sábado, 27 de fevereiro de 2010

O ser, o tempo e a técnica, por Régis de Oliveira Montenegro barbosa *


Cônscios das facilidades propiciadas pelo avanço tecnológico da sociedade moderna, mas não sem pagar alto preço, assistimos à degradação da humanidade na seara ética. É como na história do sapo que posto no interior de uma panela imerso em água, cujo calor é paulatinamente elevado, nela permanece até que venha a fenecer por não se dar conta do gradual aumento da temperatura. Seduzidos pela técnica, fustigados pela azáfama cotidiana e sob o encantamento produzido pela máquina, estamos embevecidos, com olhos fixos no visor do celular, do computador, do televisor etc. Perdemos, todavia, o que está no entorno, o mistério e a magia da vida.

Portadores de uma consciência que se esgota no grupo, reféns do inconsciente coletivo junguiano, deixamos de atingir uma consciência individualizada. Cultiva-se o que é saliente e visto, não o que está oculto, em afronta ao aforismo de Antoine de Saint-Exupéry de que “o essencial é invisível aos olhos”. Cada vez menos vicejam a poesia, a sensibilidade, o encantamento. Tais posturas anímicas não raro são acoimadas de parvoíce e pusilanimidade. Parece que nem somos suscetíveis a fragilidades naturais como as que são ínsitas à condição humana.

A cultura do livro cedeu espaço à indústria cultural, o que caracteriza a atual sociedade do espetáculo. Adotamos postura estereotipada, forjada pela cultura de massa, a retratar uma mentalidade de rebanho. Frutos de uma sociedade midiática que forja ídolos que se sustentam porque existem idólatras que, com tal atitude, se desconectam de sua força e sabedoria interiores. Vivenciamos uma “sociedade em rede”, sob exortação de nela permanecermos plugados. Instala-se, então, um mundo virtual, artificial, à margem do mundo concreto e natural, a ponto de aquele assumir maior significância.

Tido por um dos críticos da sociedade da técnica, para o filósofo alemão Martin Heidegger esta desviou o homem da indagação pelo sentido do ser, pelo significado mais profundo da existência humana.

Outro efeito colateral é a sensação de aceleração do tempo. Somos “levados de roldão” por uma engrenagem movida pelo combustível do capital, com potencial de desembocar no autofagismo, a ponto de nos tornarmos timoratos de que venha a se cumprir o vaticínio maia de que ocorrerão catástrofes naturais já no vizinho ano de 2012, aptas a provocarem o ocaso da existência humana nas condições conhecidas.

Pena que para comer a polpa da fruta tenhamos que engolir o caroço!


*Juiz de Direito, graduando em Filosofia

Fonte: Jornal Zero Hora
Imagem em: tudoecomentado.blogspot.com/2009_11_01_archiv.. 

Um comentário:

Unknown disse...

Bom dia. Será que alguém tem o e-mail do juiz? Ele proferiu uma sentença em um caso de maus tratos animais há poucos dias e queríamos uma entrevista com ele.

Marcelo
Amigo do Bicho
www.amigodobicho.org
Minas Gerais

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