm grande importância na história das colônias européias da América, entre elas o Brasil, porque construíram as primeiras estruturas educativas do continente.

Se o bem vem de Deus, o mal se origina da ausência do bem e só pode ser atribuído ao homem, por conduzir erroneamente as próprias vontades. Se o fizesse de modo correto, chegaria à iluminação. A ausência do bem se deve também a uma quase irresistível inclinação do ser humano para o pecado ao fazer prevalecer os impulsos do corpo, e não a alma. Santo Agostinho tratou o tema da educação mais de perto em duas obras, De Doctrina Christiana e De Magistro, na qual apresenta a doutrina do mestre interior. A idéia é que o professor não ensina sozinho, mas depende também do aluno e, sobretudo, de uma verdade comum aos dois. Simplificando, o professor mostra o caminho e o aluno o adota; assim, o saber brota de seu interior. "A pessoa que ensina não transmite, mas desperta", diz Eliane Marta Teixeira Lopes, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. "Para Santo Agostinho, é desse modo que se conquista a paz da alma, e esse é o objetivo final da educação."

Para pensar

A filosofia de Santo Agostinho está condicionada à fé religiosa e, especificamente, à ética cristã. A educação moderna, no entanto, é laica, mesmo nas escolas administradas por organizações religiosas, porque a cultura ocidental evoluiu para a separação clara entre razão e fé. Mesmo assim, o pensamento agostiniano permite um diálogo interessante com concepções pedagógicas contemporâneas. Você já deve ter ouvido críticas às concepções de ensino segundo as quais o professor apenas transmite conhecimentos para um aluno passivo. Que semelhanças e diferenças percebe entre as correntes atuais que fazem essas críticas e o princípio agostiniano de que o mestre indica o caminho, mas só o aluno constrói (ou não) a informação?

Quer saber mais?

A Psicanálise Escuta a Educação, Eliane Marta Teixeira Lopes, 244 págs., Ed. Autêntica, tel. (31) 3222-6819 (edição esgotada) Os Jesuítas e a Educação, Egidio Schmitz, 254 págs., Ed. Unisinos, tel. (51) 3590-8239 (edição Esgotada) Santo Agostinho, coleção Os Pensadores, 426 págs., Ed. Nova Cultural, tel. (11) 3039-0933 (edição esgotada) Santo Agostinho, Marcos Roberto Nunes Costa, 216 págs., Ed. Edipucrs, tel. (51) 3320-3523 (edição esgotada)
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/idealizador-revelacao-divina-423129.shtml Edição 022 | 10/2008

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